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sábado, 21 de setembro de 2013

AS ÁRVORES TAMBÉM DESISTEM


Na planície, floresta ou monte
Cada árvore tem seu horizonte.
Elas murmuram, cantam e gemem
Na solidão rude que não temem.
Umas erguem os braços pró céu
Outras desenham no chão um véu.


Reverentes, inclinam-se ao vento
Quando passa turbulento
E vigiam, quais sentinelas
Amores de aves tagarelas.
A sombra, o sol vai levar  
Prá mudar, tranquilo, de lugar 


Árvores de fruto, a quantas subi
Sem as cores ou asas do colibri
Pra provar, entre galhos abrigada,
Quanta não consolidada…
E roçando ousadia novamente,
Os troncos descia, lentamente


De cor verde, a ameixa e o abrunho
Já nas ­quentes tardes de Junho
Se exibiam na Ferreirinha
pêra-rocha, o pinhão na pinha
O pêssego de roer de polpa amarela
E a azeitona, em que courela?

                    Mapa da maçã Bravo de Esmolfe


A Bravo de Esmolfe, única no mundo
Fruto da Beira Alta oriundo
Singular, maçã minha favorita
Aromática, doce e bonita
Para a comiscar, o guloso
Era nos Caminhos do Rochoso


Ah! As cerejas de Maio a Julho
Do Caminho do Moinho o orgulho
Brancas, carnudas, resistentes.
No Frei Miguel as pretas excelentes
E as vermelhas do Espadanal, brilhantes
Furtadas eram pelos pardais vagantes


Em Agosto/Setembro no Rebolal  
Abanada parecia por vendaval
A figueira quede figos carregada
Destilando uma gota açucarada
Pelos pedúnculos, na extremidade,
Ao chão largava sem dignidade


Tantas velhas árvores na memória
Pra contar a sua história!
O salgueiro de galhos cambados
Os freixos nos lameiros, radicados
O marmeleiro, pró poço mirando
O choupo, as mágoas lembrando


Bem cheio de ouriços, o castanheiro
Junto das veigas, o viscoso amieiro
De fruto acidado, uma ginjeira
Frente à janela, a solene nogueira
Árvores, muitas árvores, nuas ou não
Entre fetos e amoras em profusão


 

Profusão, característica do expressionismo de Paul Cézanne - cores resplandecentes, fundidas, separadas, dinamismo improvisado…



Hoje, as árvores todas mortas
Vazias e tristes sem hortas
Não procriam pra Bonnard
Nem Primaveram pra Picart.
São, despidas assim, o prazer-rei
Das lentes corneanas de Kevin Day

Imagens Google

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