Portugal (via satélite)
Miscelânea, mosaico abrangente e caótico, arena geográfica de diversos protagonistas, Portugal é o "País que o mar não quer"- Ruy Belo
O MEU PAÍS É UM MOSAICO
"De todos os
cantos do mundo
Amo com um amor
mais forte e mais profundo
Aquela praia
extasiada e nua,
Onde me uni ao mar,
ao vento e à lua"
Sophia de Mello
Breyner Andresen
Em 830 Km de costa refugiam-se praias de areias finas e brancas
para todos os gostos - banhadas por águas revigorantes e frias, no Minho; de
beleza selvagem e enseadas abrigadas, no Alentejo; de influência cosmopolita
por Lisboa, capital do mar; de grandes extensões ou de pequenas aldeias
piscatórias, aninhadas entre os rochedos, no Algarve; de areia dourada, na
costa de Sintra.
Mares de águas luminosas para mergulho e ondas imagem-de-marca
animam os entusiastas do surf/windsurf nas Baleares, Guincho, Peniche, Nazaré, Matosinhos, Madeira.
Os faróis das Berlengas e cabos, guiam briosa e
serenamente os navegantes nocturnos.
Há gaivotas que gritam “anacã! anacã! anacã!” e lotas de
peixe fresco.
Cheira a maresia!
Lota de peixe de Cascais Farol do Cabo Espichel
As paisagens do interior são desenhadas com matas de
pinheiros e caruma pelo chão, de sobreiros e oliveiras em planícies alentejanas, pomares
de cerejeiras na Beira Alta ou de amendoeiras e laranjeiras no Algarve, de um cristalino
espetáculo vulcânico e sebes de hortências nos Açores, de plantações de vinha em
socalcos no Douro, de...
Cheira a jasmim!
As maravilhas gastronómicas (7 eleitas) - Alheira de
Mirandela, Queijo da Serra, Caldo Verde, Arroz de Marisco, Sardinha Assada,
Leitão da Bairrada e o Pastel de Belém - reservas de vinhos tinto e branco,
Moscatel, Madeira e Porto; azeites extra virgem, ginja, conservas, rebuçados de
mel e tantos pratos típicos, não têm rivais.
Cheira a mosto!
Os rios prateados pela luz clara dum céu azul e luminoso, com ilhotas,
castelos, vilas , cascatas, moinhos de água, pontes seculares, noras,
poldras, praias, canoas, serpenteiam entre sulcos e vales.
Cheira a sol!
As Aldeias, algumas históricas (Sortelha, Linhares,
Marvão, Monsaraz, Monsanto), e todas as outras, com casas de pedras soltas ou
cantaria, caiadas de branco, com barras azuis ou amarelas que de história são
feitas também, permanecem invictas, esquecidas ou modificadas.
“Da minha aldeia vejo quando da terra se pode ver no Universo.
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura... (…)”
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura... (…)”
Alberto Caeiro - O Guardador de rebanhos
Cheira a Saudade!
Os Mosteiros, Igrejas, Capelas, Ermidas, Cruzeiros, assinalam
por todo o lado expressões de espiritualidade e de arte.
Cheira a Fé!
Termas, Parques naturais e arqueológicos, museus,
teatros, jardins, palácios, estátuas, ruas calcetadas, solares, são testemunhos das
características de um povo.
Cheira a Povo!
Calçada, Açores Termas da Curia
O xadrez de música pop, jazz, rock, tradicional - um mapa
de sons, dizeres, vozes, canções e instrumentos - em ambiente rural de campos e penedos ou entre fachadas urbanas, formam
uma sinfonia de norte a sul do País.
Cheira a melodia!
Toda esta diversificada
beleza em pequena escala (falta a maior!) quando associada, faz do diminuto País
um dos paraísos preferidos pelo sol e pela saudade.
"A ingratidão é sinónimo de falta de cultura."
Bjornstjerne Bjornson -Noruega
A ingratidão é uma característica portuguesa.
“Há uma tendência em «abortar» ou boicotar os grandes e
generosos projetos, as coisas bem pensadas. Não se percebe.”- Aventar
Este país consegue ser uma verdadeira desilusão para os
que querem o melhor para ele. Os cientistas, intelectuais, artistas, enfermeiros
e tantos outros profissionais já emigraram...
Somos um país acolhedor e os estrangeiros, os turistas,
reconhecem-no. Por que não o somos para os nossos, em primeiro lugar, antes que
se tornem eles mesmos estrangeiros noutros cantos do mundo, gera revolta.
Segundo os recentes dados do Instituto de Estatística,
mais de 250 mil pessoas saíram do país nos últimos três anos. São números
iguais aos do primeiro grande Boom da
década de 60. Naqueles tempos os portugueses eram identificados como os
da “mala de cartão”; hoje pode dizer-se que são os “emigrantes da batina”.
Mas continuam a amar o seu país, por muito
ingrato que ele seja...
Este ano, as remessas de dinheiro enviadas por emigrantes para Portugal estão a superar as de 2012.
O apego à terra e à família ainda falam mais forte do que a própria razão.
