Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho, capitão de Abril, morreu a 25 de Julho, com 83 anos, de insuficiência cardíaca, sem luto nacional.
Como irá a história lembrá-lo, é a polémica em torno da qual muitas opiniões divergem.
Personagem paradoxal, político utópico, revolucionário corajoso e arbitrário, estratega solitário e comandante operacional do 25 de Abril, radical, um símbolo do PREC/terror das FP-25, de voluntarismo idealista mas não facilmente instrumentalizável, sem formação e estrutura política suficientes e agora a votar no Bloco de Esquerda, ficará sempre na memória, com certeza, como uma marcada figura de Abril.
Durante o PREC foi um apoiante entusiasta das nacionalizações e da reforma agrária, procurando instaurar a democracia de base popular em que acreditava. Assinou mandatos de detenção em branco e ameaçou concentrar a “reacção” no Campo Pequeno. Quanto aos actos de terrorismo que provocaram mais de uma dezena de mortes, sempre afirmou a sua inocência.
- «Nunca tive nada a ver, sublinho de novo, com
nenhuma acção praticada pelas FP-25, nunca tive nada a ver com bombas,
assaltos, homicídios. Verifico, com desgosto, que a minha biografia é sempre
rematada de uma forma extremamente negativa, género “envolveu-se com grupos
esquerdistas, de luta armada, que o levaram à prisão”. Ora, eu gostaria que não
ficasse na História essa mentira.» (excerto de uma entrevista a Otelo Saraiva
de Carvalho por ocasião dos 30 anos do 25 de Abril, também documento e auto-retrato), por José
Carlos de
Porem, relacionado com este
tipo de acções, assisti, quando caminhava na R. Professor Reinaldo dos Santos com o
meu filho pela mão, ainda muito pequeno, ao disparo de vários tiros de uma arma de fogo através da janela de um dos edifícios, para abater um dos transeuntes mas que, segundo vozes no local do momento, não chegaram a matar. O medo pairava nas ruas
Otelo, um vencedor no plano militar, um derrotado no processo revolucionário (felizmente) e, sem dúvida, uma figura histórica diferenciada .
Imagens Google