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quarta-feira, 6 de março de 2013

O MEU PAÍS TEM AROMAS


Portugal (via satélite)

Miscelânea, mosaico abrangente e caótico, arena geográfica de diversos protagonistas, Portugal é o "País que o mar não quer"- Ruy Belo 


O MEU PAÍS É UM MOSAICO

"De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua,
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua"
Sophia de Mello Breyner Andresen

Em 830 Km de costa refugiam-se praias de areias finas e brancas para todos os gostos - banhadas por águas revigorantes e frias, no Minho; de beleza selvagem e enseadas abrigadas, no Alentejo; de influência cosmopolita por Lisboa, capital do mar; de grandes extensões ou de pequenas aldeias piscatórias, aninhadas entre os rochedos, no Algarve; de areia dourada, na costa de Sintra.
Mares de águas luminosas para mergulho e ondas imagem-de-marca animam os entusiastas do surf/windsurf nas Baleares, Guincho, Peniche, Nazaré, Matosinhos, Madeira.
Os faróis das Berlengas e cabos, guiam briosa e serenamente os navegantes nocturnos.
gaivotas que gritam “anacã! anacã! anacã!” e lotas de peixe fresco.

Cheira a maresia!

 Praias - Porto Santo                           Peniche

Lota de peixe de Cascais                                Farol do Cabo Espichel

As paisagens do interior são desenhadas com matas de pinheiros e caruma pelo chão, de sobreiros e oliveiras em planícies alentejanas, pomares de cerejeiras na Beira Alta ou de amendoeiras e laranjeiras no Algarve, de um cristalino espetáculo vulcânico e sebes de hortências nos Açores, de plantações de vinha em socalcos no Douro, de...

Cheira a jasmim!

 Amendoeiras em flor no Algarve                               Vale do Douro

As maravilhas gastronómicas (7 eleitas) - Alheira de Mirandela, Queijo da Serra, Caldo Verde, Arroz de Marisco, Sardinha Assada, Leitão da Bairrada e o Pastel de Belém - reservas de vinhos tinto e branco, Moscatel, Madeira e Porto; azeites extra virgem, ginja, conservas, rebuçados de mel e tantos pratos típicos, não têm rivais.


Cheira a mosto!

 Arroz de marisco                     Queijo da Serra da Estrela

Os rios prateados pela luz clara dum céu azul e luminoso, com ilhotas, castelos, vilas , cascatas, moinhos de água, pontes seculares, noras, poldras, praias, canoas, serpenteiam entre sulcos e vales. 


Cheira a sol!

 Rios Zêzere                                          Teixeira (para rapel) 

As Aldeias, algumas históricas (Sortelha, Linhares, Marvão, Monsaraz, Monsanto), e todas as outras, com casas de pedras soltas ou cantaria, caiadas de branco, com barras azuis ou amarelas que de história são feitas também, permanecem invictas, esquecidas ou modificadas.


Da minha aldeia vejo quando da terra se pode ver no Universo.
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura... (…)”
Alberto Caeiro - O Guardador de rebanhos

                                                 Cheira a Saudade!

Aldeias - Alentejo                       Monsanto                                          


Os Mosteiros, Igrejas, Capelas, Ermidas, Cruzeiros, assinalam por todo o lado expressões de espiritualidade e de arte.


Cheira a Fé!

Cruzeiro na mata do Buçaco          Ermida do Salvador - Barcelos 

Termas, Parques naturais e arqueológicos, museus, teatros, jardins, palácios, estátuas, ruas calcetadas, solares, são testemunhos das características de um povo.
Cheira a Povo!

Calçada, Açores                                       Termas da Curia


O xadrez de música pop, jazz, rock, tradicional - um mapa de sons, dizeres, vozes, canções e instrumentos - em ambiente rural de campos e penedos ou entre fachadas urbanas, formam uma sinfonia de norte a sul do País.

Cheira a melodia!

Guitarra portuguesa                                        Sarroncas

Toda esta diversificada beleza em pequena escala (falta a maior!) quando associada, faz do diminuto País um dos paraísos preferidos pelo sol e pela saudade.


O  MEU PAÍS É PÁTRIA INGRATA 



"A ingratidão é sinónimo de falta de cultura."
 Bjornstjerne Bjornson -Noruega




A ingratidão é uma característica portuguesa.

“Há uma tendência em «abortar» ou boicotar os grandes e generosos projetos, as coisas bem pensadas. Não se percebe.”- Aventar

Este país consegue ser uma verdadeira desilusão para os que querem o melhor para ele. Os cientistas, intelectuais, artistas, enfermeiros e tantos outros profissionais já emigraram...

