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sexta-feira, 26 de julho de 2013

A NOTA DISSONANTE




Hoje o (ex) ministro Álvaro Santos Pereira, a "carta fora do baralho" é 
o protagonista "a solo" deste poste.

Gostei dele.


Com uma série de livros publicados na mala, deixou o Canadá - segundo maior país do mundo e um dos mais desenvolvidos, membro do G8, G20, OTAN, OCDE,  OMC, Comunidade das Nações, Francofonia, OEA , APEC, Nações Unidas - onde leccionava na Universidade Simon Fraser, Vancouver, para vir cumprir “um dever com agrado” (a designação é minha) como ministro independente, no lindo e mesquinho Portugal de que tanto se orgulha (ou orgulhava).

O Álvaro - disse que assim lhe podiam chamar - de ironia delicada, trazia um acervo de ideias novas.

Começou por querer lutar contra interesses instalados, apresentando no Parlamento medidas para acabar com os carros e os motoristas nos organismos e empresas públicas e dizer que era tempo de “arregaçar as mangas e trabalhar, trabalhar, trabalhar”.

Instalou a discórdia da cobrança de portagens nas ex-Scut e da transferência dos contentores para a Trafaria.

Irritava-se com o desrespeito pelos imigrantes.


Não conseguiu conter o riso ao ouvir Bruno Dias, deputado do PCP, “sugerir que o famoso Borda-d’água passasse a fazer parte da consulta obrigatória para as previsões orçamentais do Governo” brincando um pouco com as palavras recentes de Vítor Gaspar, que culpou o mau tempo pela quebra de 4% no PIB.


Sugeriu a exportação dos pastéis de nata, tão vendáveis “como os churrascos Nando’s ou os hambúrgueres” 

Tudo isto causou-lhe dissabores e nunca conseguiu agradar às “élites” sintonizadas com a improbidade. A maior parte das suas ideias não foi aceite nem compreendida.

Ao contrário das sociedades anglo-saxónicas, Portugal é uma sociedade matriarcal que "lida mal com o sucesso dos outros, gosta de formalismos e prefere não penalizar os incompetentes".

O texto constitucional é achincalhado e o Tribunal Constitucional, como garante do cumprimento da Constituição, é desrespeitado pelos governantes. Estamos perante um País sem Lei, em que a vontade pessoal de alguns se sobrepõe aos efectivos interesses de muitos.


Somos confrontados com situações bizarras, assistindo a actos de corrupção de diversos governantes, sem consequências para os infractores, face à surdez da justiça, perante os factos constatados e reivindicação da sociedade.



Para alcançar o poder, os partidos não regateiam internamente os custos 
dessa aventura política

Santos Pereira conseguiu o acordo de concertação social com a UGT e o Patronato mas, com pouca capacidade para se impor, o discurso coube ao primeiro-ministro




Sem experiência política, apanhou a recessão mais profunda dos últimos vinte anos e a gestão de um hiperministério ingovernável (segundo Assunção Cristas e que agora desmantelou).

Para quem leu os seus livros, conclui que tem ideias claras sobre o que Portugal deve fazer para tentar ultrapassar esta crise. Mas escrever, liderar e executar são coisas diferentes.


Em Janeiro 2012, defendeu que a estratégia de internacionalização da economia portuguesa tem falhado; no entanto, acreditava que o aumento das exportações e a afirmação da "marca Portugal" podiam passar a ser um DESÍGNIO NACIONAL.

Não tem dúvidas de que "Portugal é um país e uma marca com futuro porque o que é Portugal é bom”. Mas "é preciso que se afirme com convicção o orgulho de sermos portugueses. Eu sou português e tenho orgulho".

Diz que “Os nossos mercados são óbvios. A Europa tem sido o principal, mas a CPLP deve ser um alvo. Precisamos de nos tornar um país mais competitivo e menos desigual.”

Porém, "Tudo será em vão se não formos capazes de recuperar a credibilidade externa"




E Carlos Zorrinho sublinha que "valia a pena assumir esta estratégia [de apostar na internacionalização da "marca Portugal"], não como sendo apenas do Governo, mas como uma estratégia nacional




Mas, sem fazer parte da máquina partidária do PSD e com uma pedra no sapato do CDS que sempre quis a pasta da Economia, cedo começou a destacar-se mais pelas suas fragilidades e incapacidade de travar a escalada do desemprego face à falta de investimento
Não demorou a ser apontado como um dos elos mais fracos do Governo e rapidamente foi engrossando o coro de vozes a pedir a sua saída.

Desde a tomada de posse que lhe foram tirando todos os secretários de Estado à excepção de Sérgio Monteiro (dos Transportes) porque, tal como ele, criavam tensões com os interesses instalados.




Recordo apenas Henrique Gomes que terá encomendado a uma entidade independente a avaliação do custo das rendas excessivas pagas pelo sistema eléctrico nacional às grandes produtoras de electricidade e que apontava para 3,9 mil milhões de euros. O objectivo do Governo seria cortar 2,5 mil milhões deste montante, de acordo com as orientações da ‘troika' que exigiam uma forte redução dos custos neste sector

O presidente executivo do grupo EDP, António Mexia, na apresentação de resultados da companhia acusou de imediato os responsáveis do estudo de cometerem "erros grosseiros”… e Henrique Gomes foi "despedido"





Os acontecimentos políticos das últimas semanas já apontavam o dirigente do CDS-PP, António Pires de Lima como seu substituto à frente da pasta da Economia, no Governo remodelado por Passos Coelho. E quando a notícia apareceu na Revista Visão, nem surpreendeu.





Com a demissão em suspenso, à laia de despedida, ainda aproveitou a inauguração de uma fábrica da Galp em Sines para fazer um balanço dos seus dois anos de governação. E também se deslocou a Luanda, numa visita oficial de dois dias, para atrair investimentos para Portugal.


João Gonçalves, um seu assessor disse na sua página no Facebook, que "desta vez não é o PR nem o PM que anunciam uma remodelação em primeira mão. São os interesses e as negociatas. Álvaro Santos Pereira - que comete o crime da independência - é removido por eles do Ministério da Economia e do Emprego. Boa tarde e boa sorte".




Em conversas com os seus secretários de Estado e membros do gabinete, demonstrou alguma irritação com o que entende ter sido um "golpe palaciano" de Portas para o tirar da Economia. Mas nem por isso deixou de manter o silêncio ou pôr em causa a sua boa relação com Adolfo Mesquita Nunes, secretário de Estado do Turismo indicado pelo CDS.


Desde sempre tido com remodelável, não quis passar directamente a pasta ao seu sucessor António Pires de Lima e não compareceu na cerimónia de posse.

O comentador da Antena 1 de assuntos políticos Raul Vaz considera que “os portugueses ainda vão ter saudades de Álvaro Santos Pereira que contribuiu para a dessacralização do poder” e que “vai ser curioso ver qual será a atitude e a prática de Jorge Moreira da Silva em relação ao sector da Energia, que o ministro atacou, pelo menos parcialmente”. 



Será que vai tomar parte num painel organizado pela European Ideas Network do PPE que conta com a participação de inúmeras personalidades políticas nacionais e europeias - Paulo Rangel, Nuno Melo, o Presidente do Grupo do PPE no Parlamento Europeu, Pedro Passos Coelho, Álvaro Santos Pereira e especialistas de várias instituições - sobre as relações da União Europeia com a América Central e do Sul?



Portugal é visto pelos nacionais como um país «onde impera a crise, grassa a corrupção e falta a justiça», segundo um estudo anual realizado pela fundação Vox Populi, em parceria com a empresa Marktest.


Imagens Google

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