Já eu frequentava os últimos anos do secundário quando a
minha irmã M. C. e a minha prima M. M. iniciaram, juntas, o mesmo nível de
ensino.
A Língua Francesa era uma das disciplinas e o método
usado pela professora para memorizarmos as palavras era o do Caderno de Significados.
Nele
escrevíamos, em duas longas listas paralelas, os vocábulos de Francês e de Português,
respetivamente.
Era um processo pedagógico aborrecido e enfadonho, tipo
lista telefónica, para fazer entrar cada palavra na memória. E para a maioria das
alunas como eu ou a minha irmã, era também bastante ineficaz porque quando se
chegava à segunda parte da lista, já muitas primeiras estavam esquecidas.
Todavia, sei hoje que esta ineficácia é normal, visto que
o nosso cérebro não consegue adquirir tanta informação sob a forma de cadeias
de caracteres deixando, portanto, alguns pelo caminho.
Mas a nossa prima lia as palavras
uma única vez e fixava-as na totalidade!
E o mesmo acontecia com uma
colega minha, M. E., nas disciplinas de Inglês/Francês.
Porém, nunca ninguém se preocupou nem com essa rapidez de
aprendizagem nem com a maior lentidão do resto das alunas. As professoras
achavam que era apenas falta de interesse e indisciplina.
Eu, apesar de perceber que seria muito difícil superarem as
horas mortas, achava que deviam tentar fazê-lo mas, por outro lado, também não
concordava que estivessem “presas” durante tantos momentos em sofrimento
reprimido.
Como M.E. e M. M. apreendiam tudo com facilidade e não
tinham mais nada para fazer, ficavam ociosas durante boa parte das aulas
porque, incapazes de se concentrarem no que já não lhes interessava, só queriam
distrair-se com o que as divertia (o recreio), prejudicando o ritmo normal da
turma.
Com muitas repreensões, M. M. lá foi ultrapassando o
estado das coisas.
Mas M. E., muito mais impaciente e irrequieta acabou por ser
expulsa do Colégio logo no 2º ano. Ela ficava na carteira da frente e eu por
detrás; mal acabava qualquer trabalho, voltava-se para mim a conversar e
de costas para a secretária. Quando a professora lhe dizia “M. vire-se para a frente”, ela ia rodando
devagarinho fazendo pequenas paragens pelo meio e olhando em redor até ficar voltada. Mas o espetáculo
recomeçava logo de seguida, provocando tímidas gargalhadas.
Sei que ambas continuaram brilhantes nas carreiras que
escolheram - Biologia e Medicina.
Relacionando o que aprendi mais tarde com os casos
descritos, acredito que poderiam ter sido alunas sobredotadas,
termo que ao tempo talvez fosse pouco conhecido (pelo menos naquele meio).
Além de serem classificadas apenas como traquinas,
avessas a rotinas, desatentas, desmotivadas, críticas, desadaptadas, inquietas,
nunca se chegou a saber se poderiam ter outras capacidades próprias desse tipo
de crianças como a possibilidade de demonstrar interesses através de perguntas,
habilidades especiais, etc., porque nunca ninguém lhes ofereceu qualquer
desafio - apenas repreensões.
Caraterísticas dos
superdotados
Através do estudo clínico de
cérebros doados, concluiu-se que a quantidade de células nervosas é a mesma; o
que varia é a complexidade das conexões entre elas.
Tem-se desenvolvido uma grande variedade de listas para os
classificar mas é quase impossível determinar quais são exatamente porque os
atributos diferem bastante entre as crianças superdotadas.
Há que considerar os fatores
genéticos e ambientais, não estereotipar
e fazer a análise tomando-as apenas como
indicadores.
As crianças que, quando
relacionadas com outras da mesma faixa etária, apresentem consistência de
comportamentos em várias das características referenciadas, deverão ser tidas como
talentosas:
Pensamento criativo, capacidade de liderança, talento
especial para as artes, rapidez na perceção do mundo e do meio, curiosidade,
memória acentuada sobretudo para moradas enomes, senso de humor, aprendizagem de Línguas facilmente,
adaptação rápida a novas situações e ambientes, expressão de ideias e reações
de forma argumentativa, aptidão académica específica, originalidade, persistência,
autonomia e independência, flexibilidade e abertura, fluência no vocabulário,
amadurecimento no modo de ser, habilidade para perceber a relação entre os
factos, compreensão dos fenómenos da Natureza, alto nível de sensibilidade e
empatia com os outros, variedade de interesses sendo alguns acima da idade
cronológica, sensatez, impaciência, inconformismo, alto desempenho em
determinadas áreas.
Também pode haver alunos com síndome de Down capazes de atingir níveis de desempenho extraordinário em determinadas áreas.
É importante os familiares, a escola e os próprios
educandos estarem conscientes de que muitas destas caraterísticas são próprias
de um superdotado a fim de todos estarem preparados para conviver com a diferença:
A escola, através da
criação de estratégias de enriquecimento
por meio de atividades de aprendizagem individual ou em grupo,
desenvolvimento de projetos de pesquisa e fornecimento de experiências de exploração
ou utilizando o processo de aceleração
em que o aluno cumpre o programa escolar em menos tempo.
Há ainda quem defenda
o método de segregação, formando
turmas especiais com administração de cursos diferentes.
São crianças que precisam de oportunidades como qualquer outro aluno mas
adaptadas ao nível das suas aptidões e talentos.
Os professores devem desenvolver a sensiilidade e a afetividade e, se necessário, obter formação
e conhecimentos para os ajudarem a gostar de desafios,
a estimular o pensamento criativo, a suplantar dificuldades na adaptação escolar
ou no ajustamento social.
As crianças precisam de
identificar as suas próprias potencialidades - os pontos fracos e os pontos
fortes - para se sentirem mais seguras e incentivadas.
Evitar, no entanto, que fiquem vaidosas ou superiores às
outras.
Poderão ser até estimuladas a sentirem-se úteis na ajuda às que apresentam maiores dificuldades de aprendizagem.
As famílias deverão ser orientadas no sentido de as incentivar sem esquecer que também têm limitações.
Alguns sites com talentosos:
Pianista cego e com síndrome de Down
http://www.youtube.com/watch?v=ayZbZ5bKOdM
Bébé a cantar na Igreja
Contribuir para o equilíbrio
entre as diferentes idades cronológica, emocional e social dos supradotados, é
responsabilidade de todos os envolvidos.
Imagens Google
Videos You Tube