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quinta-feira, 16 de abril de 2015

"NÃO PERCAM O AGORA..."

Vindima em Arles (A Miséria Humana), Copenhaga, Ordupgaard 

A miséria de uma criança interessa a uma mãe, a miséria de um rapaz interessa a uma rapariga, a miséria de um velho não interessa a ninguém.
Victor Hugo

A velhice, quarta parte da duração média da existência, é condição de ser velho. E o velho pode ou não ser miserável.



“A Coruja de Minerva só levanta voo ao entardecer”...
Hegel

Se a sábia coruja de Hegel, símbolo da Filosofia da Modernidade ocidental, não adepta de uma visão unidireccional, servisse sempre de orientação na experiência de vida ao longo dos vários anos, talvez um velho até nunca chegasse a ser miserável porque a voz da razão, ao racionalizar a história, mostra que não terá sido em vão.

Porém, nem sempre a inteligência, argúcia, astúcia e sensibilidade da dita coruja, entre outros predicados, são devidamente aplicados pelas pessoas.

Compreende-se que, depois de décadas a conjugar a experiência com o entendimento, alguém, numa pequena fracção da vida, não tenha sabido discernir o óbvio deixando-se arrastar para uma situação de cujos bons resultados nem sequer duvidou? Tal como num sistema de lotaria espera-se sempre que caia a sorte. Algumas vezes ganha-se; outras não...


Viver com dores permanentes faz até esquecer que há pessoas que não as têm.
Tudo dói.
Dói levantar e baixar os braços para comer, escrever, pentear ou prender; dói caminhar, pisar o chão, sentar; dói mastigar, engolir, falar, tossir; dói ver passar tantas horas civis, mortas, contadas, tardias, avançadas, a compasso ou simplesmente a horar; dói, até, pensar. Todo o espaço é ocupado por dôr!

Alguns "pacientes" com dores não as tomam como objecto de conversa ou refutam as contracções por elas provocadas e as pessoas com quem convivem nem acreditam que se vive mesmo com elas todos os dias
Percebe-se isso pela expressão facial, pelo tom com que fazem as perguntas, pela comparação com as dores esporádicas que dizem sentir.
- A mim, hoje também me doem. (dizem, para animar, sempre que escapa um apoio às costas)
- Nas ruas em declive já não se anda com a mesma facilidade (palavras simpáticas na paragem a meio de um percurso)
- As articulações tornam-se menos funcionais à mediada que a idade vai avançando (se se ajeita o pescoço para melhor ver em redor).

Que dizer? Esboçar um sorriso...



Se eu pudesse novamente viver a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais, seria mais tolo do que tenho sido.
Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiénico. Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvetes e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e profundamente cada minuto de sua vida; claro que tive momentos de alegria.
Mas se eu pudesse voltar a viver trataria somente de ter bons momentos.
Porque se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos; não percam o agora."
Don Herold


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quinta-feira, 9 de abril de 2015

AMÉM, AÇUCENAS!


Brancas exuberantes
E roxas abundantes
Todas açucenas.
Apenas!

Assim lhes chamavam
Quando as olhavam
O Pai e a Mãe.
Amém!

Amarilidáceas
Brancas e violáceas
Eram farfalhudas
Repolhudas

E lírios radiantes
Graciosos, brilhantes
Só no ancestral
Espadanal





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segunda-feira, 6 de abril de 2015

LUGARES E PERCURSOS


Ribeira das Vinhas - Lagoa Azul

- A Ribeira das Vinhas aqui em frente está completamente seca!
Será que nos quase 10 Km de percurso, desde a montante da Lagoa Azul até à Praia da Ribeira, já não existe nem um resquício de água?
- Talvez chova dentro de dias, segundo os meteorologistas…
- Que tarde tão linda - temperatura amena, céu quase limpo, apenas um ventinho muito fraco de norte…
Vou andar de bicicleta até ao Guincho.
- Sim. Mas quase 9 Km de ciclovia são um bom percurso!
- Já o tenho feito várias vezes. Atravesso ali o mercado e quando chegar à Marina entro na ciclovia, sempre paralela ao mar, ao longo das Avenidas Rei Humberto II de Itália, da República e da Senhora do Cabo e Estrada do Guincho. Gosto daquela natureza um pouco selvagem. 
Depois há os Faróis de Santa Marta, da Guia e do Cabo Raso, os Fortes de S. Jorge de oitavos, de Crismina e do Guincho, várias praias e arribas.

- Então até mais logo.  


