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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

NA PRIMEIRA PESSOA


A vaga de emigração parece imparável.



Segundo as estimativas da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, todos os anos saem de Portugal entre 120 e 150 mil portugueses.
É uma média de 333 portugueses por dia, de acordo com os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE).
Há 46 anos que não se registava um valor tão elevado. Especialistas ouvidos pelo JN dizem que "a sustentabilidade do país está posta em causa, dado o inevitável agravamento do saldo já negativo de nascimentos (89. 841 em 2012) face ao número de óbitos (107. 612)

A  maioria dos portugueses que sai do país para procurar emprego e uma vida melhor, leva "ilusões", vai atrás de "promessas de paraíso" e depois "encontra dificuldades".
" São variados os casos em que as pessoas vêm trabalhar para empresas de portugueses, pensam que estão a contribuir para a Segurança Social - em França ou em Portugal - e depois, quando precisam, acabam por descobrir que não têm qualquer proteção social", disseram associações da comunidade portuguesa em França à Lusa.



DEPOIMENTOS (de habitantes ou natuais de Portugal) que deviam inquietar, fazer reflectir e desasossegar os responsáveis:

- Fui emigrante durante mais de 20 anos. Regressei a Portugal há mais de 10, pensando que vinha para ficar.
Hoje, à hora do almoço, decidi que vou partir novamente. Este país já não se suporta. Não é para velhos, nem para novos. É só para a pandilha que vive à volta do "pote".

- Adoro o meu país, mas tenho de emigrar, porque não tenho outra hipótese, porque quero a minha independência; quero voar sozinha. 
Peço ao Presidente da República e aos governantes de Portugal para que se preocupem um pouco mais com a geração que está agora a começar a trabalhar. Adoraria retribuir ao meu país tudo aquilo que o país deu de bom, mas o país não me quer mais.

- Eu espero um dia voltar a Portugal, sentar-me à beira-mar e dizer que me orgulho de ser português... Até lá, vamos continuar a viagem.



- Deixei um país onde não há um rumo nem vontade de investir, onde só se fecham portas. Portugal, neste momento, está submerso numa história de enterro. 
Chegar a França e reparar que há uma luta por um investimento nas pessoas, foi o maior contraste.

- Permita-me chorar, odiar este país por minutos que sejam, por não me permitir viver no meu país, trabalhar no meu país, envelhecer no meu país. Permita-me sentir falta do cheiro a mar, do sol, da comida, dos campos da minha aldeia.
Peço-lhe (Presidente da República) para não criar “um imposto” sobre as lágrimas e sobre a saudade. 



- Mas não é só o coração dividido que me impede de passar toda a reforma em Portugal. Um país onde a saúde, a justiça e a educação não funcionam não me convém.
A minha casa está numa aldeia; aquilo é calmo, mas se há um problema de saúde, uma urgência, temos que ir a 30 quilómetros da nossa terra. Isso mete-me medo.

- Em Portugal, a seriedade, o esforço e a determinação não contam.O que me revolta nem sequer é a Troika, o FMI ou um partido político em particular. É todo um sistema político habituado a pensar que o povo é ignorante e a fazer leis para o seu próprio umbigo e para os dos seus familiares.
Regressar é, para já, uma “miragem” . Como Portugal não me oferece qualquer possibilidade, resta-me continuar a procurar o meu caminho no estrangeiro.

- Penso em sair. Não me considero suficientemente velho para ser condenado a um país que trata as pessoas desta forma.

Aqui na Suíça também há crise. Também há desemprego. Também há pessoas a passar dificuldades e fome.
Não aconselho ninguém a vir para cá sem ter onde ficar ou condições para voltar para Portugal se as coisas correrem mal. Arranjar emprego cá não está fácil. Se quiserem arriscar, venham ao menos conscientes de quais os verdadeiros riscos.
A mensagem que tenho para todos é: A não ser que tenham um bom nível de francês ou um CV competitivo (leia-se Informática, Engenheiro Civil, Enfermeiros e Médicos), não vale a pena nem tentar. A sério. E mesmo para quem tem um bom nível de francês, é muito complicado.


- Se pudesse voltava. Sem dúvida. Porque Paris foi, para os três, um salto para o sonho, mas não é o sonho inteiro.


- A dificuldade em encontrar emprego em Portugal e os melhores salários oferecidos noutros países são os principais motivos 
O Reino Unido tem vindo a abrir o seu serviço nacional de saúde à medicina dentária. Acresce ainda que na Europa do Norte e Centro há falta de médicos dentistas

- Não faço questão de continuar em França. Estou a tentar ao máximo viver os meus sonhos, sem que o meu país me condicione, sem que o governo de cada país nos condicione. E é o que eu sinto, essa é a minha maior frustração, é sentir que temos muito para dar e que não nos deixam.

