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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

OS NOSSOS CÃES DE GUARDA

                                                    FLY(mosca?) ou FLYER(Voador)?

Era um cão grande, branco, paciente
Manso, fiel, forte, inteligente
Que os meus 4 anos passeava, lentamente,
Não fosse sua jóia magoar-se de repente.


Seria um pastor misto, alemão/suíço?
Seguiram-se serra-da-estrela na mansarda
De temperamento dedicado e submisso
Dos haveres companheiros fieis-de-guarda.

                                                    PILOTO

Amizade grande em nós irmãos, imersa,
Dos invasores, agressivos, nos defendiam
Apaixonados pelo dono e vice-versa
O seu território, dos inimigos, protegiam.


Talvez por isso o ”fiel, belo, feroz” aliado,
Pelos romanos assim classificado,
Teve sempre o mesmo destino traçado:
Despedir-se, junto ao dono, envenenado.


Reprimindo a revolta e a mágoa
Marejados os olhos, apertado o coração,
Dizia sempre o meu Pai - ainda ecoa!
“Jamais um companheiro levarão”


Mas perante a inteligente e viva expressão,
Sela preta e marcas de fogo, douradas,
Não resistiu à oferta do belo “alemão”
E com ele ficou, de vocais apertadas.

LOBITO

Ligados por recíproca afeição
Anos foram, companhia inseparável
Avançando na idade, não na solidão.
Mas o destino repetiu-se implacável


E o Pai, mais frágil e mais velho
De mobilidade reduzida e amargurado
Com memórias esbarrou no espelho
Das vãs esperanças que tinham debandado...

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A ESCOLA DA MINHA INFÂNCIA

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Ainda lá está, sobranceira, dominando toda a aldeia.            
Construída em granito, de pé direito, pavimento e cobertura em estrutura de madeira e telhado com telhas vermelhas. Tem as características de todos os edifícios escolares da Beira Alta, levadas a cabo pelo Estado Novo. Dela fazem parte o rés-do-chão, onde viveu a primeira professora da Escola, Dona Lusitana, tia da minha Mãe e o 1º andar com duas grandes salas bem iluminadas por várias janelas, divididas por um corredor que termina num espetacular miradoiro, a varanda.
Acompanha-a no estilo a Torre do Relógio.
O acesso faz-se pela rua do Outeiro, logo a seguir à casa onde nasci. Diz-se que houve por ali um castelo - e ainda me recordo de uma pequena muralha de pedras escuras sobrepostas - que foi desaparecendo para o “benefício” da construção de casas de habitação.



Não existiam turmas mistas; havia uma sala para cerca de 30 raparigas e 
uma professora e outra sala para rapazes com um professor. Também os recreios se faziam em lados opostos da Escola. Quando se precisava de ir á casa de banho pedia-se para ”ir lá fora”. As carteiras eram corridas, de madeira, com bancos pregados ao chão e tinham uma cavidade para o tinteiro.



O horário era das 9 h às 17 h, com intervalo para almoço. A Adélia trazia lancheira porque vinha todos os dias a pé duma localidade vizinha e a Jeta também, mas de comboio, porque o Pai era agulheiro na CP. Como minha melhor amiga, aquecia a refeição lá em casa - quase sempre de arroz ou massa com batatas aos quadradinhos. A Milú saia antes do almoço porque vomitava mal entrava na sala.
As alunas usavam uma saca de serapilheira com desenhos num dos lados onde guardavam a lousa, um lápis de pau, uma pena, um lápis de pedra, o livro de Português, a gramática, a tabuada, o livro e caderno de ditados, o caderno de cópias de duas linhas e o caderno de matemática. Era obrigatório saber todos os rios e afluentes, as serras e linhas de caminho-de-ferro portuguesas. Os ditados eram muitos, as contas e os deveres também. A tabuada cantava-se. Quem contasse pelos dedos ou desse muitos erros, era castigado - viradas para a parede (sem orelhas de burro!), em pé junto á secretária da professora ou umas palmadas com a “menina-de-cinco-olhos”.
Na loja do viúvo “Ti” Felismino, casa térrea de pedras gastas pelo tempo, compostas de forma desenquadrada e sem janela, comprávamos algum daquele material; muitas vezes, quando não tinha meio tostão para troco, dava rebuçados, a nossa permuta preferida.
O Silêncio era completo. Porém, de vez em quando ouvia-se um sururu e a professora perguntando: - “Quem está a fazer chichi na sala?”: “Eu não fui”…”Eu também não”…  “Então vão todas ficar de castigo”. Com ar de cúmplice, apesar do pouco arrependimento, levantava-me e dizia: -“Fui eu, senhora Professora, que trouxe blocos de gelo do rio e espalhei-os pelas carteiras”. “Pronto, vem aqui para junto da minha secretária, de costas voltadas, até eu dizer”.
E assim se passaram 4 anos a aprender a contar, ler e escrever. Quem sabe se bem melhor do que agora no 12º ano!
A velha Escola Primária morreu para dar lugar a outra mais moderna.
O edifício, bastante adulterado na sua traça original, ainda lá está, agora como Centro de Dia - Sede Cultural e de Trabalho.
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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O ANTÓNIO