Somos um país acolhedor e os estrangeiros, os turistas, reconhecem-no. Por que não o somos para os nossos, em primeiro lugar, antes que se tornem eles mesmos estrangeiros noutros cantos do mundo, gera revolta.
Segundo os recentes dados do Instituto de Estatística, mais de 250 mil pessoas saíram do país nos últimos três anos. São números iguais aos do primeiro grande Boom da década de 60. Naqueles tempos os portugueses eram identificados como os da “mala de cartão”; hoje pode dizer-se que são os “emigrantes da batina”.


Mas continuam a amar o seu país, por muito ingrato que ele seja...
Este ano, as remessas de dinheiro enviadas por emigrantes para Portugal estão a superar as de 2012.
O apego à terra e à família ainda falam mais forte do que a própria razão.

“Pareço um doido a correr esta pátria e nem chego a saber porquê”.
Miguel Torga

Extrato de uma carta escrita por um enfermeiro de 22 anos, ao Presidente da República:
(…) Porém, irei partir. Dia 18 de Outubro levarei um cachecol de Portugal ao pescoço e uma bandeira na bagagem de mão. Levarei a Pátria para outra Pátria, levarei a excelência do que todas as pessoas me deram para outro país.
Em menos de 48 horas estarei a embarcar para o Reino Unido numa viagem só de ida. É curioso, creio eu, porque a minha família (inclusive o meu pai) foi emigrante em França (onde ainda conservo parte da minha família) e agora também eu o sou. Os motivos são outros, claro, mas o objetivo é o mesmo: trabalhar, ter dinheiro, ter um futuro. Lamento não poder dar ao meu país o que ele me deu (...)”

Não se pode viver com coerência o presente e menos ainda construir o amanhã se se perdem as raízes (…) Não existe desenvolvimento autêntico se se edifica de costas a própria identidade”.Germán Doig


Cheira a diáspora!

O MEU PAÍS ESTÁ FALIDO

"Todos os dias há 62 novos portugueses falidos a pedir ajuda à Deco"
 Jornal de Notícias, 1.8 2011

Um grande número de acontecimentos ao longo de quase trinta e nove anos, tem envolvido muitos interesses de algibeira que geriram criminosamente os impostos dos portugueses, inventaram o BPN, aceitaram os contratos desastrosos das PPP, elegeram corruptos para governar o Pais, premiaram os maus gestores, destruíram a classe média, aumentaram o número de pobres.

Ilustração de Natália Cóias

As falências e as privatizações criaram e continuam a criar oportunidades de negócios:  
“Bruxelas solicitou que Portugal vendesse o abastecimento de águas e que fosse promovida a privatização das empresas nacionais de água “Águas de Portugal”. Quer transformar um bem comum, em objecto de especulação das multinacionais.

Em Paços de Ferreira a iniciativa está a ter como consequência um aumento de 400% em muito poucos anosl

No que respeita à Zona Euro, Portugal é o terceiro país menos rico e entre os fundadores, o único onde mais de metade da população ainda vive em regiões “pobres”, dentro da Europa.
Na última década, só os Açores se aproximaram da riqueza média da UE.

Cheira a corrupção!

O MEU PAÍS ESTÁ SENESCENTE 


Quase 20% da população residente em Portugal é idosa, revelam os dados definitivos dos Censos 2011, que registaram mais de dois milhões de pessoas com 65 anos ou mais a viver no país.

Por outro lado, o Instituto Nacional de Estatística (INE) registou também um decréscimo para os 15% da população jovem, sendo que, numa década, se perdeu população em todos os grupos etários até aos 29 anos, e que, no grupo entre os 0 e 14 anos de idade, os valores registados são ligeiramente superiores a 1,5 milhões de habitantes.
As regiões do Centro, Alentejo e Algarve são as únicas que apresentam valores abaixo da média nacional de 3,5 ativos para cada idoso.”


Desde Fevereiro deste ano que apareceram vários idosos solitários, encontrados mortos em casa. Alguns estavam desaparecidos há anos. Nalguns casos as autoridades ignoraram os alertas dos vizinhos mas noutros ninguém deu, sequer, pela falta deles.


Cheira a tristeza!