- Não me vejo a voltar. Talvez daqui a uma década ou mais, se tiver realmente um bom dinheiro de parte para investir num negócio meu.

- Sou "português" em Nova Iorque
Se só “expulsarmos” os jovens portugueses para o estrangeiro com medidas desumanas e politicas extremadas, vamos ganhá-los enquanto emigrantes, mas perdê-los enquanto embaixadores. 


- Obviamente que uma parte de mim gostaria de voltar, gostaria de estar a trabalhar ao pé da minha família numa cidade que conheço e que adoro, da praia, mas está complicado; o nível de vida em Portugal não é o mesmo que aqui.

- Chesterfield conquistou ambos(casal). É uma cidade que tem a dimensão ideal. Pequena o suficiente para não ter confusões e grande o suficiente para termos todas as comodidades. E rapidamente nos deslocamos a várias cidades importantes. De comboio para Londres são pouco mais de duas horas (...); é uma cidade onde, até hoje, não encontramos nada particularmente desagradável 
De momento não pensamos num possível regresso...


- Filha de emigrantes, sei o que é procurar num país distante uma sorte melhor do que a que se tem no nosso país.
De facto, o problema da nossa economia é não produzir, mas será que não produzimos mesmo? 
Portugal produz e exporta atualmente um dos seus maiores bens: o SEU POVO.
Viver neste país tornou-se demasiado caro e desgraça não será de todo partir… desgraça é viver neste país sem futuro!

- Depois temos que admitir que apesar da crise, Portugal é um bom país para se viver; temos boa comida (para quem?), bom tempo e relativa segurança.

- Estou na mesma situação, mas eu não quero emigrar, não quero deixar toda a minha vida para trás, toda a minha família, amigos e namorado! Simplesmente não consigo e não tenho forças para isso! Mas é triste não ver recompensado tanto esforço que fiz!
Certos, são os "tachos", que nunca acabam! Na minha terra é um "fartote"!

- Quando falo em pátria, falo nas minhas raízes, falo numa cultura com a qual me identifico! Não o faço apenas porque sim, mas por experiência própria! Sinto falta dos sítios, dos cheiros, das pessoas, dos hábitos! Nesse sentido sou uma retrógrada! 
Coisas pontuais e temporárias venham elas. Algo mais permanente, dispenso!


- Eu vivo no estrangeiro e perguntam-me porque não tenho orgulho do meu país… Como posso ter orgulho num país miserável onde não há trabalho, fome e corrupção
Canudo no bolso e trabalhar em call center com salários de miséria?
Ainda bem que abandonei esse país há muitos anos. Portugal nunca mais.


- Sai de Portugal há cinco anos e tenho saudades. Amo o meu país e digo mais, sinto orgulho de fazer parte desse povo com história, mas como posso voltar nestas condições?

- Quando uma amiga me convidou para vir para a Alemanha, nem pensei duas vezes. Fiz as malas e aqui estou já há uns anos.
Nem conta bancária tenho em Portugal.
Saúde? Só mesmo os dentes porque a prima é dentista. Aqui vou a um hospital e sou atendido numa hora ou duas se não for urgência. Ao médico vou no próprio dia ou no dia a seguir...
Não saí de Portugal para ser "adulto"... Saí para poder arranjar trabalho na área que estudei e ser pago também pela experiência que já tenho.
Em Portugal, canudo dá para varrer ruas...


- Quem gostar de ser emigrante que levante a mão! Eu gosto de ser português mas vou trabalhar para onde encontrar trabalho porque falo três línguas sem problemas.

- Ao contrário do que por aí se pensa, muitos de nós emigrantes vivemos com muitas dificuldades e a maioria cai na miséria sem dinheiro nem coragem para pelo menos ir morrer junto dos filhos ou dos pais. Eu sou um deles, apesar de várias qualificações superiores pós-licenciatura. A única riqueza que desejo é ir morrer junto dos meus sem suicídio, sem os incomodar.

- 99% dos portugueses que vem para a Suíça, são trabalhadores temporários. Na Suíça não é bem o que parece - os salários são bastante altos, relacionados com os de Portugal. Mas o custo de vida também é muito elevado, gasta-se muito naquilo que é necessário. Eu costumo dizer: dão com uma mão o que nos tiram com as duas.

- O teu Pais é aquele onde te sentes bem, é verdade, mas nunca esqueço o meu Portugal, que é lindo.

