Paula Rego - Fotografia:
Eamonn Mccabe
«É tudo copiado à vista»,
sublinha PAULA REGO, expondo as pinturas juntamente com os seus desenhos
preparatórios feitos na presença dos modelos.
Os traços inserem-se
numa poética de naturalismo expressionista – mas um realismo que sempre se origina
da observação do verdadeiro.
«Aprender a desenhar é muito
importante. Eu também não sei muito bem, mas estou a aprender».
Só
sei pensar com a mão por meio do lápis. Tenho a imagem na cabeça. Há duas
fases: primeiro a ideia que surge e, depois, o trabalho com o modelo. (…) Está
tudo no desenho, a história, tudo. O desenho não a ilustra, mas o que me
interessa é a acção de fazer o risco sobre a pedra, o papel; a disciplina. A
ligação física e visual é essencial. A história dá o impulso.»
É assim que Paula
Rego, nascida em Lisboa (1935), oriunda de uma família republicana, liberal, culta e abastada e que partiu para Londres a fim de frequentar a Slade School of Art, onde conheceu o artista
britânico Victor Willing - com quem
casou - descreve o trabalho no seu atelier.
Paula Rego e o marido Victor Willing, na Ericeira, 1970
Paula Rego com o marido, Victor Willing e os seus 3
filhos – Victoria, Nick e Caroline.
A pintora, com um
nome reconhecido em todo o mundo, é colocada entre os quatro melhores pintores
vivos em Inglaterra.
Dame Paula Rego at Buckingham Palace. Photograph: Wpa
Pool/Getty Images
Em 2010 foi eleita a Personalidade Portuguesa do Ano pela
Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal que foi fundada há 31 anos e
reúne jornalistas de mais de 20 países a trabalhar regularmente no País.
Foi
também agraciada pela Rainha Isabel II com o grau de Dama Oficial da Ordem do Império Britânico “pela sua
contribuição para as artes.”
A
Reitoria da Universidade de Lisboa atribuiu-lhe ainda as insígnias de Doutor Honoris Causa, distinção raras
vezes concedida a personalidades no campo das artes.
Luís Moreira:
«Com personalidade
vincada, Paula Rego é conhecida pelos seus olhos profundos e pela forma
peculiar como estes observam o mundo. Tem enorme capacidade de dissecar e
criticar, retratando muito bem a realidade e as questões que considera
prementes. Pinta a guerra, o aborto, mas também a metamorfose da obra homónima
de Kafka, ou as mulheres de “O Crime do Padre Amaro”, de Eça de Queirós.
Entre
as Mulheres, 1997, da série O Crime do Padre Amaro
A sua
obra tem uma “força extraordinária” frisa Mário Matos Ribeiro, produtor de
moda, em “ambientes tão banais, tão caseiros, que se torna perturbadora”.
A maneira quase
infantil de se expressar – tanto na pintura como na oralidade – torna-a uma
personagem intrigante, a quem ninguém fica indiferente. Em certos momentos, tem
uma perturbante doçura. Noutros, uma assustadora agressividade. Mas os seus
quadros são belos, como tudo o que é indomável.»
Stefano Valente:
«Os temas tratados
pela pintora fazem ressaltar uma visão escandalosa da sexualidade e da morte (…)
È provável, porém, que tenhamos de relevar um outro elemento das representações
por Paula Rego: a ausência de normalidade, ou melhor, a normalidade que é a
exploração, a análise do limite extremo da personalidade feminina (…).
The Vivian Girls as Windmills, 1984
É,
no fundo, a cristalização do instantâneo: do tempo – quotidianamente grotesco,
hórrido ou cruel, ou apenas banal – em que bailarinas, meninas (As Meninas,
obra conjunta com a escritora Agustina Bessa Luís – 2001), loucas, ou
simplesmente mulheres adormecidas, contam as suas histórias. Histórias sempre
impiedosas…»
A mulher quase
sempre é representada consigo própria, imersa no abismo do tédio (veja-se, por
exemplo, Lush) – que é também o momento em que qualquer crise, qualquer
delírio, qualquer abandono pode acontecer.
The Lush
A leitura dos romances de Henry Miller marcou
o seu percurso, ao abordar temas do imaginário erótico feminino.
Alexandre Pomar:
«(...) Estas
pinturas reconstroem os poderes das imagens e das suas ilusões Surgem como
resposta poderosa à indiferença ambiente e são reconhecidas como tal muito para
além das fronteiras especializadas do «mundo da arte».
