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sábado, 18 de janeiro de 2014

PAULA REGO - INTRIGANTE E PROVOCADORA


Paula Rego - Fotografia: Eamonn Mccabe

«É tudo copiado à vista», sublinha PAULA REGO, expondo as pinturas juntamente com os seus desenhos preparatórios feitos na presença dos modelos.
Os traços inserem-se numa poética de naturalismo expressionista – mas um realismo que sempre se origina da observação do verdadeiro.

«Aprender a desenhar é muito importante. Eu também não sei muito bem, mas estou a aprender».
Só sei pensar com a mão por meio do lápis. Tenho a imagem na cabeça. Há duas fases: primeiro a ideia que surge e, depois, o trabalho com o modelo. (…) Está tudo no desenho, a história, tudo. O desenho não a ilustra, mas o que me interessa é a acção de fazer o risco sobre a pedra, o papel; a disciplina. A ligação física e visual é essencial. A história dá o impulso.»

É assim que Paula Rego, nascida em Lisboa (1935), oriunda de uma família republicana, liberal, culta e abastada e que partiu para Londres a fim de frequentar a Slade School of Art, onde conheceu o artista britânico Victor Willing - com quem casou - descreve o trabalho no seu atelier.

Paula Rego e o marido Victor Willing, na Ericeira, 1970

Paula Rego com o marido, Victor Willing e os seus 3 filhos – Victoria, Nick e Caroline.


A pintora, com um nome reconhecido em todo o mundo, é colocada entre os quatro melhores pintores vivos em Inglaterra.
  
Dame Paula Rego at Buckingham Palace. Photograph: Wpa Pool/Getty Images

Em 2010 foi eleita a Personalidade Portuguesa do Ano pela Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal que foi fundada há 31 anos e reúne jornalistas de mais de 20 países a trabalhar regularmente no País.
Foi também agraciada pela Rainha Isabel II com o grau de Dama Oficial da Ordem do Império Britânico “pela sua contribuição para as artes.”  
A Reitoria da Universidade de Lisboa atribuiu-lhe ainda as insígnias de Doutor Honoris Causa, distinção raras vezes concedida a personalidades no campo das artes.
E muitos outros prémios

Luís Moreira:
«Com personalidade vincada, Paula Rego é conhecida pelos seus olhos profundos e pela forma peculiar como estes observam o mundo. Tem enorme capacidade de dissecar e criticar, retratando muito bem a realidade e as questões que considera prementes. Pinta a guerra, o aborto, mas também a metamorfose da obra homónima de Kafka, ou as mulheres de “O Crime do Padre Amaro”, de Eça de Queirós. 


Entre as Mulheres, 1997, da série O Crime do Padre Amaro

A sua obra tem uma “força extraordinária” frisa Mário Matos Ribeiro, produtor de moda, em “ambientes tão banais, tão caseiros, que se torna perturbadora”.
A maneira quase infantil de se expressar – tanto na pintura como na oralidade – torna-a uma personagem intrigante, a quem ninguém fica indiferente. Em certos momentos, tem uma perturbante doçura. Noutros, uma assustadora agressividade. Mas os seus quadros são belos, como tudo o que é indomável.»

Stefano Valente:
«Os temas tratados pela pintora fazem ressaltar uma visão escandalosa da sexualidade e da morte (…) È provável, porém, que tenhamos de relevar um outro elemento das representações por Paula Rego: a ausência de normalidade, ou melhor, a normalidade que é a exploração, a análise do limite extremo da personalidade feminina (…).

The Vivian Girls as Windmills, 1984

É, no fundo, a cristalização do instantâneo: do tempo – quotidianamente grotesco, hórrido ou cruel, ou apenas banal – em que bailarinas, meninas (As Meninas, obra conjunta com a escritora Agustina Bessa Luís – 2001), loucas, ou simplesmente mulheres adormecidas, contam as suas histórias. Histórias sempre impiedosas…»
A mulher quase sempre é representada consigo própria, imersa no abismo do tédio (veja-se, por exemplo, Lush) – que é também o momento em que qualquer crise, qualquer delírio, qualquer abandono pode acontecer.

The Lush

A leitura dos romances de Henry Miller marcou o seu percurso, ao abordar temas do imaginário erótico feminino.

Alexandre Pomar:
«(...) Estas pinturas reconstroem os poderes das imagens e das suas ilusões Surgem como resposta poderosa à indiferença ambiente e são reconhecidas como tal muito para além das fronteiras especializadas do «mundo da arte».

