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sexta-feira, 23 de novembro de 2018

RÍTMOS - TAMBÉM COM RAVEL


Abro o computador. Leio as notícias em diagonal. Vejo o correio electrónico.
O windows dispõe uma página em branco. Resolvo preenche-la. Sem esquemas nem ideias. As palavras vão surgindo ao ritmo da perscrutação de hábitos, rotinas e comportamentos. Sem espaço para fantasias.


O pequeno assento estofado ganhou um inquilino. Vive ali povoado de pensamentos negativos. Sem fome e sem vontade. "Não aguenta mais". Deixou de ter planos e compromissos. Sem energia, não lhe apetece fazer nada.
Tomara que tudo isso fosse apenas uma máscara. Mais cedo ou mais tarde as máscaras caem. Mas não é. Porque amanhã será igual. E depois de amanhã.


Ouve-se um cão a latir (parece que “chora”). Dia após dia.  À noite ladra. E aos fins de semana também (parece sentir-se "protegido").
Os cães ladram quando brincam, cumprimentam, têm medo, querem atacar ou receber atenção; quando estão sozinhos, frustrados, excitados ou ouvem outros cães. Diz-se que ladram por tudo ou por nada.
Comunicam através do latido para informar sobre o seu estado emocional. As características acústicas do latido são consistentes consoante a situação ou o tamanho do animal – agudos, graves, mais ou menos longos.
Geralmente, os que são emitidos em isolamento são agudos  para chamar a atenção do dono.
Julgo ser o caso do cão a que me estou referindo. Só que, quem o ouve não é o dono… e ouvir um cão a latir continuamente pode deixar os vizinhos em stress. 




Ah! O bolero de Ravel… Alegre, inspirado pelo ritmo da dança espanhola. Alguém aqui bem perto está a deliciar - se com a riquíssima exploração dos timbres de todos os instrumentos da orquestra.
Um por um, vão entrando em volume baixo. Num ritmo sem variação, vão-se repetindo, ganhado massa e corpo, criando forma e volume.
Final de música apoteótico, hipnotizante!
Obrigada, Maurice Ravel!
Obrigada, vizinho (a) por me ter deliciado com esta melodia linda!

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

PICTOGRAMAS/ EMOJIS



A evolução da comunicação escrita

A evolução dos meios digitais, a influência da Internet e a abundância de informações na rede têm contribuído para a mudança de comportamento da sociedade e do processo de comunicação. A necessidade de maior rapidez na transmissão de informação ou a brevidade de uma leitura, tem acelerado o retorno à utilização de elementos simbólicos. 

Segundo Peirce, o  símbolo  é  a representação de um objecto gerado a partir de uma associação de ideias e “Todas as palavras, frases, livros e outros signos convencionais são símbolos”. 
Os símbolos não guardam qualquer relação de semelhança ou de contiguidade com a coisa representada. A relação é puramente convencional e para compreender um símbolo, é necessário aprender o que ele significa.
Porem, hoje vou usar a palavra símbolo associada à comunicação dos seres humanos. 

Não está provado quando surgiu a comunicação mas parece não haver dúvidas de que existiu a partir da altura em que o homem sentiu necessidade de convívio social e de expressar os seus sentimentos ou seja... sempre. E que foi através dela, pelo registo do arquivo da nossa história que, diferentemente das outras espécies, conseguimos evoluir, alterar o modo de viver e de pensar.
A importância das representações visuais para a comunicação humana vem desde a Pré-história. 
A visão foi o sentido-chave para o desenvolvimento das primeiras técnicas de conservação da informação, os registos sobre pedras, ossos e parede de rochas". 
Baitello Júnior (2014)