O MEU PAÍS É A PÁTRIA DOS PACOTES DE AUSTERIDADE

O "The New York Times", um dos mais prestigiados jornais do mundo, publicou uma galeria de fotos acompanhada por números que dão conta do sério agravamento das condições de vida dos portugueses.
Retratos de sem abrigo, de idosos, de imigrantes pobres e de jovens de malas feitas para emigrar, das manifestações e dos confrontos em frente à Assembleia, ou de um cemitério e um edifício devoluto, surgem na fotogaleria intitulada "Portugal aprova mais um pacote de austeridade".

Cerca de 21% dos idosos em Portugal vive atualmente na pobreza (...) 1,4 milhões de desempregados (quase 16% da população), dos quais apenas 370 mil recebem apoios mensais do Estado (...), 735 mil edifícios devolutos, são alguns dos números que acompanham as 16 fotografias que retratam a deterioração da situação social deste país situado no extremo ocidental da Europa. 
Expresso. Sapo, 29.11.2012

Ver a fotogaleria no site do jornal New York Times.


O meu País é uma Pátria cada vez mais limitada às fronteiras, sem economia e sem trabalho. O meu País é cada vez mais caro, com menos oportunidades, mal governado; tem baixa política e não ouve o clamor dos esquecidos.
"Somos sobretudo um povo ridículo porque não o queremos parecer"

Cheira a pobreza!


Sopa dos pobres, hoje          há 43 anos(Centro Social da Cova e Gala) 


Pátrias que provocam a desagregação da nação de que participam, fazem com que os valores dessas pátrias sejam divisores, destruidores, desmoralizantes.


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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

PORQUE SE DESISTE



Porque deixou de haver condições para lutar.
Porque logicamente, já não vale a pena continuar.
Porque se perdeu o que dava valor a uma vida a completar.
Porque de repente, em contramão se passou a circular.
Porque a vontade é impotente perante o que está atrás do seu lugar.
Porque os sonhos acabados se perderam num buraco de ar 
Poque há sucessivas portas e janelas a fechar
Porque a travessia do deserto não chegou a atingir o mar…

O mar, abismo de ilusões, obstáculos, incompreensões, determinações, sofrimentos, estratégias, frustrações, metas.

Ao mar (e que belo mar!) do “Lawrence da Arábia”…



“Quando a gente está triste demais, gosta do pôr-do-sol”.

Ou de ficar na areia banhada pelo oceano, entregue indefinidamente às marés fortes das luas Nova/Cheia e marés baixas dos quartos Crescente/Minguante, ouvindo silêncios de água, sondando interrogações, procurando palavras naufragadas e tentando, em vão, lavar as pústulas da putrefacção...

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domingo, 17 de fevereiro de 2013

25 DE ABRIL,SIM. MAS OUTRO... - 2


No prosseguimento do tema do post anterior, outros itens de carácter geral:



- ECONOMIA

A economia cresceu fortemente sobretudo após 1950 e Portugal foi cofundador da EFTA, OCDE e NATO.
Ao assinar o tratado de Estocolmo, Portugal entrou para uma zona de trocas livres, sobretudo bens industriais, com alguns serviços sem pagamento de direitos aduaneiros. Houve benefícios em quantidade de novos mercados e em qualidade nas exportações - importante no sentido político, da internacionalização da economia e ajuda ao desenvolvimento.
Desde a década de 40 até à de 70, houve uma economia forte e saudável, com um crescimento sustentado dos maiores do mundo apesar de, durante esse mesmo período, ter uma organização institucional diferente das restantes economias da Europa Ocidental.


 

A diminuição do número de trabalhadores, devido aos depósitos dos emigrantes, não a afetou; manteve-se constante e os salários aumentaram cerca de 50%.
As pessoas poupavam e amealhavam.



Mas foi desbaratada.

Em 1985, com o tratado de adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia, Portugal recebeu elevados fundos destinados a ajudar o desenvolvimento e a estimular a economia, com a formação de novas empresas. Muitos desses fundos não foram bem geridos por alguns sectores empresariais, o que terá impedido um maior desenvolvimento do País nos anos seguintes à adesão.


Cavaco Silva, inquilino usurpador (porque introduzido mascarado duma falsa honestidade) do País durante quase 18 anos, lançou a primeira pedra para a situação catastrófica em que nos encontramos, alterando drasticamente as práticas da economia.



Excepcionalmente, até finais da década de 90 e princípio do século XX houve melhoria das condições de vida dos trabalhadores, com o aumento dos salários e uma maior estabilidade no emprego.