A Praia do Guincho fica num enquadramento paisagístico invulgar, devido à serra de Sintra e às dunas.
Existem dunas de vários tipos – as embrionárias móveis que correspondem aos primeiros estados de vegetação dunar, as brancas que constituem os cordões arenosos próximos do mar e as cinzentas que são fixas e colonizadas por arrelvados vivazes e tapetes de líquenes e musgos.
Tem um areal com cerca de 800 metros. Durante a maré baixa pode observar-se o afloramento de rochas de basalto.
Habitualmente as ondas são muito grandes, óptimas para a prática de desportos aquáticos mas não para nadadores pouco experientes.

- E pronto, já cá estou. Vou tomar um banho quente.
A praia não devia estar má porque tinha bastantes pessoas. E muitos surfistas, como sempre.
Tirei umas fotos. 
- Ainda bem. Vou publicá-las no meu blogue.

   

sexta-feira, 3 de abril de 2015

BIG BANG / OVOS / PÁSCOA


Muitas civilizações acreditavam que o mundo tinha surgido do caos, por meio de um “ovo cósmico“, semelhante ao ovo de uma galinha que se abriu, dando origem ao globo terrestre (a gema), ao firmamento/ atmosfera (a clara) e à esfera celeste/ astros (a casca). 
Simbolicamente é possível ver o céu como a parte leve do ovo - a clara, e a terra como a parte mais densa - a gema.


Muito superficialmete, como simples leiga:
O caos - energia parada – explosão ( Teoria do Big Bangde uma esfera compacta e densa, subitamente em movimento com formação de cristais imbuídos de inteligência geométrica – relatividade – luz gerada na explosão à velocidade de 300.000 Km/ segundo – Universo em expansão com espaços e matéria – formação de planetas – arrefecimento – primeiras moléculas de aminoácidos – “reprodução” – proteínas com códigos – retenção de informações ditadas pelas sequências dos aminoácidos nas moléculas – primeira molécula de ADN – genes e origem da hereditariedade de todas as espécies (vide: genética e memética – origem da inteligência orgânica).




De acordo com as teorias geralmente aceites, a Terra terá tido o início da sua formação há aproximadamente 4.567 milhões de anos, através de várias nuvens de gás e poeira em rotação, que deu origem ao nosso Sistema Solar. 
Mas a vida começou na terra há pouco mais de 3600 milhões de anos.
Todas as nossas 27 raças humanas são de origem extraterrestre.
A Terra é, na verdade, o único ponto do Universo onde há a certeza de vida e é muito mais do que um simples ponto azul-claro, perdido no espaço (Fotomontagem Nasa)
O Universo vai-se expandindo à velocidade da luz. 
E fora do Universo existe mais caos…


Há vários séculos, os povos do oriente, embrulhavam os ovos naturais com cascas de cebola e cozinhavam-nos com beterraba para comemorar a chegada da Primavera; ao serem retirados do fogo, ficavam com desenhos mosqueados na casca e eram dados como presente.
O ovo, símbolo da fertilidade relacionado com a Páscoa (assim como o coelho), é um dos vestígios culturais dessas festividades de primavera pagãs em homenagem à deusa Ostera, absorvidos pelas comemorações judaico-cristãs.

É de Ostera que resulta a palavra Easter  (Páscoa, em inglês).

Na festa cristianizada, o ovo passou a representar a ressurreição e o coelho, a fertilidade do evangelho. O ovo aparece como uma renovação periódica da natureza - “mito da criação cíclica”.


Foi no Concílio I de Niceia, primeiro Concílio Ecuménico, ano 325 d. C., quando a Igreja já usufruía de uma paz estável e de liberdade para se reunir aberta­mente que, com a participação de bispos de todas as regiões onde havia cristãos, se redigiu um símbolo de fé dizendo que Jesus Cristo é “da substância do Pai, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, homoousios tou Patrou  (consubstancial ao Pai)”.

Além dessa questão fundamental, também se fixou­ a celebração da Páscoa no “primeiro Domingo depois do primeiro plenilúnio da Primavera”, seguindo a prática habitual na igreja de Roma, embora não tivesse havido total consenso.


Muito recentemente, em 1997, o Conselho Mundial de Igrejas propôs, num encontro em Alepo, na Síria, que a Páscoa fosse definida “no primeiro domingo após a primeira lua cheia astronómica posterior ao equinócio vernal (relativo à Primavera) como determinado no meridiano de Jerusalém”. 
A reforma seria implementada a partir de 2001, ano em que as datas da Páscoa no ocidente e no oriente coincidiram. Mas as igrejas romanas (calendário lunar) e ortodoxas (calendário solar) ainda hoje festejam em datas diferentes.