A Era dos Símbolos e Sinais teve início há cerca de 90 mil anos.   O homem primitivo começou por comunicar através de uma linguagem muito rudimentar baseada em gestos e num limitado número de sons (guinchos e urros) que sabia produzir.
Com o passar do tempo, a linguagem e os processos de comunicação humana foram sofrendo várias influências resultantes da cultura e da evolução da sociedade.
No fim do Neolítico as figuras feitas em pedras e em paredes das cavernas já eram uma forma clara de comunicação.
desenvolvimento do desenho acontece por volta de 40.000 a 25.000 (Era da fala) a. C. A transmissão de uma ideia, um conceito ou um objecto passou a manifestar-se através de desenhos (símbolos) figurativos e estilizados  (pinturas rupestres) feitos com sangue de animais, saliva, fragmentos de rocha e argilas.  Dispostos nas paredes das cavernas onde viviam no Inverno,  em rochedos e outras superfícies lisas, os “caracteres eram as próprias imagens do homem e dos animais comuns na época: bisões/búfalos, ursos, veados lobos, javalis, etc.
1 - Pinturas rupestres em cavernas. Lascaux, França.
                                                                      2 - Pinturas rupestres do Vale do Coa

A criação de significados padronizados para os símbolos existentes e o início do uso de papiros, pedras e placas de argila para gravar as mensagens, deu lugar à Era da Escrita, no século IV a. C. 

Evolução dos símbolos com o passar do tempo até chegar ao alfabeto.
 Lemos (2016)

A escrita foi o primeiro meio de comunicação da história e a cultura passou a ser transmitida de forma oral e escrita, de acordo com a divisão de classes sociais e voltada para a tradição, com início nas chamadas tábulas[1] de Uruk sumérias.

Evolução dos sistemas da escrita:

“Pictográfica" - É a base da escrita cuneiforme e dos hieróglifos, origem de todas as formas de escrita. Consiste em transmitir uma ideia, um conceito ou um objecto através de um desenho (símbolo) figurativo e estilizado. Os meios de comunicação do homem primitivo eram totalmente independentes da fala. 
Tem a vantagem de poder ser lida independentemente da língua falada.
E continua a ser utilizada na sinalização do trânsito, de locais públicos, na infografia e em várias representações do design gráfico.


Ideográfica -  Manifesta-se através de desenhos especiais, os ideogramas, e cada actividade, objecto ou ideia é  representada por um único signo.  São necessários tantos símbolos quantos os objectos e ideias a exprimir.  
Para traduzir ideias abstractas, os chineses recorreram aos símbolos (ideogramas) de objectos concretos correspondentes na língua falada, a uma palavra com o mesmo som. Introduziram aqui, desta forma, elementos fonéticos. A nossa escrita também utiliza alguns símbolos ideográficos: [0] lê-se zero, [1] lê-se um, [2] lê-se dois etc. Um único símbolo representa uma palavra /ideia completa.  

Porem, as mais importantes são a egípcia  (hieroglífica), a mesopotâmica (suméria), as escritas da região do mar Egeu (cretense e outras) e a chinesa (donde provém a escrita japonesa).

        1-  Caracteres chineses 2-Disco de Festo - Hieroglíficos minóicos 
3- Hieroglíficos antigo Egípto 4- Escrita cuneiforme dos sumérios 

Fonética: Caracteriza-se por signos que representam os sons das sílabas ou letras. Por volta de 1100 a. C., desenvolveu-se o alfabeto linear escrito dos Fenícios com apenas 22 caracteres de consoantes.
Os historiadores deste período desconhecem o motivo e a data exacta da transição linguística do cuneiforme para o alfabeto escrito. Terão sido factores como simplicidade, flexibilidade, portabilidade e outros que influenciaram a decisão da mudança.

A adopção do alfabeto fenício por parte dos Gregos durante o séc. VIII  com a posterior introdução dos sons vocálicos, foi de enorme importância para a nossa civilização. Acredita-se que o alfabeto grego de 24 letras, que se encontra em uso contínuo durante os últimos 2.750 anos, foi instituído por volta de 750 a. C.

Alfabeto grego

Cerca de 600 a. C., devido à rápida expansão do alfabeto grego, a maior parte dos cidadãos homens podia ler e escrever 


Depois desta tosca sinopse acerca do processo de comunicação, podemos concluir quanta relevância têm tido os símbolos na comunicabilidade desde os tempos primitivos.
Antes, eles davam uma ideia visual da mensagem e agora são adaptados a um novo contexto social; como o alfabeto escrito não transmite as expressões visuais que fazem parte de uma conversação, são utilizados para auxiliar na compreensão dos interlocutores. 
A tecnologia transformou a comunicação ao alargá-la no espaço, dissociada do ambiente físico. Essa transformação foi um grande marco para a comunicação e para a sociedade. Brito (2008)
Assim, a modernidade/ tecnologia marcaram um retorno ao uso da linguagem simbólica para transmitir mensagens de forma rápida, sem textos explicativos.


