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sábado, 4 de janeiro de 2014

AS PRIMEIRAS-DAMAS DE PORTUGAL -1



Um tema interessante, pensei; ainda que abordado superficialmente.

Antes, porém, quero destacar a última Grande Primeira-Dama soberana de Portugal, a RAINHA D. AMÉLIA DE ORLEÃES.


"Assino a minha sentença de morte, mas os senhores assim o quiseram”, terá dito o Rei D. Carlos ao assinar o decreto preparado por João Franco ainda em Vila Viçosa e que previa o exílio para o estrangeiro ou a expulsão para as colónias, de indivíduos que fossem pronunciados em tribunal por atentado à ordem pública (revoltosos republicanos incluídos) sem julgamento.

O Rei não desconhecia os riscos que corria, mas achava também que não podia fugir deles.

E morreu no cumprimento do seu dever, antes da talvez última tentativa séria de reforma do sistema parlamentar monárquico

El-Rei D. Carlos I e Luíz Filipe de Porugal

A Princesa ( Maria Amélia Luísa Helena de Orleães), oriunda da casa de Orleães, mas portuguesa de coração, assistiu ao assassinato do marido e do filho, o príncipe herdeiro Dom Luíz, em pleno Terreiro do Paço.

 Rainha D. Amélia e D. Manuel II

Seria o fim da monarquia no país que a havia acolhido, em vias de desenvolvimento, com grandes assimetrias sociais, dominado por uma aristocracia decadente e comodista vivendo à sombra de um passado glorioso e de uma burguesia emergente ávida de Poder.

Em 1945, à saída da Igreja de S. Vicente, após visita aos túmulos do marido e filhos com a inseparável bengala a que crismara de «Catarina»

De visita à Bulgária, Miguel Real, recuperou em Sófia o manuscrito «As Memórias Secretas da Rainha D. Amélia», escrito nos últimos anos de vida, furtado misteriosamente do espólio de Salazar durante a invasão dos seus antigos aposentos por altura da Revolução de Abril e que tinha sido doado pela própria à Casa de Bragança, em Lisboa, através do chefe do Estado Novo.
E tomando-o como “substância”, escreveu um romance que cruza realidade com ficção - muito mais do que uma biografia - onde está espelhado todo um século da “mentalidade coletiva e alternância das elites que governaram sempre em proveito próprio com prejuízo do bem comum”.
Segundo ele, neste manuscrito, a Rainha D. Amélia retrata “a sua vida em doze pequenos capítulos, equivalente a um por cada mês do ano, organizados em quatro grandes partes, seguindo o ritmo das estações, da Primavera, na infância, ao Inverno triste da sua velhice. Um documento pungente, doloroso e comovente, fortemente crítico de Portugal e dos Portugueses, permanentemente iludidos pelas artimanhas de elites ineptas e ignorantes.”
Diz estar “Tão bem escrito que me dá medo escrever seja o que for pois acho que nunca conseguirei fazer justiça ao seu brilhantismo”.

Encontra-se depositado na Torre do Tombo.

E é na sua descrição opinativa que eu encontro as palavras, também, para exprimir a minha enorme admiração pela elegância, cultura, coragem, sensibilidade, inteligência e imponência da Rainha.


«… uma mulher que já considerava extraordinária, à frente do seu tempo, com ideias inovadoras e uma vontade enorme de fazer crescer e desenvolver o nosso país. Ao mesmo tempo uma mulher triste, perseguida pelas fatalidades, que o passar dos anos inevitavelmente magoou e amargurou. Mesmo assim, já no fim da vida, completamente despojada de tudo e todos que mais amava, continuava a observar a vida com uma lucidez impressionante.
Fica a sua determinação em tirar o povo da pobreza e minimizar as doenças, implementar condições de higiene de modo a evitar as epidemias.
Um exemplo de tolerância, humanidade e classe; mesmo depois do sofrimento causado pela morte dos que mais amava, continua a ter uma pequena palavra em defesa do povo português, por quem considera que quis fazer muito. No meio de descrições depreciativas nota-se que não considera que seja o povo o verdadeiro causador do seu infortúnio e dor

Porque é essencial tornar menos densos os ódios latentes, a pequenez ou a ausência de consciência nacional que teimam em esquecer personalidades determinantes na afirmação histórica deste País, acrescento ainda o sublime soneto que Corrêa de Oliveira lhe enviou em 51, ano em que morreu.


 " Pelo Sinal "
 (à Santa Padroeira dos meus versos, Rainha-Nossa )

Se poeta eu fui, Senhora, 
Deus o destinou? Pois sim!
Mas sem Vós, - pobre de mim! -
Mal o fora...e já não fora. 
A escuridão, logo à aurora.
E, poeta é ser assim
Qual um palmo de jardim.
Abrindo ao sol, dia em fora.
E rezo, ao vê-los na estante
Ou na saudade, alma adiante,
Tanto Portugal do Além:
- «Oh versos meus, minha vida!
Pelo Sinal da Rainha
E em nome de Deus...Ámen»

Leitão de Barros, «Amélia Rainha de Portugal, Princesa de França»


Já agora, o livro (em cima) de José Alberto Ribeiro, novo responsável pelo Palácio da Ajuda.


«Emmenez-moi au Portugal; je m’endormirai en France, mais c’ést au Portugal que je veux dormir pour toujours.»



Imagens Google

2 comentários:

  1. Sobre a Rainha D Amélia li no verão,o livro da Isabel Stilwell: D AMÉLIA,a rainha que deixou o coração em Portugal,que me deliciou e recomendo.
    Conta a história desta rainha,romanceada,desde que nasceu até a sua morte.
    Muito interessante.
    Bjs

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  2. Obrigada!
    Acrescento até o comentário da autora (jornalista e escritora) do romance histórico aquando da publicação, editado pela Esfera dos Livros:
    «Dona Amélia, a última Rainha portuguesa, foi uma mulher determinada e com capacidade de ultrapassar as dificuldades”
    Jinho

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