“A economia portuguesa registou a segunda maior recessão da sua história em 2012, com uma queda de 3,2% de acordo com o INE, encontrando um registo anual mais negativo apenas em 1975, com dados que não são inteiramente comparáveisPortugal esteve em recessão quatro vezes nos últimos dez anos e teve pela primeira vez dois anos de recessão consecutiva em 2011 e 2012.
Agência Lusa, 14 Fev. 2013 

Os pobres continuam pobres e os remediados empobrecem.


- GUERRA DE ÁFRICA/COLONIAL

Um império global implica a extensão da soberania de um Estado sobre territórios por todo o mundo. O primeiro império global foi o Império Português multicontinental, desde o início do século XVI (1415 - Ceuta) até 1999 (Macau) ou 2002 (independência de Timor-Leste).


Quando Salazar assumiu o poder, Portugal tinha fronteiras imperiais respeitadas internacionalmente. Para ele, era lógico defender intransigentemente as colónias “cobiçadas pela URSS através dos seus peões no terreno”, como fazendo parte do nosso território. E estava mesmo convencido que o ocidente “acabaria por reconhecer as vantagens…” (João Hall Themido).
A NATO funcionava como um refúgio dos ataques internacionais.
John Kennedy, adepto da descolonização e porque a Índia era importante para os EUA, quis negociar as províncias ultramarinas, propondo uma solução gradual.

"Portugal não está à venda"

A guerra colonial teve efeitos demográficos, económicos, financeiros e comerciais externos, diplomáticos e políticos.

A partir de 1962, Portugal ficou isolado na cena política, principalmente nas Nações Unidas. Os países do médio oriente, destinos de exportação, desapareceram das relações diplomáticas e comerciais

A sustentação da luta militar passou a exigir um esforço financeiro muito grande - exército, marinha, aviação, transportes, abastecimentos.

A mobilização de muita mão-de-obra, jovens em idade casadoira, diminuiu a natalidade e as famílias ficavam destroçadas por verem partir os seus filhos para longe, com regresso incerto.

Navio Niassa 

O dinheiro começou a deixar de ser usado no investimento de infraestruturas da Metrópole.


E se não tivesse havido ponte aérea?
"Espoliado" 
(...)
- É trapo da bandeira... e caravelas
Chegadas ao cais e arreadas as velas
Por ventos de Leste e… Alta traição!"

Foi atribuído um total de 3.209.540 contos de subsídios de desemprego e 348.257 contos de abonos de família.

A Guerra de África tornou-se a motivação dominante do MFA para conceber e preparar um golpe de Estado contra o regime.


E poderia continuar a dar incremento a outros itens (de ANTES e DEPOIS) como:




CRIMINALIDADE 
IMPUNIDADE
REINCIDÊNCIAS 
DINHEIROS PÚBLICOS 
PESSOAS (IN)COMPETENTES

Etc.


- TRINTA E NOVE ANOS DEPOIS 




O País está empobrecido, a classe média quase desaparecida, o desemprego situado na 3.ª maior taxa da EU (Eurostat), o salário mínimo ( 485),com tendência para baixar, o salário máximo (Fernando Pinto, por ex., presidente da TAP, recebia em 2010 à volta de 30 mil € brutos/mês) não tem limite, as promessas são arquitectadas em mentiras, os casos judiciais prolongam-se no tempo, a podre política é sustentada pelo poderio económico, o compadrio é cada vez mais exagerado, o 1.º ministro convida à emigração, a comunicação social trabalha para os lobbies financeiros e para o domínio político. Vamos tendo melhores cuidados de saúde mas não podemos pagá-los…

As medidas de austeridade continuam, as falências e privatizações criam oportunidades de negócio e os gestores dos bancos recebem da mesma maneira os seus elevados ordenados, acrescidos de bónus por gerirem a crise.

E haverá mesmo liberdade de expressão?

O cidadão passou a escolher o seu governo e existem sindicatos; mas onde estão as vantagens?

Estaremos contentes com esta democracia?

Somos sobretudo uma potência atlântica, presos pela natureza à Espanha, política e economicamente debruçados sobre o mar e as colónias"
vidas lusófonas

"(...)
Nem a favor da Grã-Bretanha, nem a favor da Alemanha, mas só a nosso favor”, era um dos pilares de sustentação do regime e uma justificação para a sua neutralidade durante o conflito, assim como para a exclusão deliberada e desejada por Salazar, do Plano Marshall. Paradoxalmente, seria a guerra anacrónica de sangues locais e metropolitanos que levaria ao colapso do regime em 1974…"
blog-Viriato à pedrada

Quando Marcello Caetano chegou ao Poder, já tudo se encontrava demasiado enfraquecido, sem hipóteses de êxito na construção de eventual solução política. Logo, o caminho para o golpe militar foi rápido, a vitória facilmente vitoriosa e a descolonização apressada.