Emoticons e Emojis

Os emoticons surgiram na década de 80 para tentar simular a fisionomia e expressões faciais humanas, recorrendo a caracteres de pontuação já disponíveis no teclado. Actualmente são também utilizados pelos internautas com imagens inspiradas nos rostos criados a partir de sequências de caracteres do teclado padrão, tais como:-), :-( ou :'(.
O smiley é o primeiro tipo de imagem e foi criado em 1982, por Scott Fahlman, professor assistente de pesquisa de ciência da computação da Universidade Carnegie Mellon, nos Estados Unidos. O ícone: -) é para identificar mensagem de piada e: - (para as sérias).

 Mensagem que deu origem ao Smiley (Foto: Divulgação/Carnegie Mellon University)

Os emojis surgem no Japão no fim da década de 90 e são desenvolvidos na empresa japonesa de comunicações NTT DoCoMo.
Ao contrário dos emoticons, os emojis funcionam como forma de adicionar conteúdo às mensagens sem exceder os limites de caracteres.
Os 176 emojis originais foram criados de forma a contribuir para uma linguagem global e simples onde se incluem faces, objectos e símbolos. Expandiram-se mundialmente através da Apple, Google e Microsoft. São mais coloridos, diversificados e pessoais, com maior significado tecnológico e cultural.  

Os 176 emojis originais criados por Shigetaka Kurita, em 2016 adicionados à colecção do MOMA

Os emojis vêm complementar a falta de exactidão na oralidade que as palavras não transmitem - tom, emoção ou personalidade ao texto, chegando mesmo a substituí-lo como o ex. abaixo

Em 2015 o emoji ‘lágrimas de alegria’ foi considerado “palavra do ano” pelo dicionário Oxford

Na gestão das redes sociais, o uso de emojis  pode constituir ou reforçar uma campanha a um custo muito baixo porque encorajam os seguidores a tornarem - se participantes num relacionamento mais próximo entre marca e cliente.


[1] Placa de argila ou madeira, revestida de cera na qual os antigos (assírios, sumérios) faziam inscrições.

Algumas Fontes:
Brito, Audrey Danielle Beserra de. O discurso da afectividade e a linguagem dos emoticons. Revista Electrónica de Divulgação Científica em Língua Portuguesa, Linguística e Literatura. Ano 4. N. 9. 2008.
Lemos, Alan. 123 - História do alfabeto. Prof. Alan Francisco Lemos, 2016
Neves, João Vasco Matos. Pictografia
Pierce, Joseph. Symbols: a Universal Language. United Kingdom: Michael O'Mara Books, 2013
Smiley (org). The history of Smiley.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

ONZE DE NOVEMBRO DE 2018





As nuvens não abriram pró sol radioso passar
E oVerão de São Martinhopela chuva se fez trocar
Sem prova de água-pé e castanhas pró Magustinho
Por bem achou, este onze, trazer outro miminho
Nada mais, nada menos, do que grave pneumonia
Declarada na Urgência quase no fim do dia

Não à greve do Verão de São Martinho
Às nuvens negras sem sol, castanhas e vinho
Aos pneumococos e a toda a artilharia
Que provoca tal dano como esta anomalia.


Imagens Google

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

"PARÓDIA CRÍTICA" (2013)


Porque também acho este pequeno grupo de versos (como a amiga que mos mandou por email) “Uma excelente paródia crítica com as 4 primeiras estrofes dos Lusíadas”, transcrevo sem qualquer comentário:



Os Lusíadas do Século XXI


"Canalhíadas"

I
As sarnas de barões todos inchados
Eleitos pela plebe lusitana
Que agora se encontram instalados
Fazendo o que lhes dá na real gana
Nos seus poleiros bem engalanados,
Mais do que permite a decência humana,
Olvidam-se do quanto proclamaram
Em campanhas com que nos enganaram!

