- O C do grupo
do almoço de cozido telefonou a dizer que já tinha saudades desses encontros…
- O C ? Qual C? Não, não vou.
- E o F, lembra-se dele? Era dos que nunca faltavam. Agora, que é Avô, foi para perto da filha, em Oeiras
- Mas ele tem
filhos? (sempre soubera que tinha… ). Estou a lembrar-me é do V. Quantos filhos tem?
- Qual V?
- O da T, da Curia
- Então não se
lembra da J e do M?
- Sim… sim…
- E o R, o que faz? Ele que idade
tem?
- Quer ver umas fotos?
- São tantos! Vejo muito mal. Pois, pois , dizia à medida que ia olhando para as imagens com alguma superficialidade.
- Como já lhe disse, ando aqui a fazer o meu calendário. Hoje é que é 2ª feira, não é?
- É 5ª feira, dia 29.
- É Domingo? (depois de perguntar várias vezes, escreve o dia da semana e do mês, numa pequena agenda que mantém escondida numa
gaveta)
- Amanhã precisamos de ir à Cerdeira
- Ainda bem, gosto de lá ir ver a M. (noutros tempos, dizia que preferia ficar…)
Costuma levantar-se cedo e tomar banho com água quase fria (não espera que aqueça). O P.A. e a terapêutica, obrigatoriamente preparados no dia anterior, fazem parte da sequência. (Antes de se deitar, rectifica a quantidade de
comprimidos uma boa dezena de vezes).
Haja frio ou não, dá, também, o habitual passeio de 15 minutos pelo Bairro, alheio aos vizinhos ou às pessoas “conhecidas”
com que se cruza. Anda sempre em frente, devagar, de braços caídos e olhos no chão, até uma determinada meta,
onde faz “inversão de marcha” para voltar a casa.
- O que é o meu almoço? Agora vou ali sentar-me no meu cantinho ver as noticias (é difícil saber se as vê porque ou não as transmite ou as modifica).
- Está um lindo dia, diz sempre, quando o silêncio se prolonga.
E assim, entre o permanecer ali sentado e o ficar em pé com as mãos atrás das costas, junto à cozinha, vai esperando pelo almoço…
Geralmente não fala durante toda a refeição. (Quando estou a comer, não posso falar, diz, se interrogado). Aliás, com o aumento progressivo da surdez e da dificuldade no desenvolvimento de sucessões de ideias, o diálogo é muito difícil. E o convívio, sem troca de ideias, difícil se torna também.
- Não percebo /não percebi, é a resposta a qualquer tentativa de comunicação. No entanto, apercebendo-se dessa dificuldade, desenvolve estratégias para a ocultar como: não faz mal, não tem importância, etc.
Representação de neurónios: A. de indivíduo saudável B. de paciente com Alzheimer.
Fonte: Extraída
de de Falco et al., 2016
Não é uma palavra muito comum
nem tampouco o deveria ser na cirurgia que, mesmo sendo feita correctamente,
com as placas e parafusos bem posicionados, pode dar
origem a uma sobrecarga mecânica nos implantes com aparecimento de cifose e
desequilíbrio juncional devido ao aumento de pressão ou trauma nas
vértebras vizinhas causados pela fixação do segmento. E a situação de risco
aumenta em casos de infecção no
local da cirurgia.
Refiro-me à artrodese, um procedimento cirúrgico realizado com a intenção de estabilizar o movimento entre duas ou mais vértebras através da formação de
pontes ósseas que as unem, impedindo a movimentação e formando um bloco ósseo no segmento operado. Porem, ao gerar-se a doença do nível adjacente, acima e abaixo dos segmentos fundidos, desenvolve dor crónica com resposta difícil ao tratamento. Scoliosis
Research Society
E assim é:
Lá em cima está o tiro-liro-liro
Cá em baixo tá o tiro-liro-ló
…
Juntaram-se os dois na esquina
Tocar a concertina, dançar o solidó
«O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até ao ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, preservá-lo e abrir espaço» Ítalo Calvino