Apesar de tudo, além do fim do conflito ultramarino esperava-se muito mais da revolução; as pessoas aderiram sem reservas aos ideais do Movimento das Forças Armadas.


E o sonho europeu também ameaça desfazer-se.

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sábado, 16 de fevereiro de 2013

25 DE ABRIL, SIM. MAS MENOS POLITIZADO - 1


Madrugada do dia 25 de Abril de 1974. Portugal ainda dorme. A Rádio Renascença emite a canção "Grândola Vila Morena" de Zeca Afonso, senha que serviria para dar início à revolução.
A rendição de Marcello Caetano, Presidente do conselho de Ministros, refugiado no Quartel da GNR, faz-se, após entrega do comando das Forças Armadas ao General Spínola.

Rendição de Marcello Caetano no Quartel do Carmo

Para quem vivenciou o ANTES, o DURANTE e o DEPOIS, não põe em dúvida que o 25 de Abril, mais cedo ou mais tarde, acabaria sempre por acontecer; Portugal não conseguiria deixar de acompanhar o clima de mudança que se manifestava por toda a Europa.


CONSIDERAÇÕES AVULSO

O Salazarismo terá sido uma ditadura militar fascista ou ANTES, um regime autoritário?


- LIBERDADE DE EXPRESSÃO DE PENSAMENTO E DE ACÇÃO

Jornal República, da oposição, dirigido por Raúl Rego, embora censurado pelo “Lápis Azul”, como todos os outros.
Teatro Revista, onde se ouviam muitas piadas políticas bastante ousadas.
Seara Nova, revista política e cultural muito conceituada com colaboradores como Raul Brandão, Aquilino Ribeiro e Jaime Cortezão, entre outros.
Organizações “antifascistas” visíveis, com manifestações e julgamentos.
Recolha de assinaturas entregues na Assembleia Nacional
Tolerância, na origem do Dia do Estudante (1º dia assinalado em 1952, no IST)
Guidinha, no Diário de Lisboa




Deputada Raquel Coelho- "Poucas são as vezes que a cobertura jornalística a alguma iniciativa do meu partido sejam passadas na íntegra, existe sempre uma omissão das entidades e pessoas envolvidas nas nossas denúncias, principalmente quando o assunto é corrupção. Os jornalistas são constantemente obrigados a fazer autocensura sob medo de algum processo por calúnia e difamação, o mesmo pode acontecer a um cidadão comum que faça alguma acusação num blog ou nas redes sociais, ou até mesmo um deputado que apesar da sua imunidade parlamentar não escapa ás garras da justiça, se não estiver do lado do poder instalado"


- ANALFABETISMO

Os Liceus, as Escolas (Técnicas, Comerciais e Industriais - fechadas após o 25 de Abril) e as Universidades existentes estavam cheios de alunos de todas as classes sociais e ideologias, muitos com bolsas de estudo dadas pelo Governo.
A percentagem de analfabetismo em 1970 era de 26,6 % (em 2007, 33 anos após o 25 de Abril, em lisboa, nas estatísticas eleitorais, 12,5%)

Escola S. Dr. Júlio Martins (antiga Industrial e Comercial de Chaves)

- IGREJA E ESTADO

A influência da Igreja no Estado foi sobretudo preponderante na legislação sobre o aborto, o divórcio, a eutanásia, pornografia, etc., tendo em conta a importância de tradições e regras relacionadas com “leis morais”
E, com o decorrer da guerra colonial, a hierarquia católica passou também a manifestar-se contra o Governo - “Reuniões do Rato”- motivando a intervenção da polícia militar

Capela do Rato

- ELEIÇÕES

Não havia eleições livres e a única organização política aceite era a UN (90 -
150 deputados)


Agora há eleições livres e vários partidos legalizados (230 deputados)
Um partido que tenha mais de 50 mil votos receberá por cada grupo de 135 votos, um ordenado mínimo nacional. Mesmo que não ganhe as eleições, recebe pelos votos.
Cada deputado custa ao País 16.000€, em encargos diretos e indiretos.