O moderno ovo de páscoa apareceu por volta de 1828, quando a indústria de chocolate começou a desenvolver-se. E as décadas de 1920 e 1930 destacaram-se com ovos gigantescos, exageradamente decorados.

Em muitos países europeus ainda se acredita que comer ovos no Domingo de Páscoa traz saúde e sorte para o resto do ano.

Porem, actualmente, estão mais relacionados com estratégias de marketing.

Na Páscoa, os ricos de São Petersburgo davam joias como presentes. Unindo a tradição, na época, de dar a amigos e parentes ovos de galinha pintados à mão, o czar encomendou a Fabergé um ovo de Páscoa que fosse, na verdade, uma joia.

Em 2014, à semelhança de Cow Parade em 2000 nas ruas de NYC, Nova Iorque lançou o The Big Egg Hunt NY com cerca de 300 ovos "escondidos" em torno da cidade, pintados por vários artistas com desenhos dos ovos de Febergé.

Na Alemanha é costume as famílias decorarem árvores com ovos pintados. Há árvores que chegam a ter mais de 9 mil ovos.


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sexta-feira, 27 de março de 2015

AS PRIMEIRAS-DAMAS DE PORTUGAL - 8



Maria Joana Morais Perdigão Queiroga de Almeida
6ª Primeira-Dama de Portugal

Nasceu no Redondo em 9 de Março de 1885.
Era filha de Joaquim José Perdigão Queiroga,* um abastado agricultor alentejano, republicano, e de Maria Cândida de Morais Queiroga.
Teve quatro irmãos mais novos (Antónia, Maria José, Catarina e José Manuel Nobre Perdigão Queiroga), filhos do segundo casamento do pai com Mariana Nobre.
 


José Manuel Nobre Perdigão Queiroga, cineasta, estudou técnica cinematográfica, especializando-se nos campos da fotografia e da montagem.






Casou com António José de Almeida, natural de Vale da Vinha, Concelho de Penacova, filho de uma família modesta de lavradores, 19 anos mais velho, a 14 de Dezembro de 1910, na Administração  do 1º Bairro de Lisboa. 
Foi um casamento civil, de acordo com as convicções de António José de Almeida, cristão mas não católico.
Teve como testemunhas Francisco António de Almeida, Juiz da Relação de Lisboa, irmão de António José de Almeida e Manuel de Arriaga, Procurador-Geral da República.

António José de Almeida na casa onde nasceu (actualmente em ruinas)

Maria Joana, que vivia em Évora, conheceu o seu futuro marido, médico e político, em 1902 num comício realizado no Alentejo.
Namoraram durante nove anos.

Ficaram a morar na rua de S. Gens, uma pequena casa habitada por António José de Almeida, enquanto solteiro.

Do casamento nasceu, em 27 de Dezembro de 1911, a sua única filha, Maria Teresa Queiroga de Almeida que casou com o médico Júlio Gomes da Cunha de Abreu e teve três filhos:
- António José D'Almeida de Abreu (11-03-1943)
- Maria Manuela D'Almeida de Abreu (05-08-1944)
- Maria Teresa D'Almeida de Abreu (18-04-1946), casada com José Esaguy Onofre.
Nenhum dos filhos seguiu a carreira política, optando pela carreira médica.

Em 1916, participa nas actividades da Cruzada das Mulheres Portuguesas, presidindo à Comissão de Assistência às Mulheres e Mães dos Mobilizados.


Em Outubro de 1919, o marido assume as funções de 6º Presidente da República.

Maria Joana de Morais Perdigão Queiroga de Almeida, torna-se Primeira-Dama  (5 de Outubro de 1919 a 5 de Outubro de 1923).

Habitaram no histórico palacete, nº 114, da Av. António Augusto de Aguiar, hoje substituído por um edifício de vários andares.

Como António José de Almeida sofria de gota, costumavam passar férias em estâncias termais no norte do país ou numa casa alugada, perto da Parede. 

Foi o único presidente da Primeira República Portuguesa a cumprir o mandato de 4 anos, assim como a reiniciar a presidência civil.
O período, marcado por uma grande crise social e política, registou várias alterações da ordem pública, sendo de destacar a “Noite Sangrenta” de 18 para 19 de Outubro de1921, cujos motivos nunca foram inteiramente esclarecidos. Sabe-se que um grupo de marinheiros amotinados atravessou Lisboa e assassinou várias personalidades - o Chefe do Governo António Granjo, o contra-almirante Machado Santos e Carlos Maia, entre outros.