- O desemprego jovem coloca-nos um gigantesco nó na garganta.
Que pessoa podemos ser se nunca encontrarmos um emprego (uma posição social) que nos encaixe na sociedade? 
De que ritmos de trabalho e organização (profissional e familiar) ficamos amputados por esse vazio?
A médio prazo esta perda de pessoas, sobretudo qualificadas, pode varrer Portugal do mapa dos países com mão-de-obra suficiente (e competente) para os negócios das novas eras. O nosso futuro decide-se em boa parte no que acontecer a esta geração entalada pela depressão económica.


E os desabafos, a revolta, a mágoa, o conformismo, a injustiça, o fado, dão para fazer colares de contas de muitos rosários...




Num Estudo efectuado pelo sociólogo João Teixeira Lopes sobre Novos Emigrantes para França, aponta o risco de Portugal perder o rasto dos novos emigrantes.
Os novos emigrantes qualificados não têm amigos franceses nem se cruzam com a velha diáspora portuguesa, na qual não se reveem.
"Mantêm-se num limbo curioso", para denunciar o "potencial de anomia" destes jovens. "Vivem num gueto não desqualificado, mas é, ainda assim, um gueto".
E também porque não precisam das autoridades portuguesas para planear a sua saída, "estes jovens escapam totalmente às malhas das políticas públicas", ou seja, "deixam de existir".
Assim, a única coisa que o país ganha com estas saídas é a redução das taxas de desemprego.
No recomendado restabelecimento dos laços, de pouco valerão as embaixadas e consulados.
Para conseguir identificar os 113 jovens inquiridos, João Teixeira Lopes espalhou apelos por redes como o Facebook e o Linkedin. Queria “jovens, entre os 20 e os 35 anos, com formação superior”. Nas instituições oficiais, não conseguiu nada, o que mostra que eles não contactam as instituições oficiais portuguesas. Como o cartão de cidadão funciona muito bem, eles tratam das questões da Segurança Social, sim, mas em França.


O embaixador de Portugal em França considera que a sua geração e "todas as que obrigaram os portugueses a sair por razões económicas" falharam e devem "criar condições" para que quem nasce em Portugal possa viver no país. É um erro que tem que ser "retificado".
"A menos que as pessoas queiram mudar de vida e fazer uma opção em termos de outras oportunidades, a emigração forçada por razões de natureza económica é uma tragédia nacional e é algo de que nós não nos devemos orgulhar".


Segundo o Tribunal de Contas, num relatório feito a pedido do Parlamento, entre a primária e o ensino secundário, um estudante representa um custo de 46.688,28 euros, a que acrescem, em muitos casos, despesas referentes ao ensino superior e a bolsas.


Já os países que acolhem os estudantes portugueses, apesar de não terem investido na sua educação, beneficiam dos seus conhecimentos e, se os jovens não regressarem, Portugal não ganha a experiência que adquiriram fora.



E qual é a atitude dos responsáveis governamentais?



"O Estado não valoriza o capital humano, apenas se preocupa com o capital financeiro", disse à Lusa Armando Garcia Pires, professor na Norwegian School of Economics, onde vive há seis anos.
Pires considera que a visão "neoliberal" do governo português baseia-se no pensamento "errado" de que se a gente "vai embora, desce o desemprego e a economia cresce".



O primeiro-ministro português, Passos Coelho afirmou em Paris que "ninguém aconselhou os portugueses a emigrarem", considerando, no entanto, que a emigração não deve ser um "estigma" para quem precisa de um emprego e não consegue encontrá-lo em Portugal.
Porém, em Dezembro de 2011, numa entrevista publicada no Correio da Manhã, Passos Coelho foi questionado sobre se aconselharia os “professores excedentários" que o país tem a "abandonar a sua zona de conforto e a procurar emprego noutro sítio”. O primeiro-ministro respondeu então que, “em Angola, e não só, o Brasil tem também uma grande necessidade ao nível do ensino básico e secundário

Como se o Brasil precisasse de professores! Talvez para ensinar Português... (que português?).






O primeiro-ministro raramente dispõe de uma palavra de reconhecimento ou de conforto aos portugueses em sofrimento. E quando anuncia ou discute pedaços de nova austeridade, fá-lo na risota, como se tem verificado em imagens recolhidas nos debates da Assembleia da República (“sorrisinhos matreiro-cínicos com Paulo Portas, Maria Luís Albuquerque ou algum dos outros seus ajudantes de cortes”).

Indiferença, falta de sensibilidade, frivolidade discursiva disparatada, sorrisos da desgraça alheiaincompetência. 

Porque não temos nós capacidade (ou não queremos) dar um rumo inteligente ao País?

Parece um enígma. Mas não é. 


Imagens Google

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