Medina Carreira defende que "se saíssem 100 deputados, não se perderia nada, porque os que lá estão só servem para preencher o valor legal"

 "A petição pública que corre na Internet exigindo a redução de 230 para 180 deputados na Assembleia da República está perto de atingir as 85 mil assinaturas”- jornal i, 13 Fevereiro 2013


- GREVES E SINDICATOS

Os sindicatos nacionais criados pelo Estado Novo tinham muito pouco de organismos representativos, autodirigidos e autênticos. 
O corporativismo existia para controlar interesses de classes antagónicas mas houve melhorias nas condições de trabalho, estabelecendo algumas regras na relação entre patrão e empregado através do Estatuto do Trabalho Nacional, de Grémios, de Casas do Povo e de Pescadores e dos citados «sindicatos nacionais», organismos sob o olhar vigilante do Estado.


As «escolas» sindicais, comunista (ligada ao PCP) e católica (saída da Acção Católica), forneceram boa parte dos dirigentes que em 1974 passaram a controlar o aparelho herdado do corporativismo.
E 38 anos depois, estes históricos ainda detêm numerosos cargos e responsabilidades nas diferentes organizações

NÃO HAVIA DIREITO À GREVE

Agorafaz greve quem pode e não quem deve ou quem tem razões para isso. São greves que subvertem a função dos sindicatos, em defesa dos direitos corporativos, colocando o Estado ao seu serviço - estivadores, pilotos da TAP, Juízes, CP e outros igualmente poderosos...

Pormenorizando, como exemplo, a mais atual - CP:
A CP bate em larga escala a média de chefes das restantes empresas do Estado, que se situa em 60. Num total de 3.213 colaboradores na dependência destes quadros da transportadora ferroviária, existe uma média de 16,4 trabalhadores por chefe. 
A CP encerrou o ano de 2010 com prejuízos de 195,2 milhões de euros, um agravamento de 168%.
Nuno Miguel Silva -  13/05/11




Em 2012 foram suprimidos, por motivos de greve, 30.445 comboios, 7% dos comboios programados.
No último ano, as receitas do tráfego diminuíram um milhão de euros (para 211 milhões de euros,) com a perda de 11,4% de passageiros, a que "não foi alheio o elevado número de greves que ocorreram durante todo o ano, com especial significado no último trimestre
Os comboios mais afetados pela paralisação foram os regionais e inter-regionais”.
Bruno Martins, do gabinete de comunicação da CP.

Quem paga os prejuízos?
Os sindicatos não querem saber do País...

- A MULHER

A mulher, tomando como referência as suas características femininas, era considerada o elemento unificador da família, secundarizada familiar e socialmente:
Só podia exercer o direito de voto (desde 1933) se fosse diplomada ou tivesse o secundário.
Não tinha acesso a carreiras profissionais designadas essencialmente para homens como Diplomacia, Magistratura, Política, Militar; às profissionais de enfermagem e funcionárias do ar, não lhes era permitido casar; uma professora só poderia fazê-lo com autorização publicada em Diário da República e com alguém que não ganhasse menos do que ela.
Apesar de a Constituição de 1933 ter estabelecido o princípio da igualdade dos cidadãos perante a Lei, só recebiam um salário inferior ao dos homens em 40%.
O marido era o chefe de família com direitos na educação dos filhos, na permissão de trabalho e ida ao estrangeiro, no consentimento para atuar nas suas propriedades, na abertura do correio pessoal.
Como o divórcio não era permitido nos casamentos católicos, os filhos nascidos doutra união passavam a ser ilegítimos
A mulher solteira, ao contrário da mulher casada, era uma cidadã de plenos direitos.


A conquista dos direitos que as mulheres portuguesas adquiriram na sociedade, em igualdade com o homem, foi  um dos grandes êxitos da revolução!
Atualmente todas as pessoas têm acesso ao sistema de saúde materno e assistência desde o início da gravidez.

-INCÊNDIOS

Os incêndios eram raros, apesar de os homens fumarem muito e deitarem as beatas para o chão, haver piqueniques ao domingo para assar sardinhas, chouriço e febras, almoços ao ar livre durante as ceifas, as malhas e a descamisada do milho, os bombeiros e os carros de combate serem poucos e os meios aéreos nem existirem.
Havia cantoneiros que tinham a seu cargo a limpeza e conservação de cantões de estrada e o mato nas florestas era retirado.


Os campos estão agora mais desertificados mas as pessoas, desde a escola, estão também muito mais sensibilizadas...

O custo anual dos incêndios ascende a mil milhões de euros. €150 milhões por  prejuízos diretos nas matas e florestas ardidas e €750 milhões em produtos que deixam de ser fabricados em Portugal devido à falta de madeira.