Paula Rego A Dança 1988 Água-forte e água-tinta

Numa recente montagem dos espaços da Tate Gallery, Paula Rego presidia com o seu grande quadro A Dança, de 1988, a uma vasta galeria dedicada à tradição britânica da pintura narrativa do séc. XX («People and Places»), onde se sucediam a Walter Richard Sickert, obras de Stanley Spencer, Carel Weight, Ronald B. Kitaj, David Hockney, Peter Blake e outros pintores que contam histórias, sugerem situações ou descrevem relações humanas.»

«O naturalismo está muito fora de moda, mas eu não me importo» Paula Rego.
«A moda passará. Estas revolucionárias 'pinturas silenciosas, com as suas réplicas sombrias', sobreviverão», num artigo do «Daily Telegraph».


"Pintar é (um acto) prático mas também mágico. Estar no meu estúdio é como estar dentro do meu próprio teatro” Paula Rego


Paula Rego quer mostrar que  «a mulher é uma história por contar». Porque «a história das mulheres nunca foi contada em pintura».
E assim, radicada em Inglaterra, todas as manhãs, uma modelo - quase sempre portuguesa - posa para a pintora no atelier de Kentish Town.

Não gosto das mulheres quase disformes de Paula Rego. Nem dos homens horrendos.
Mas concordo que é uma pintura desafiadora, denunciante, crua, austera, perturbadora, incómoda, carregada de solidão, sofrimento, angústia, humilhação e vergonha; que "abala as crenças e as ordens de ontem e de hoje".

Como facilmente se pode comprovar pelo quadro 'The Last Feed' , da sua última exposição em Londres 'The Dame with the Goat's Foot' (Janeiro - Março 2013) que recebi, via email, e sem o qual não estaria agora aqui a reconhecer o grande talento da sui generis pintora.

'The Last Feed'

O comentário descrevia-o como uma figura de 'palhaço rico' com a mão esquerda a 'coçar a micose' (o retrato perfeito… de Cavaco) com um pé no pedestal, a sugar os seios de uma velha decrépita e aperaltada (República?) com um chapéu.

Noutro comentário:
"Se o mamão for mesmo Cavaco, o quadro já pode ficar para a galeria dos presidentes."
Segundo a artista, o quadro não viajará até Portugal.


O Museu e As Óperas

A inauguração da exposição "As Óperas" marcou a entrada da Casa das Histórias num novo ciclo após a extinção, em Março deste ano, da Fundação Paula Rego e da assinatura de um novo acordo entre a pintora e a Câmara Municipal de Cascais, que passou a gerir o museu.

Segundo a agência Lusa, recebeu um total de 32.404 visitantes em cerca de quatro meses.

Casa das Histórias Paula Rego é um museu em Cascais, e tem como missão o conhecimento e fruição da obra de Paula Rego e suas ligações artísticas
Acolhe uma exposição permanente com obras de Paula Rego e duas exposições temporárias por ano.

Exposição actual

"Paula Rego/ Honoré Daumier: mexericos e outras histórias"
Catarina Alfaro, co curadora da exposição, explica que o que une os dois 
artistas, na apresentação da exposição, "é o inequívoco facto de que tanto Daumier como Paula Rego terem usado a sua produção artística gráfica como elemento diluidor das hierarquias e da diferenciação entre a arte erudita e a popular, sempre comunicante com o tempo presente através das suas vozes críticas, por vezes mordazes e socialmente interventivas

A colecção presente reflecte todo o percurso artístico e criativo de Paula Rego, incluindo ainda obras do seu marido (morreu em 1988), o artista britânico Victor Willing.

"Quando tinhamos uma casa no campo"
Paula Rego - 1961, Colagem e óleo sobre papel
 Paula Rego - Estudo para Aida 1983, Tinta sobre papel Segredos e Histórias 1989, Água-forte e água-tinta

Horário de funcionamento
Todos os dias, excepto 1 de Janeiro, 1 de Maio e 25 de Dezembro
Inverno - 10 h às 18 h
Entrada Gratuita
Av. da República, 300
Cascais

Nova exposição
Abre amanhã, 24 de janeiro, em Londres, na galeria Marlborough Fine Art.
Admite-se, também aqui, que é possível identificar uma personagem de feições muito semelhantes às de Carlos Carreiras, atual presidente da Câmara Municipal de Cascais, no quadro que tem por título "Avareza".


      "Avareza"  com o protagonista pintado por Paula Rego e Carlos Carreiras

Confrontado com a notícia do jornal Expresso, o Presidente da Câmara responde:
(…)  Não vou desmentir o que é evidente: há parecenças? Há. Algumas. Mas sendo verdade houve então um claro favorecimento. Não sou assim tão bonito. É só comparar com uma fotografia minha.
(…)
E assume, no Facebook, que está a negociar um novo protocolo com a pintora.


Imagens Google

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