O mês de Setembro é, para muitas pessoas, o recomeço das
rotinas pós- férias. Há mudança das prateleiras nas lojas (com blazers, sempre meus favoritos). Recolhe-se lenha e
pinhas para a lareira. Fazem-se as vindimas. Aparecem as primeiras castanhas.
Aproximam-se os cheiros do Outono.
“Setembro, ou seca as fontes ou leva as pontes”; “Chuvas
verdadeiras em Setembro as primeiras”
Mas Setembro é também mês de cogumelos, designação dada às frutificações de alguns fungos em grande variedade de formas, cores, texturas, odores e sabores, umas comestíveis e outras venenosas.
Os fungos, ao contrário das plantas que são capazes de
produzir o seu próprio alimento através da fotossíntese, são desprovidos de
clorofila e não executam qualquer processo químico para sintetizar matéria
orgânica - precisam de o obter no meio onde vivem.
Vivem em simbiose com plantas vivas,
cedendo minerais a umas e transformando em húmus a folhagem de outras que, por
sua vez, serve de nutrição às duas partes.
Algumas destas espécies são colhidas no seu estado silvestre
e durante a época de frutificação podem ser compradas frescas nos mercados.
Os corpos frutíferos têm estruturas suficientemente
grandes para serem vistos a olho nu - pertencem aos macro fungos.
Podem surgir tanto sob o solo como acima dele.
Ex. de cogumelos venenosos e lista dos cogumelos comestíveis
Segundo algumas opiniões, apenas 10% de todos os cogumelos serão comestíveis e parte dos muitos consumidos são cultivados e comercializados.
Em Portugal, os cogumelos
comestíveis mais comuns, normalmente colhidos no estado silvestre,
são:
Pinheiras ou sanchas - ("Lactarius deliciosus" )
- Aparecem no Outono em pinhais. Fritos ou guisados, são uma das espécies
comestíveis mais apreciadas. Dão uma coloração alaranjada à urina mas sem
qualquer perigo para a saúde.
Pantorras ( "Morchella
esculenta") - Vêm
com a Primavera, entre Março e Abril, em solos húmidos e ricos em húmus. São
apreciados com ovos mexidos.
Cèpe-de-Bordéus ( "Boletus edulis")- Há muitas espécies de boletos mas estes são os mais saborosos (também os há tóxicos). Entre Setembro e Novembro, surgem em bosques e pinhais, sob o coberto dos soutos associados à sua
folhagem em decomposição e nos terrenos de giestas. A Norte do distrito de
Viseu, atingem com facilidade os 25 cm de altura mas associados aos castanheiros. O pé tem a forma de um taco, coberto de finas reticulações brancas.
Apreciados pelo seu sabor um pouco por todo o mundo,
podem ser encontrados em vários pratos culinários. Salteados em azeite e alho
são uma especialidade.
Cantarelos ("Cantharellus
cibarius") - São comuns em bosques de coníferas, também conhecidos
por “rapazinhos”, nalgumas regiões. Podem ser cozinhados de várias formas e há quem os aprecie
como sobremesa.
Não deverão ser confundidos com o Omphalotus olearius, o
Paxillus involutus ou o Hygrophoropsis aurantiaca
Frades ou roques ("Macrolepiota
procera") - Aparecem nos lugares mais diversos a partir dos fins do Verão até ao
Outono, desde o Alentejo a Trás-os-Montes, quer junto de giestas e tojos quer no
meio das vinhas e soutos.
O pé atinge com frequência os 40 cm; é o maior dos cogumelos comestíveis e, talvez
pela sua abundância e fácil reconhecimento, faz
com que muitas pessoas menos conhecedoras ou mais desconfiadas, recolham apenas esta única espécie. Assados só com sal, são deliciosos.
Canários,
míscaros-amarelos ou cogumelo-dos-cavaleiros ("Tricholoma equestre")
- Micorrizam com pinheiros, sobretudo em terrenos silicosos e podem ser
colhidos durante o Outono e Inverno.
Esta espécie foi bastante
apreciada e considerada como uma das mais saborosas, tendo sido
vendida nos mercados de toda a Europa durante muitos anos. Mas a partir
de certa altura através de estudos feitos em vários países
verificou-se que tem uma toxina que
se vai acumulando no organismo e comida em demasia pode provocar a paralisia
dos músculos (também do coração) pelo que passaram a ser considerados
tóxicos.
Dado que nunca se sabe qual vai ser a
reacção de determinado organismo perante a ingestão, ainda que em pequenas
quantidades, o mais seguro é não comer esta espécie.
Há, no entanto, pessoas que nunca
deixaram de os comer desde criança…
Cogumelo-dos-césares, laranjinhas, absós (Amanita caesarea) - Foi um dos cogumelos favoritos dos imperadores
romanos e, na opinião de alguns, o melhor.
Geralmente, nesta época, após as
primeiras chuvas (que ainda não vieram), os cogumelos
silvestres começam a encontrar-se um pouco por todo o lado nos pinhais, lameiros,
florestas e soutos. A terra húmida, coberta por mantos de
folhas que alimentam os solos, são os ingredientes essenciais para que os
cogumelos das mais diversas variedades cresçam e se desenvolvam.