Espingarda usada como defesa na noite de 19 de Outubro de 1921

Quando a GNR telefonou a avisar do perigo, António José de Almeida estava em casa a convalescer da sua doença crónica. Maria Joana pegou numa caçadeira que guardava desde o tempo em que participava nas caçadas à raposa e, do 1º andar do palacete em que viviam, faz pontaria para a rua.

A presença da Primeira-Dama em cerimónias oficiais, foi irrelevante. Aconteceu em Novembro de 1920, durante a visita do rei Leopoldo da Bélgica. 
Terá ido com o Presidente na visita oficial ao Brasil, para participar no Centenário da Independência?
Em 1923 dirige a Comissão Organizadora da Festa da Flor para angariação de fundos para a Cruz Vermelha. E é agraciada com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo
Em Maio de 1928 ainda participa no movimento nacional de apoio às famílias dos presos, deportados e exilados, presidindo à respectiva Comissão de Honra.

Maria Joana com o marido e filha

A 31 de Outubro de 1929, com 64 anos, António José de Almeida morre de gota, na rua Ressano Garcia. 
Maria Joana fica viúva aos 44 anos.  
Passa o tempo dedicando-se à família, especialmente aos netos.

Alguns amigos reuniram os principais artigos e discursos do Presidente em três volumes, intitulados “Quarenta anos de vida literária e política” e a obra foi publicada a título póstumo, em 1934. 
Ergueram-lhe ainda uma estátua em Lisboa na Praça homónima, da autoria do escultor Leopoldo de Almeida e do arquitecto Pardal Monteiro.

Maria Joana morreu em 1965, na rua Ressano Garcia, de acidente vascular cerebral

Maria Joana e a filha, no acto da inauguração

*Joaquim José Perdigão Queiroga foi proprietário da Quinta das Ferrenhas, perto do Freixo, uma pequena aldeia pertencente à comunidade do Redondo.
Pessoa de grande iniciativa, introduziu tecnologias modernas nas suas propriedades e dedicou-se a várias invenções, ainda hoje utilizadas na indústria e na agricultura.
Dentro dos terrenos da Herdade existe um edifício que funcionou como escola privada, hoje desactivada, e que em tempos foi frequentada pelas crianças dos “Montes” mais próximos.
Em meados do século passado viviam ali cerca até 50 pessoas.
Maria Teresa Queiroga de Almeida, a única herdeira, vendeu a casa e a quinta a Pepe Duque Ferrão e família Tavares, em 1986.

Quinta das Ferrenhas

Presentemente pertence ao casal Rung depois de ter conseguido desanexar uma enorme área envolvente de sobreiros antes de a ter adquirido.

Adenda: Para os interessados, acrescento uma das fontes de pesquisa - um curioso documento com fotos, em pdf.

https://www.siteadvisor.com/sites/http%3A//www.ferrenhas.com/html/documentferrao.pdf?
http://www.ferrenhas.com/html/documentFerrao.pdf


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sexta-feira, 20 de março de 2015

DE VESTIDO AMARELO



"Todos os anos na mesma altura
a montanha veste o mesmo vestido amarelo
para ver se ainda lhe serve na cintura"

(in "O Poeta Nu", Jorge Sousa Braga)



As mimosas vão florindo por todo o lado, mas não só. Outras amarelas disputam as atenções da Primavera. E as de cor lilás, púrpura, vermelha ou no conjunto entre o branco e o azul...






Descontraídos, de cores frescas e vibrantes, são também os primeiros looks que mostram flores de todos os tamanhos, numa verdadeira celebração à Primavera.



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quinta-feira, 19 de março de 2015

DIA DO PAI

Dia do Pai, de todos os pais
E do meu Pai
Passageiro contrariado num cais
Donde saiu
Destrancado, sem arrais
Para onde?

Se me ouvir lá nesse lugar
Desconhecido
Quero dizer, sem vacilar
Quanto falhei
Por tão pouco lhe dar
Dando tudo.

Sinto falta das conversas
Do sorriso
Das anedotas dispersas
No pátio
Das tardes de verão imersas
No passado!

Não seria nada do que sou
Com desamor
Embora como o destino rumou
Sem opção
Não fosse o que me desejou
Mas cresci.

Hoje deixo aqui o meu abraço
Agradecida
Porque a cadeira do terraço
Apenas é.


j