Pergunta-se:
Porque é que o combate aéreo aos incêndios em Portugal é totalmente concessionado a empresas privadas?
Porque é que os testemunhos populares sobre o início de incêndios em várias frentes, imediatamente após a passagem de aeronaves, continuam sem investigação?
Porque é que há pilotos da Força Aérea formados para combater incêndios e que passam o Verão nos quartéis?
A maior parte da madeira usada pelas celuloses para produzir pasta de papel pode ser utilizada após a passagem do fogo sem grandes perdas de qualidade. No entanto, os madeireiros pagam um terço do valor aos produtores florestais. Quem ganha com o negócio?
Há terrenos onde se registaram incêndios há poucos anos e que já estão urbanizados ou em vias de o ser, contra o que diz a lei, segundo jornalistas especializados na área do ambiente.
Enquanto houver reservas de caça associativa e turística em Portugal, o país vai continuar a arder, para o regresso ao regime livre?





-POBREZA E EMIGRAÇÃO

Até 1960, Portugal continuava a manter estruturas sociais e económicas repulsoras nas zonas rurais, devido ao sistema de propriedade existente. Havia muita pobreza e a situação era difícil, como descreve Fernando Namora em “Retalhos da Vida de Um Médico”.
As sociedades industriais da Europa Ocidental, depois do plano Marshall, estavam em pleno boom e a carência de mão-de-obra era grande.
Emigrar para esses países, sobretudo França e Alemanha, clandestinamente e a “salto”, passou a substituir o Brasil ou África quer porque os salários praticados eram maiores, quer porque era uma oportunidade para fugir à guerra colonial.
Entre 1960 e 1974 terão emigrado mais de 1,5 milhão de portugueses, ou seja, uma média de 100 000 saídas anuais. 
Cada geração esperava viver melhor do que a anterior. O crescimento do PIB na década de 60 foi acelerado e era fácil encontrar emprego.


Como no tempo do fascismo, as instituições de caridade também agora matam o frio e a fome aos pobres. Portugal está de mão estendida…

O INE estima que tenham saído de Portugal 16.899 indivíduos em 2009, 23.760 em 2010 e 43.998 em 2011 e que “um por cento de retração económica equivale a 50 mil postos de trabalho que se perdem».
Muitos emigrantes portugueses estão a “desistir do país” e a pedir a naturalização nos países de destino. Em 2010, quase cinco mil portugueses pediram nacionalidade francesa. Na Suíça, foram 2200... No mesmo ano, no Luxemburgo houve 1345 emigrantes portugueses que adquiriram dupla nacionalidade.
“Vivemos num País sem esperança”, dizem.

São dados novos que traduzem uma desistência de Portugal, isto é, estes portugueses estão a tornar permanente a sua emigração e a desistir do regresso” 
Pedro Góis, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.


O desemprego aumenta progressivamente. E o Primeiro-ministro, perante o problema, convida à emigração, o que é de algum modo um convite ao regresso ao antes do 25 de Abril, anos 50 e 60, quando muitos portugueses procuravam no estrangeiro condições que o seu país não queria ou não lhes 
podia dar.

TAL E QUAL:

"Se estamos no desemprego, temos de sair da zona de conforto e ir para além das nossas fronteiras".
- Conselho dado pelo secretário de Estado da Juventude e do Desporto, Alexandre Miguel Mestre, aos jovens desempregados portugueses


Alexandre Mestre garante ainda que não apelou à emigração dos jovens desempregados, pretendendo assim desmentir também uma notícia do Correio da Manhã escrita com base na referida peça da agência Lusa, o que aliás era assinalado na respectiva página.


"Os professores portugueses podem olhar para o mercado da língua portuguesa como uma alternativa ao desemprego que afecta a classe em Portugal", diz Passos Coelho




PARA REFLECTIR

DESCOLONIZAÇÃO (Por Rogéria Gillemans)
www.africafederation.net/Descolonization.htm



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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

OLÁ, MÃE


À medida que o tempo passa, vou percebendo melhor o valor que a Mãe representava.

Ela será eterna num vazio repleto de afetos e de entrega. Porque a dedicação - quase devoção - com que sempre acarinhou os seus, continua a transmitir-se em tudo o que com ela teve proximidade.

Na opinião de PaddockO amor de uma mãe não contempla o impossível”.

E foi assim, especial.

Aos 90 anos, quando partiu, ainda nos esperava em casa com saudade, manifestava apreço pelos seus antepassados, falava do nosso Pai com admiração e estima, tinha disponibilidade total para satisfazer caprichos, mimava os netos com “presentinhos”, circulava em estadias sucessivas pelas habitações dos filhos, escrevia às amigas, fazia renda e passatempos, assistia à missa pela TV, participava em encontros de Natal e de Páscoa.

