Hoje o (ex) ministro Álvaro Santos Pereira, a "carta fora do baralho" é
o protagonista "a solo" deste poste.
Gostei dele.
Com uma série de
livros publicados na mala, deixou o Canadá - segundo maior país do mundo e um
dos mais desenvolvidos, membro do G8, G20, OTAN, OCDE, OMC, Comunidade das Nações, Francofonia, OEA ,
APEC, Nações Unidas - onde leccionava na Universidade Simon Fraser, Vancouver, para vir
cumprir “um dever com agrado” (a designação é minha) como ministro independente,
no lindo e mesquinho Portugal de que tanto se orgulha (ou orgulhava).
O Álvaro - disse
que assim lhe podiam chamar - de ironia delicada, trazia um acervo de ideias
novas.
Começou por querer
lutar contra interesses instalados, apresentando no Parlamento medidas para
acabar com os carros e os motoristas nos organismos e empresas públicas e dizer
que era tempo de “arregaçar as mangas e trabalhar, trabalhar, trabalhar”.
Instalou a discórdia
da cobrança de portagens nas ex-Scut e da transferência dos contentores para a
Trafaria.
Irritava-se com o
desrespeito pelos imigrantes.
Sugeriu a
exportação dos pastéis de nata, tão
vendáveis “como os churrascos Nando’s ou os hambúrgueres”
Tudo isto causou-lhe dissabores e nunca conseguiu agradar às “élites” sintonizadas com a improbidade. A maior parte das suas ideias não foi aceite nem compreendida.
Ao contrário das
sociedades anglo-saxónicas, Portugal é uma sociedade matriarcal que "lida mal
com o sucesso dos outros, gosta de formalismos e prefere não penalizar os
incompetentes".
O texto
constitucional é achincalhado e o Tribunal Constitucional, como garante do
cumprimento da Constituição, é desrespeitado pelos governantes. Estamos
perante um País sem Lei, em que a vontade pessoal de alguns se sobrepõe aos
efectivos interesses de muitos.
Somos
confrontados com situações bizarras, assistindo a actos de corrupção de diversos
governantes, sem consequências para os infractores, face à surdez da justiça,
perante os factos constatados e reivindicação da sociedade.
Para alcançar
o poder, os partidos não regateiam internamente os custos
dessa aventura política
dessa aventura política
Santos Pereira conseguiu o acordo de concertação social com a UGT e o Patronato mas, com pouca capacidade para se impor, o discurso coube ao primeiro-ministro.
Sem experiência política, apanhou a recessão mais profunda dos últimos
vinte anos e a gestão de um hiperministério ingovernável (segundo Assunção
Cristas e que agora desmantelou).
Para quem leu os seus
livros, conclui que tem ideias claras sobre o que Portugal deve fazer para
tentar ultrapassar esta crise. Mas escrever, liderar e executar são coisas
diferentes.
Em Janeiro 2012, defendeu que a
estratégia de internacionalização da economia portuguesa tem falhado; no entanto, acreditava que o aumento das exportações e a afirmação da "marca
Portugal" podiam passar a ser um DESÍGNIO NACIONAL.
Não tem dúvidas
de que "Portugal é um país e uma marca com futuro porque o que é Portugal é bom”. Mas "é preciso que se afirme com convicção o orgulho
de sermos portugueses. Eu sou português e tenho orgulho".
Diz que “Os nossos mercados são óbvios. A Europa tem
sido o principal, mas a CPLP deve ser um alvo. Precisamos de nos tornar um
país mais competitivo e menos desigual.”
Porém, "Tudo será
em vão se não formos capazes de recuperar a credibilidade externa"
E Carlos Zorrinho sublinha que "valia a pena assumir esta estratégia [de apostar na internacionalização da "marca Portugal"], não como sendo apenas do Governo, mas como uma estratégia nacional”
Mas, sem fazer parte da máquina partidária do PSD e com uma pedra no sapato do CDS que sempre quis a pasta da Economia, cedo começou a destacar-se mais pelas suas fragilidades e incapacidade de travar a escalada do desemprego face à falta de investimento.
Não demorou a ser apontado como um dos elos mais fracos do Governo e rapidamente foi engrossando o coro de vozes a pedir a sua saída.
Desde a tomada de posse
que lhe foram tirando todos os secretários de Estado à excepção de Sérgio
Monteiro (dos Transportes) porque, tal como ele, criavam tensões com os interesses
instalados.
Recordo apenas Henrique Gomes que terá encomendado a uma entidade independente a avaliação do custo das rendas excessivas pagas pelo sistema eléctrico nacional às grandes produtoras de electricidade e que apontava para 3,9 mil milhões de euros. O objectivo do Governo seria cortar 2,5 mil milhões deste montante, de acordo com as orientações da ‘troika' que exigiam uma forte redução dos custos neste sector.
O presidente executivo do grupo EDP, António Mexia, na apresentação de resultados da companhia acusou de imediato os responsáveis do estudo de cometerem "erros grosseiros”… e Henrique Gomes foi "despedido"
Os acontecimentos políticos das últimas semanas já apontavam o dirigente do CDS-PP, António Pires de Lima como seu substituto à frente da pasta da Economia, no Governo remodelado por Passos Coelho. E quando a notícia apareceu na Revista Visão, nem surpreendeu.
Com a demissão em suspenso, à laia de despedida, ainda aproveitou a inauguração de uma fábrica da Galp em Sines para fazer um balanço dos seus dois anos de governação. E também se deslocou a Luanda, numa visita oficial de dois dias, para atrair investimentos para Portugal.
João Gonçalves, um seu assessor disse na sua página no
Facebook, que "desta vez não é o PR nem o PM que anunciam uma remodelação
em primeira mão. São os interesses e as negociatas. Álvaro Santos Pereira - que
comete o crime da independência - é removido por eles do Ministério da Economia
e do Emprego. Boa tarde e boa sorte".
Em conversas com os seus secretários de Estado e membros do gabinete, demonstrou alguma irritação com o que entende ter sido um "golpe palaciano" de Portas para o tirar da Economia. Mas nem por isso deixou de manter o silêncio ou pôr em causa a sua boa relação com Adolfo Mesquita Nunes, secretário de Estado do Turismo indicado pelo CDS.
Desde sempre tido com remodelável, não quis passar directamente a pasta ao seu sucessor António Pires de Lima e não compareceu na cerimónia de posse.
O comentador da Antena
1 de assuntos políticos Raul Vaz considera que “os portugueses ainda vão ter
saudades de Álvaro Santos Pereira que contribuiu para a dessacralização do poder” e que
“vai ser curioso ver qual será a
atitude e a prática de Jorge Moreira da Silva em relação ao sector da Energia, que o ministro atacou, pelo
menos parcialmente”.
Será que vai tomar parte num painel organizado pela European Ideas Network do PPE que conta com a participação de inúmeras personalidades políticas nacionais e europeias - Paulo Rangel, Nuno Melo, o Presidente do Grupo do PPE no Parlamento Europeu, Pedro Passos Coelho, Álvaro Santos Pereira e especialistas de várias instituições - sobre as relações da União Europeia com a América Central e do Sul?
Portugal é visto pelos nacionais
como um país «onde impera a crise, grassa a corrupção e falta a justiça», segundo um estudo anual realizado pela
fundação Vox Populi, em parceria com a empresa Marktest.
Imagens Google
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