II
E também as jogadas habilidosas
Daqueles tais que foram dilatando
Contas bancárias ignominiosas,
Do Minho ao Algarve tudo devastando,
Guardam para si as coisas valiosas
Desprezam quem de fome vai chorando!
Gritando levarei, se tiver arte,
Esta falta de vergonha a toda a parte!

III
Falem da crise grega todo o ano!
E das aflições que à Europa deram;
Calem-se aqueles que por engano
Votaram no refugo que elegeram!
Que a mim mete-me nojo o peito ufano
De crápulas que só enriqueceram
Com a prática de trafulhice tanta
Que andarem à solta só me espanta...

IV
E vós, ninfas do Coura onde eu nado
Por quem sempre senti carinho ardente
Não me deixeis agora abandonado
E concedei engenho à minha mente,
De modo a que possa, convosco ao lado,
Desmascarar de forma eloquente
Aqueles que já têm no seu gene
A besta horrível do poder perene!
Luís Vais Sem Tostões




Autor:
João Cortesão (6 de Junho de 2013)  
“Se CAMÕES hoje fosse vivo, escreveria assim "OS CANALHÍADAS"

sábado, 20 de outubro de 2018

DISPARIDADES


Sob a égide das Nações Unidas celebrou-se no dia 17 de Outubro o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza.


Porque é um tema que em Portugal (e em todo o mundo) continua marcante, quero deixar expressa a minha solidariedade para com as palavras do Presidente da República num debate sobre o assunto na Fundação Calouste Gulbenkian: “É uma vergonha nacional sermos, em 2017 e agora já em 2018, das sociedades mais desiguais e com tão elevado risco de pobreza na Europa. Eu tenho vergonha”.


Na verdade, Portugal surge em 11.º lugar numa lista de 26 Estados segundo dados disponíveis relativos a 2017 e que constam do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento das Famílias realizado anualmente pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

Cerca de um quarto da população portuguesa (23,3%) está "em risco de pobreza ou exclusão". A confirmá-lo, há investigadores que acompanham, em Lisboa, um grupo de pessoas em situação de pobreza e que defendem “ser necessária uma mudança forçosa de paradigma para a combater”
Segundo o padre Jardim Moreira, “mais de 1 milhão de portugueses têm emprego mas são pobres. ”Existem pobres que continuam pobres, mesmo depois de arranjarem emprego"



Porém...
"O número de pessoas com um património avaliado em mais de um milhão de dólares cresceu no ano passado em Portugal. Hoje são quase 100  mil."(EXAME, 18.10.2018)

De acordo com o Global Wealth Report divulgado  pelo Credit Suisse, entre 2017 e 2018, o número de pessoas no País com um património avaliado em mais de um milhão de dólares cresceu 38,2% (passou de 68 mil para 94 mil milionários). O documento diz também que há, em Portugal, 13 pessoas com uma riqueza superior a 500 milhões de dólares e 120 com património variável entre 100 a 500 milhões de dólares. 
As tabelas que serviram de base para o relatório mostram que Portugal tem quase tantos milionários como a Arábia Saudita com o triplo da população portuguesa.


Também a revista Forbes refere que “há cada vez mais milionários em Portugal”. 
Maria Fernanda Amorim,  viúva de Américo Amorim, aparece na lista Forbes, a lista dos multimilionários

Maria Fernanda e Paula Amorim
Paula Amorim

Pergunta:
- Como é que os mais ricos têm agora mais dinheiro do que tinham então, com uma profundíssima crise económica e financeira pelo caminho? 
Resposta: ?


Durão Barroso (repetente) Paula Amorim e Isabel Mota vão estar no “clube secreto” de Bilderberg em Turim (128 convidados de 23 países)


Mensagem?
Muitas...