Também eles fizeram parte dos meus sempre deliciosos e desejados manjares de há muitos
anos.
Mas sei apenas que eram chamados "Miscaros" -"Miscaros à Beira Alta"
- Mãe, o António está a chegar com uma cesta cheia de
míscaros!
(E a salivação começava a "mastigar" o pitéu que nos esperava..)
Antigamente, em tempos de crise económica, esta dádiva da natureza constituía um valioso suplemento alimentar para as populações. Chamava-se também “carne dos pobres”, devido ao seu aspecto e sabor.
- São tantos e depois de cozinhados parecem tão poucos!…(E a salivação começava a "mastigar" o pitéu que nos esperava..)
Antigamente, em tempos de crise económica, esta dádiva da natureza constituía um valioso suplemento alimentar para as populações. Chamava-se também “carne dos pobres”, devido ao seu aspecto e sabor.
A Mãe fazia-os quase sempre guisados, com arroz malandro ou fritos.
Penso que seria assim:
Ingredientes - Míscaros, azeite, cebola, alho, louro, malagueta, vinho branco, salsa/coentros, arroz, sal (nas quantidades adequadas)
Preparação - Lavar os míscaros de modo que a última água fique sem qualquer vestígio de areia ou terra. Escorrer e cortar ao meio
Preparação - Lavar os míscaros de modo que a última água fique sem qualquer vestígio de areia ou terra. Escorrer e cortar ao meio
Arroz com eles - Fazer o refogado em azeite com a cebola picada e o
alho. Juntar os cogumelos cortados e 1 folha de louro. Refrescar ainda com um pouco
de vinho branco e deixar apurar apenas uns momentos com o recipiente tapado. Adicionar água (pouca porque os próprios cogumelos vão largar a água deles) e deixar cozer.
Depois de verificar se estão mais ou menos cozidos, juntar o
arroz e deixar cozer. Servir com o arroz a "correr".
Para fritar - Deitar numa frigideira um fio de azeite, alhos
esmagados a murro, tiras de presunto com bastante gordura, malagueta (opcional) e coentros, Esperar um pouco até ficar dourado. Juntar os
míscaros partidos ao meio, temperar com sal e malagueta . Deixar estufar lentamente até ficarem escuros mas não secos
Acompanhar com batatas cozidas.
Tudo desaparecia num ápice! Ficava o sabor e o apetite para outros "regalos"... se o António os voltasse a apanhar (geralmente quando estava com mais fome).
Vivia sozinho e não cozinhava.
Vivia sozinho e não cozinhava.
Tinha experiência para
saber distinguir os míscaros certos - não muito velhos nem
muito pequenos, não mordidos, não arrancados do chão ou venenosos.
Sabia onde encontrá-los e como os apanhar.
Levava uma cesta de vime para os transportar arejados e bem acomodados, uma navalha bem afiada e um pau para remexer os montinhos de terra e a caruma.
Introduzia a navalha na terra de forma
diagonal e empurrava o fungo para fora a fim de sair inteiro, tapando o buraco
de seguida.
Trazia quase sempre míscaros
completamente amarelos desde a parte
superior do chapéu, parte inferior e caule porque, dizia ele, são os
mais fáceis de identificar.
Como gostava de nos surpreender, ia
apanhá-los sozinho.
E quando aparecia com a cesta, no habitualmente
rosto inexpressivo rasgava-se um ténue sorriso perante
a nossa saltitante reacção de contentamento.
Pedacinho da casa onde viveu
Imagens Google
Já não me lembro dessas cestas com cogumelos que o António trazia...mas sim do peixe fresco que vendia,em caixas de madeira,sua subsistência. Recebia-o via CP directamente da Figueira da Foz.Peixe fino nuns dias (para os mais afortunados) e sardinha ou carapau,para o povo em geral.
ResponderEliminarMas do que mais me recordo é da sua presença,diária,no inverno,no cantinho da lareira,a fumar o seu cigarro de enrolar.E ainda da preciosa ajuda,nos trabalhos de casa,sobretudo nas contas de dividir e multiplicar....Não esquecendo a sua enorme generosidade,quando aflita porque fui brincar com a grande máquina de costura,deixando enrolar a linha e,adeus agulha!Ora estávamos proibidas,não é!Então,como não tinha dinheiro meu,tirava um ovo da capoeira e em troca ele dava- me 10 tostões para ir a correr comprar outra agulha, prevenindo o eventual castigo !
Memórias que perduram...
Um abraço,
Tina
Desconhecia essa de brincares com a Singer da Mãe e do “negócio” secreto entre os dois.
ResponderEliminarQuanto ao cantinho na lareira, ao “ensino privado” e à venda das sardinhas, foram algumas das memórias que registei num dos primeiros postes que escrevi.
E agora também me recordo da mortalha a envolver o tabaco do cigarro com a lentidão, a arte e o cuidado de quem vai saborear uma "iguaria" sem ter que correr atrás das horas…
Jinho