Este ano, as remessas de dinheiro enviadas por emigrantes para Portugal estão a superar as de 2012.
O apego à terra e à família ainda falam mais forte do que a própria razão.
“Pareço um doido a
correr esta pátria e nem chego a saber porquê”.
Miguel Torga
Miguel Torga
Extrato de uma carta escrita por um enfermeiro de 22
anos, ao Presidente da República:
(…) Porém, irei
partir. Dia 18 de Outubro levarei um cachecol de Portugal ao pescoço e uma
bandeira na bagagem de mão. Levarei a Pátria para outra Pátria, levarei a
excelência do que todas as pessoas me deram para outro país.
Em menos de 48
horas estarei a embarcar para o Reino Unido numa viagem só de ida. É curioso,
creio eu, porque a minha família (inclusive o meu pai) foi emigrante em França
(onde ainda conservo parte da minha família) e agora também eu o sou. Os
motivos são outros, claro, mas o objetivo é o mesmo: trabalhar, ter dinheiro, ter
um futuro. Lamento não poder dar ao meu país o que ele me deu (...)”
“Não se pode viver com coerência o presente e menos ainda construir o amanhã se se perdem as raízes (…) Não existe desenvolvimento autêntico se se edifica de costas a própria identidade”.Germán Doig
“Não se pode viver com coerência o presente e menos ainda construir o amanhã se se perdem as raízes (…) Não existe desenvolvimento autêntico se se edifica de costas a própria identidade”.Germán Doig
Cheira a diáspora!
O MEU PAÍS ESTÁ FALIDO
"Todos os dias há 62 novos portugueses falidos a
pedir ajuda à Deco"
Jornal de Notícias, 1.8 2011
Um grande número de acontecimentos ao longo de quase trinta e nove anos, tem envolvido muitos interesses de algibeira que geriram criminosamente
os impostos dos portugueses, inventaram o BPN, aceitaram os contratos
desastrosos das PPP, elegeram corruptos para governar o Pais, premiaram os maus
gestores, destruíram a classe média, aumentaram o número de pobres.
Ilustração de Natália Cóias
As falências e as privatizações criaram e continuam a criar oportunidades de negócios:
“Bruxelas solicitou que Portugal vendesse o abastecimento de águas e que fosse promovida a privatização das empresas nacionais de água “Águas de Portugal”. Quer transformar um bem comum, em objecto de especulação das multinacionais.
No que respeita à Zona Euro, Portugal é o terceiro
país menos rico e entre os fundadores, o único onde mais de metade da população
ainda vive em regiões “pobres”, dentro da Europa.
Na última década, só os Açores se aproximaram da riqueza
média da UE.
Cheira a corrupção!
O MEU PAÍS ESTÁ SENESCENTE
Quase 20% da população residente em Portugal é idosa, revelam os dados definitivos dos Censos 2011, que registaram mais de dois milhões de pessoas com 65 anos ou mais a viver no país.
Por outro lado, o Instituto Nacional de Estatística (INE) registou também um decréscimo para os 15% da população jovem, sendo que, numa década, se perdeu população em todos os grupos etários até aos 29 anos, e que, no grupo entre os 0 e 14 anos de idade, os valores registados são ligeiramente superiores a 1,5 milhões de habitantes.
As regiões do Centro, Alentejo e Algarve são as únicas
que apresentam valores abaixo da média nacional de 3,5 ativos para cada idoso.”
Desde Fevereiro deste ano que apareceram vários idosos solitários, encontrados mortos em casa. Alguns estavam
desaparecidos há anos. Nalguns casos as autoridades ignoraram os alertas dos vizinhos mas noutros ninguém deu, sequer, pela falta
deles.
Cheira a tristeza!
O MEU PAÍS É A PÁTRIA DOS PACOTES DE AUSTERIDADE
O "The New York Times", um dos mais prestigiados jornais do mundo, publicou uma galeria de fotos acompanhada por números que dão conta do
sério agravamento das condições de vida dos portugueses.
Retratos de sem abrigo, de idosos, de imigrantes
pobres e de jovens de malas feitas para emigrar, das manifestações e
dos confrontos em frente à Assembleia, ou de um cemitério e um edifício
devoluto, surgem na fotogaleria intitulada "Portugal aprova mais um
pacote de austeridade".
Cerca de 21% dos idosos em Portugal vive atualmente na
pobreza (...) 1,4 milhões de desempregados (quase 16% da população), dos quais
apenas 370 mil recebem apoios mensais do Estado (...), 735 mil edifícios
devolutos, são alguns dos números que acompanham as 16 fotografias que
retratam a deterioração da situação social deste país situado no extremo
ocidental da Europa.
Expresso. Sapo, 29.11.2012
Expresso. Sapo, 29.11.2012
Ver a fotogaleria no site do jornal New York Times.
O meu País é uma Pátria cada vez mais limitada às fronteiras, sem economia e sem trabalho. O meu País é cada vez mais caro, com menos oportunidades,
mal governado; tem baixa política e não ouve o clamor dos esquecidos.
"Somos sobretudo um povo ridículo porque não o queremos parecer"
"Somos sobretudo um povo ridículo porque não o queremos parecer"