Imagens Google

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

MOMENTOS DA VIDA



A vida é feita de fases (infância, adolescência, idade adulta, velhice) e de momentos únicos experimentados ao longo dos anos.
Entre outros, podemos considerar:

Momentos ridículos
Quem, por falar demais, não meteu já os pés pelas mãos? Ou não se sentiu bobo relendo cartas de amor? Ou não esboçou um sorriso por ter “caído” num assunto de que nada percebia?
Ah! Se tivesse ficado calada em vez de ter respondido de cabeça quente, talvez…

Momentos nostálgicos
A nostalgia é um sentimento único que nos relaciona com o nosso mundo emocional. A memória, ao recordar uma determinada época pode envolver-nos numa infinidade de imagens, palavras, gestos ou sons do passado que não se repetem mais.
Acontece, por exemplo, quando já não temos Pais e continuamos a “vê-los sentados” esperando pela nossa chegada. É como o fim do dia…

Momentos de saudade
Enquanto a nostalgia é a ausência eterna de um momento, a saudade é a ausência provisória de alguém (Karina Perussi). A saudade faz parte da condição humana – vai e volta, ainda que de forma diferente; tem a capacidade de deixar apreciar o presente na esperança do dia de amanhã

Momentos especiais
Basta querer atentar nas cores das flores, no fulgor das estrelas, no verde das árvores, no fluir da água dos rios, na faixa colorida do arco-íris, no brilho do sol, na beleza de uma infinidade de lugares.
A mim este sol, estes prados, estas flores contentam-me. Fernando Pessoa

Momentos coloridos
Faz parte da vida viver com todas as cores embora, muitas vezes, a caneta insista em pintá-la apenas a preto e branco ou em tons de cinzento
Todos nós (uns mais do que outros) experimentámos já momentos de verde esperança, de rosa romântico, de azul tudo bem, de laranja criativo, de roxo misterioso, de vermelho apaixonado, de branco da paz interior, do amarelo optimista, descontraído e alegre, do castanho de luta contra as dificuldades, do bege passivo e sem atitude.  

Cada fase da vida tem as suas peculiaridades. 
Não direi que adoro a fase da vida em que me encontro. Menos saudável fisicamente do que a maioria das pessoas mas mentalmente alerta, tenho a vantagem de não precisar de chamar a atenção e a de desenvolver estratégias mais flexíveis, quer para enfrentar perdas, quer para encarar uma menor expectativa de esperança de vida.



Edith Piaf - La vie en rose


"Des yeux qui font baisser les miens
Un rire qui se perd sur sa bouche
Voilà le portrait sans retouches
De l'homme auquel j'appartiens

Quand il me prend dans ses bras
Il me parle tout bas
Je vois la vie en rose..."



sexta-feira, 28 de setembro de 2018

VIDA EREMÍTICA


“Um monge vive em solidão nesta rocha de 40 metros de altura com mais de dois mil anos de história”. (Viagens Sapo, 25 Setembro de 2018 por Susana Sousa Ribeiro)



Intrigante, não?

Porque se escolhe viver assim, foi a pergunta que me levou a explorar um pouco sobre a eremitagem.

Neste caso, de acordo com a notícia, Maxime Qavtaradze, monge ortodoxo georgiano, em 1993 mudou-se para o pilar Katskhi, em Imerícia, na parte ocidental da Geórgia, com vista para o vale fluvial de Katskhura depois de receber os votos monásticos.
Antes da chegada do cristianismo acreditava-se que era um local sagrado onde os pagãos, há mais de dois mil anos, realizavam rituais dedicados ao deus da fertilidade. Com o advento do cristianismo, a coluna tornou-se símbolo de desapego do mundo.
No início, o monge teve uma vida muito difícil - dormia num frigorífico antigo.

"E à hora crepuscular
Tudo no cume escurece
Pirilampos do cume saem
Tudo no cume arrefece"
(Compositor?)

Depois, alguns cristãos renovaram a igreja abandonada e construíram uma casa para ele viver. 
Foi - se aproximando de Deus e abandonando o passado.  Desce à base do pilar duas vezes por semana, através de uma escada de ferro, para rezar num pequeno mosteiro e dar conselhos aos jovens problemáticos que o procuram.

Os exemplos são muitos:



Viktor, de 57 anos, decidiu levar vida de eremita há cerca de dez e vive instalado numa cabana de madeira numa região isolada da Sibéria, a 55 quilómetros da cidade Krasnoyarsk. O ex-barqueiro, descoberto pela Reuter, revelou que sobrevivia comendo peixe, frutos, cogumelos e outros alimentos que vai  encontrando. Fez um chapéu para ler a Bíblia diariamente porque tem por ela uma enorme paixão.(DN)


Eremitas bielorrussos vivem há 20 anos sem gás, eletricidade e água canalizada.

