Na planície, floresta ou monte
Cada árvore tem seu horizonte.
Elas murmuram, cantam e
gemem
Na solidão rude que não
temem.
Umas erguem os braços pró céu
Outras desenham no chão um véu.
Reverentes,
inclinam-se ao vento
Quando passa turbulento
E vigiam, quais sentinelas
Amores de aves tagarelas.
A sombra, o sol vai levar
Prá mudar, tranquilo, de lugar
Árvores de fruto, a quantas subi
Sem as cores ou asas do colibri
Pra provar, entre galhos abrigada,
Quanta não consolidada…
E roçando ousadia novamente,
Os troncos descia, lentamente
De cor verde, a ameixa e o abrunho
Já nas quentes tardes de Junho
Se exibiam na Ferreirinha
A pêra-rocha, o pinhão na pinha
O pêssego de roer de polpa amarela
E a azeitona, em que courela?
A Bravo de Esmolfe, única no mundo
Fruto da Beira Alta oriundo
Singular, maçã minha favorita
Aromática, doce e bonita
Para a comiscar, o guloso
Era nos Caminhos do Rochoso
Ah! As cerejas de Maio a Julho
Do Caminho do Moinho o orgulho
Brancas, carnudas, resistentes.
No Frei Miguel as pretas excelentes
E as vermelhas do Espadanal, brilhantes
Furtadas eram pelos pardais vagantes
Em Agosto/Setembro no Rebolal
Abanada parecia por vendaval
A figueira que, de figos carregada
Destilando uma gota açucarada
Pelos pedúnculos, na extremidade,
Ao chão largava sem dignidade
Tantas velhas
árvores na memória
Pra contar a sua história!
O salgueiro de galhos cambados
Os freixos nos
lameiros, radicados
O marmeleiro, pró poço mirando
O choupo, as mágoas lembrando
Bem cheio de
ouriços, o castanheiro
Junto das veigas, o viscoso amieiro
De fruto acidado, uma ginjeira
Frente à janela, a solene nogueira
Árvores, muitas árvores, nuas ou não
Entre fetos e amoras em profusão
Profusão, característica do expressionismo de Paul Cézanne - cores resplandecentes, fundidas, separadas, dinamismo improvisado…
Hoje, as árvores todas mortas
Vazias e tristes sem hortas
Não procriam pra Bonnard
Nem Primaveram pra Picart.
São, despidas assim, o prazer-rei
Das lentes corneanas de Kevin Day
Imagens Google
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