Hoje resolvi fazer uma surpresa à minha
amiga I.M. que se enclausurou numa casa de repouso para, na altura, não se
separar do marido “bafejado” por Alzheimer.
Foi há 14 anos que o Braemer, na Noruega,
por entre braços de fiordes, cascatas e vilarejos nos aproximou, tanto na
partilha de mesa, como nas conversas de bar, no deck ao sol ou nos mergulhos na
piscina.
Lisboa tornou-se, depois, o ponto de
encontro.
Entretanto, A. adoeceu e I.M. ficou “prisioneira”, sem a colaboração
de que precisava. Cansada e mais velha, optou por uma casa de repouso.
Menos frequente agora, o cavaqueio passou a ser lá. Até poderia não ser, sim. Porém, a I.M. começou a cegar e,
presentemente, apenas me reconhece pela voz. O marido, “exonerado” pelos sentidos, já
não caminha nem fala.
Diz-se que "
Cada qual traça o seu destino de acordo com a sua vontade, os seus gostos, os
seus ideais e os seus princípios morais.” Racional
Superior - livro Universo em Desencanto
Não, ninguém acredita que a I.M. tenha
escolhido aquele destino. A vida é mesmo feita de surpresas. Boas e más.
Fiel aos seus princípios, tem aceitado tudo estóica e resignadamente.
Mas hoje, a I.M. estava diferente – cansada,
com edemas, parca nas palavras, apática, "desligada"...
“Só me apetece estar deitada. A Teresa desculpe”,
disse.
“Prove um chocolate, I.”, retorqui ainda.
“Sim…”
Mas parte dele permanecia desfazendo-se entre
os dedos de unhas bem cuidadas.
Talvez o destino lhe tenha traçado o fim
da caminhada. Talvez não lhe ouça mais pronunciar o meu nome.
Ou talvez sim. Oxalá.
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