(site com 54 fotos)
https://www.mdig.com.br/index.php?itemid=26536&catid=5


Mauro Morandi, ex-professor de educação física, é o único habitante da ilha de Budelli, em Itália, desde 1989. Diz ter encontrado o seu lugar no mundo por mero acaso - quando viajava de barco perdeu o motor perto da pequena ilha, entre a Sardenha e a Córsega. Utiliza o Twitter, Instagram e Facebook  para partilhar imagens do “verdadeiro paraíso natural, onde a única agitação existente é a das ondas do mar”

https://viagens.sapo.pt/viajar/viajar-mundo/artigos/unico-habitante-de-ilha-italiana-da-a-conhecer-o-paraiso-nas-redes-sociais#&gid=1&pid=7


Anta da Candeeira (O buraco da alma)

“A Serra d’Ossa já lá estava plantada no meio da planície, imponente nos seus 653 metros de altitude. Mas foram os monges eremitas que a moldaram ao longo dos séculos e lhe deram a magia que hoje encerra.” (Jorge Montez, em Portugal de Lés a Lés)





A palavra eremita vem do Latim eremus  (deserto) e designa, originalmente, aquele que se retirava para o deserto a fim de lá viver entregue a Deus na oração, no silêncio e na solidão. 
Para efeito de legislação canónica, há dois tipos de eremitas: os que são ligados a uma Associação ou Instituto reconhecido pela autoridade eclesiástica competente, com sua Regra de vida própria e os autónomos, regidos pelo cânon 603 do Código de Direito Canónico, de 1983 (Aleteia), ou seja, eremitismo autónomo, diocesano , monástico e recluso (muito raro) e eremitismo autónomo, independente

CÂN 603§ 1. Além dos institutos de vida consagrada,  a Igreja reconhece a vida eremítica ou anacorética, com a qual os fiéis, por uma separação mais rígida do mundo, pelo silêncio da solidão,  pela assídua oração e penitência, consagram a vida ao louvor de Deus e à salvação do mundo.


Segundo o Dicionário Online de Português, eremita é:
- Pessoa que, através de penitência, habita lugares despovoados e/ou isolados.
- [Figurado] Pessoa que evita o contato social; que tende a viver sozinho(a) e/ou buscar a solidão; ermitão.
- Sujeito que toma conta de um ermida.

A tendência para o isolamento social involuntário  (Transtorno de Ansiedade Social) quando o indivíduo é incapaz de lidar com a ansiedade provocada por contacto com outras pessoas e o trauma psicológico que pode conduzir ao isolamento total, podem confundir-se com a verdadeira vocação para o eremitismo 

A diferença entre os eremitas leigos e diocesanos está no “Status”- uns são consagrados reconhecidos pela Igreja, enquanto outros vivem uma consagração em dimensão oculta e espiritual. Não há nenhuma uniformidade no uso do hábito.

Imagens de eremitas:





Fazendo uma análise a factos passados,  penso poder encaixar aqui um primo de 2º grau, J.S.F., apelidado de "santo". Era solteiro, solitário, singelo, bucólico, assíduo frequentador da Igreja e parecia ficar escandalizado com peles bronzeadas pelo sol da praia, no Verão.
Embora diferente nalgumas das particularidades acima referidas, também julgo poder incluir neste conceito a minha professora de Português/Matemática /Desenho, a religiosa (irmã) M.R.D.F. Evitava falar com as alunas nos recreios, recolhendo-se no quarto a rezar ou a ler. Assídua frequentadora da capela do Colégio, parecia ficar em êxtase, completamente absorta na contemplação de Deus durante tempo sem fim. Movida pela curiosidade de tal atitude, foram várias as vezes que resolvi ficar ao lado para tentar compreender (em vão) aqueles arrebatamentos...

Em suma: como marco final desta ligeira busca, só posso registar que fiquei com a sensação de que o eremitismo é, para mim, um tema sem qualquer espécie de interesse. Direi mesmo que nem o acho salutar e edificante.


Imagens Google