Tinha uma grande autoestima - gostava de se arranjar e perfumar.
Era uma apaixonada pela vida! 
Como filósofa nata, falava de forma amistosa, conciliadora, brincalhona. Oportuna no elogio, humilde perante pessoas mais informadas, era companhia de privilégio.
Com a cabeça inclinada entre as mãos, apoiadas nos cotovelos para disfarçar qualquer contrariedade, ocultava o olhar luminoso e o sorriso único.

Regalava-se com o seu jardim!
Sentada em frente e observando-o com minúcia, dizia:
- Já reparaste naquela roseira que é mais alta do que o muro? E a cor da malva é linda, não é? Também gosto muito das hortências. As geadas é que queimam tudo.


Ah! Os gatos!
- Este era da vizinha mas como tinha fome porque ela passa os dias nas hortas, foi-se habituando a ficar por aqui, junto dos outros. Sempre apanha um ratinho de vez em quando e é muito meiguinho.
- Chaninho, vem cá…

O “Amigo da Verdade”
- O Pai estava sempre à espera do jornal, sentado aí nessa cadeira onde tu estás. Vinha ao Domingo. É um jornal muito antigo, do tempo do Sr. Dr. Alberto Diniz da Fonseca, quando era professor e director da Escola Regional.
Parece-me que ainda estão alguns nessa gavetinha.

Correio
- M, já viste se há correio hoje?
Agora poucas pessoas escrevem. Só se for a prima F., de Santos. Disse que gostava de cá vir com o filho, que é médico.
Ou então, da eletricidade…

Galinhas
- Quando tinha galinhas, ainda me distraía um bocado. Levava-as ali pra fora e sempre aparecia alguém a dar dois dedos de conversa. E só por isso, o Pai também gostava de as guardar.

Era assim que nos últimos anos passava a Primavera e o Verão, até princípios de Novembro, altura dos Fiéis Defuntos.


Mas houve a Mãe das hortas, dos almoços-de-rancho nas ceifas, vindimas e matanças, do racionamento, dos problemas do drama quotidiano nos anos 40, 50 e 60, do mês-de-Maria, dos vestidos de domingo, do cordão umbilical de seis filhos, do tempo que nunca teve para ela, do abrigo às duas minhas avós, da companheira inseparável dum marido que tinha "proprietário"como "profissão" (usada para efeitos de BI/legais! - Naquele tempo, ou se tinham terras ou não se tinham porque não havia bancos para emprestar dinheiro para as comprar, como poderá ler-se nos romances de Camilo ou de Eça -), da compreensão e dos tabefes, do repartir por sete e não por oito, do terço à noite, dos fatos prás procissões, da canja de galinha e o Fricassé, da mão cansada mas sempre estendida, das épocas festivas e das romarias, do “coração de Mãe, abismo no fundo do qual se encontra sempre perdão” (Balsac)


E que profissão deveria ter a Mãe para efeitos de BI?

Talvez a resposta devesse ser igual à daquela conhecida história em que uma mulher chamada Anne, quando quis renovar a carta de condução e disse que era “Mãe”, mas que não foi aceite por não ser considerado um trabalho: Pesquisadora Associada no Campo do Desenvolvimento Infantil e das Relações Humanas= programa permanente de pesquisa (qualquer mãe tem), em laboratório e no terreno (dentro e fora de casa), para os Mestres (toda a família), com seis provas dadas (seis filhos), um dos trabalhos mais exigentes da área das humanidades (qual a mulher que discorda?), durante 14 a 24 h/dia…
  

Sempre achei que a Mãe fazia uma certa analogia daquelas flores “à vista com as outras “flores” distantes, os filhos. Como as relacionava, não sei; mas dizia:
- Aquela foi a T. que a trouxe; a M. trás muitas lá de Coimbra; a P. é que deitou ali a terra; lembras-te de teres ido à Guarda comprar aquele tubo comprido? A C., quando a M. era mais pequena, encontrava-a escondida atrás dos ramos; às vezes, o R. ia buscar uns baldes de água ao chafariz.

Juntava as virtudes do girassol/dignidade, da mimosa/segurança, do alecrim/alegria, do lírio/majestade, da violeta/classe, da prímula/juventude, da glicínia/ternura ou de outras e, com elas, fazia uma aguarela.


Esperava mensagens da flor-de-lis e, pela saudade, saudades mandava.

Esqueci-me de alguma coisa, Mãe?