Antes, porém, quero destacar a última Grande Primeira-Dama
soberana de Portugal, a RAINHA D. AMÉLIA DE ORLEÃES.
"Assino a
minha sentença de morte, mas os senhores assim o quiseram”, terá dito o Rei
D. Carlos ao assinar o decreto preparado por João Franco ainda em Vila Viçosa e
que previa o exílio para o estrangeiro ou a expulsão para as colónias, de
indivíduos que fossem pronunciados em tribunal por atentado à ordem pública (revoltosos
republicanos incluídos) sem julgamento.
O Rei não desconhecia os riscos que corria, mas achava também que não podia fugir deles.
E morreu no cumprimento do seu dever, antes da talvez última tentativa séria de reforma do sistema parlamentar monárquico
A Princesa ( Maria
Amélia Luísa Helena de Orleães), oriunda da
casa de Orleães, mas portuguesa de coração, assistiu ao assassinato do marido e
do filho, o príncipe herdeiro Dom Luíz, em pleno Terreiro do Paço.
Seria o fim da monarquia no país que a havia acolhido, em
vias de desenvolvimento, com grandes assimetrias sociais, dominado por uma
aristocracia decadente e comodista vivendo à sombra de um passado glorioso e de
uma burguesia emergente ávida de Poder.
Em 1945, à saída da Igreja de S. Vicente, após visita aos
túmulos do marido e filhos com a inseparável bengala a que crismara de
«Catarina»
De visita à Bulgária, Miguel Real, recuperou em Sófia o
manuscrito «As Memórias Secretas da
Rainha D. Amélia», escrito nos últimos anos de vida, furtado misteriosamente
do espólio de Salazar durante a invasão dos seus antigos aposentos por altura
da Revolução de Abril e que tinha sido doado pela própria à Casa de Bragança, em
Lisboa, através do chefe do Estado Novo.
E tomando-o como “substância”, escreveu um romance que
cruza realidade com ficção - muito mais do que uma biografia - onde está espelhado
todo um século da “mentalidade coletiva e alternância das elites que governaram
sempre em proveito próprio com prejuízo do bem comum”.
Segundo ele, neste manuscrito, a Rainha D. Amélia retrata
“a sua vida em doze pequenos capítulos, equivalente a um por cada mês do ano,
organizados em quatro grandes partes, seguindo o ritmo das estações, da
Primavera, na infância, ao Inverno triste da sua velhice. Um documento
pungente, doloroso e comovente, fortemente crítico de Portugal e dos
Portugueses, permanentemente iludidos pelas artimanhas de elites ineptas e
ignorantes.”
Diz estar “Tão bem
escrito que me dá medo escrever seja o que for pois acho que nunca conseguirei
fazer justiça ao seu brilhantismo”.
Encontra-se depositado na Torre do Tombo.
E é na sua descrição opinativa que eu encontro as palavras, também, para exprimir a minha enorme admiração pela elegância, cultura, coragem, sensibilidade, inteligência e imponência da Rainha.
«… uma mulher que
já considerava extraordinária, à frente do seu tempo, com ideias inovadoras e
uma vontade enorme de fazer crescer e desenvolver o nosso país. Ao mesmo tempo
uma mulher triste, perseguida pelas fatalidades, que o passar dos anos
inevitavelmente magoou e amargurou. Mesmo assim, já no fim da vida,
completamente despojada de tudo e todos que mais amava, continuava a observar a
vida com uma lucidez impressionante.
Fica a sua
determinação em tirar o povo da pobreza e minimizar as doenças, implementar
condições de higiene de modo a evitar as epidemias.
Um exemplo de
tolerância, humanidade e classe; mesmo depois do sofrimento causado pela morte
dos que mais amava, continua a ter uma pequena palavra em defesa do povo
português, por quem considera que quis fazer muito. No meio de descrições
depreciativas nota-se que não considera que seja o povo o verdadeiro causador
do seu infortúnio e dor.»
Porque é essencial tornar menos densos os ódios latentes, a pequenez ou a ausência de consciência nacional que teimam em esquecer personalidades determinantes na afirmação histórica deste País, acrescento ainda o sublime soneto que Corrêa de Oliveira lhe
enviou em 51, ano em que morreu.
" Pelo Sinal "
(à Santa Padroeira
dos meus versos, Rainha-Nossa )
Se poeta eu fui, Senhora,
Deus o destinou? Pois sim!
Mas sem Vós, - pobre de mim! -
Mal o fora...e já não fora.
A escuridão, logo à aurora.
E, poeta é ser assim
Qual um palmo de jardim.
Abrindo ao sol, dia em fora.
E rezo, ao vê-los na estante
Ou na saudade, alma adiante,
Tanto Portugal do Além:
- «Oh versos meus, minha vida!
Pelo Sinal da Rainha
E em nome de Deus...Ámen»
Leitão de Barros, «Amélia Rainha de Portugal, Princesa de
França»
Já agora, o livro (em cima) de José Alberto Ribeiro, novo
responsável pelo Palácio da Ajuda.
«Emmenez-moi au Portugal; je m’endormirai en
France, mais c’ést au Portugal que je veux dormir pour toujours.»
Imagens Google
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