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quarta-feira, 4 de julho de 2018

O ENCONTRO






Hoje resolvi fazer uma surpresa à minha amiga I.M. que se enclausurou numa casa de repouso para, na altura, não se separar do marido “bafejado” por Alzheimer.

Foi há 14 anos que o Braemer, na Noruega, por entre braços de fiordes, cascatas e vilarejos nos aproximou, tanto na partilha de mesa, como nas conversas de bar, no deck ao sol ou nos mergulhos na piscina.

Lisboa tornou-se, depois, o ponto de encontro. 
Entretanto, A. adoeceu e I.M. ficou “prisioneira”, sem a colaboração de que precisava. Cansada e mais velha, optou por uma casa de repouso.

Menos frequente agora, o cavaqueio passou a ser lá. Até poderia não ser, sim. Porém, a I.M. começou a cegar e, presentemente, apenas me reconhece pela voz. O marido, “exonerado” pelos sentidos, já não caminha nem fala.

Diz-se que " Cada qual traça o seu destino de acordo com a sua vontade, os seus gostos, os seus ideais e os seus princípios morais.” Racional Superior - livro Universo em Desencanto

Não, ninguém acredita que a I.M. tenha escolhido aquele destino. A vida é mesmo feita de surpresas. Boas e más.
Fiel aos seus princípios, tem aceitado tudo estóica e resignadamente.

Mas hoje, a I.M. estava diferente – cansada, com edemas, parca nas palavras, apática, "desligada"...

“Só me apetece estar deitada. A Teresa desculpe”, disse.
“Prove um chocolate, I.”, retorqui ainda.
“Sim…”
Mas parte dele permanecia desfazendo-se entre os dedos de unhas bem cuidadas.

Talvez o destino lhe tenha traçado o fim da caminhada. Talvez não lhe ouça mais pronunciar o meu nome.

Ou talvez sim. Oxalá.


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