Paula
Rego A Dança 1988 Água-forte e água-tinta
Numa
recente montagem dos espaços da Tate
Gallery, Paula Rego presidia com o seu grande quadro A Dança, de 1988, a uma vasta galeria
dedicada à tradição britânica da pintura narrativa do séc. XX («People and Places»), onde se sucediam
a Walter Richard Sickert, obras de Stanley Spencer, Carel Weight, Ronald B. Kitaj,
David Hockney, Peter Blake e outros pintores que contam histórias, sugerem
situações ou descrevem relações humanas.»
«O naturalismo está muito fora de moda,
mas eu não me importo» Paula Rego.
«A moda passará. Estas revolucionárias
'pinturas silenciosas, com as suas réplicas sombrias', sobreviverão», num artigo do «Daily Telegraph».
"Pintar é (um acto) prático mas também mágico. Estar no meu estúdio é como estar dentro do meu próprio teatro” Paula Rego
Paula Rego quer
mostrar que «a mulher é uma
história por contar». Porque «a
história das mulheres nunca foi contada em pintura».
E assim, radicada em Inglaterra, todas as
manhãs, uma modelo - quase sempre portuguesa - posa para a pintora no atelier de Kentish Town.
Não
gosto das mulheres quase disformes de Paula Rego. Nem dos
homens horrendos.
Mas concordo que é
uma pintura desafiadora, denunciante, crua, austera, perturbadora, incómoda, carregada de solidão, sofrimento, angústia, humilhação e vergonha; que "abala as crenças e as ordens de ontem e de hoje".
Como facilmente se pode comprovar pelo quadro 'The Last Feed' , da sua última exposição em Londres 'The Dame with the Goat's Foot' (Janeiro - Março 2013) que recebi, via email, e sem o qual não estaria agora aqui a reconhecer o grande talento da sui generis pintora.
'The Last Feed'
O
comentário descrevia-o como uma figura de 'palhaço rico' com a mão esquerda a 'coçar
a micose' (o retrato perfeito… de Cavaco) com um pé no pedestal, a sugar os seios
de uma velha decrépita e aperaltada (República?) com um chapéu.
Noutro comentário:
"Se o mamão for mesmo Cavaco, o quadro já pode ficar para
a galeria dos presidentes."
Segundo
a artista, o quadro não viajará até Portugal.
O Museu e As Óperas
A inauguração da exposição "As Óperas" marcou a
entrada da Casa das Histórias num novo ciclo após a extinção, em Março deste
ano, da Fundação Paula
Rego e da assinatura de um novo acordo entre a pintora e a Câmara Municipal de
Cascais, que passou a gerir o museu.
Segundo a agência Lusa, recebeu um total de 32.404 visitantes em cerca de quatro meses.
A Casa das Histórias Paula Rego é um museu em Cascais,
e tem como missão o conhecimento e fruição da obra de Paula Rego e
suas ligações artísticas
Acolhe uma exposição
permanente com obras de Paula Rego e duas exposições temporárias por ano.
Exposição actual
"Paula Rego/ Honoré Daumier: mexericos e outras
histórias"
Catarina Alfaro, co curadora
da exposição, explica que o que une os dois
artistas, na apresentação da
exposição, "é o inequívoco facto de que tanto Daumier como Paula Rego
terem usado a sua produção artística gráfica como elemento diluidor das
hierarquias e da diferenciação entre a arte erudita e a popular, sempre
comunicante com o tempo presente através das suas vozes críticas, por vezes
mordazes e socialmente interventivas
A colecção presente reflecte todo o percurso artístico e
criativo de Paula Rego, incluindo ainda obras do seu marido (morreu em 1988), o artista
britânico Victor Willing.
"Quando tinhamos uma casa no campo"
Paula Rego - 1961, Colagem e óleo sobre papel
Paula Rego - Estudo para Aida 1983, Tinta sobre papel e Segredos
e Histórias 1989, Água-forte e água-tinta
Todos os dias, excepto 1 de Janeiro, 1 de Maio e 25 de Dezembro
Inverno - 10 h às 18 h
Entrada Gratuita
Av. da República, 300
Cascais
Nova
exposição
Abre amanhã, 24 de janeiro, em Londres, na
galeria Marlborough Fine Art.
Admite-se, também aqui, que é possível
identificar uma personagem de feições muito semelhantes às de Carlos Carreiras,
atual presidente da Câmara Municipal de Cascais, no quadro que tem por título
"Avareza".
"Avareza" com o protagonista pintado por Paula Rego e Carlos Carreiras
Confrontado com a notícia do jornal Expresso,
o Presidente da Câmara responde:
“ (…) Não vou
desmentir o que é evidente: há parecenças? Há. Algumas. Mas sendo verdade houve
então um claro favorecimento. Não sou assim tão bonito. É só comparar com
uma fotografia minha.
(…)
E assume, no Facebook, que está a negociar um novo protocolo com a pintora.
Imagens Google