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Chamava-se António Alves e era solteiro. Foi sempre solteiro, como quase todos rapazes da aldeia naquela época, paradoxo que nunca percebi.
Vivia com a Mãe,” Ti “ Ermelinda, numa casa em frente da minha. As paredes, feitas de pedra sobre pedra sem liga de massa a uni-las e com um pequeno buraco a servir de janela, ainda lá estão. O telhado era de telha portuguesa em canudo, com uma única inclinação. O interior, com chão de terra batida, tinha dois compartimentos - um em baixo, mais espaçoso, onde se acendia a lareira e outro no declive superior com acesso por dois degraus em madeira, que, de tão pequeno, só nele se podia entrar curvando o corpo, para dormir no colchão de palha. A lareira não tinha chaminé e os fumos saíam pelo telhado tornando a casa quente. Hoje, quase não existe e o interior passou a ter arbustos como inquilinos.
Lugar da casa onde vivia

O António, como lhe chamávamos, era um homem sábio, discreto, solitário, quase pedindo desculpa por existir. Disseram-me que tinha sido funcionário dos Caminhos de Ferro mas que o vício do vinho o tinha remetido para o desemprego. Para sobreviver, vendia sardinhas conservadas em sal dispostas em camadas numas caixas de madeira em tiras.
A “Ti” Ermelinda deve ter morrido quando eu era ainda miudinha, porque só me recordo de estar sentada num banco muito pequeno, junto às achas que iluminavam a casa toda. Vestida com bibe de folhos, ia lá comer sopa. E quando regressava, recebia um recado da Mãe porque o bibe estava sujo.
Foi o António que me ensinou a ler antes de ir para a Escola num livro que me parecia muito grande - O Diário de Notícias. Era o único jornal da terra e que o Pai assinava.


Teve sempre um lugar junto ao canto da nossa lareira, sem a qual não suportaria os rigores do Inverno; vestia pouca roupa e também não tinha lenha. 
 Nós éramos a família dele. Muitas vezes apanhava míscaros para partilhar connosco o óptimo guisado que a minha Mãe fazia.
Um dia saí da aldeia para prosseguir nos estudos. Outros irmãos meus se seguiram. E António lá foi ficando cada vez mais sozinho.
Quando voltei numas férias escolares, ele não estava mais. Um enfarte do miocárdio tinha-lhe tirado a vida. A vida que não viveu.
Ficou assim na minha memória.

 “Há amigos que têm muito valor, amigos que pesam, amigos que são…” e eu, sinto ainda um certo ressentimento por não lhe ter demonstrado melhor que a nossa amizade era recíproca.
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domingo, 5 de fevereiro de 2012

PONTO DE PARTIDA

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Tenho consciência de que não é fácil ser blogueiro. Ousadia, persistência, disponibilidade, coerência, motivação, empenhamento, dizem ser requisitos indispensáveis.
Porem, porque sou pessoa de ação, decidi experimentar. E assim, neste meu cantinho da rede, afixarei o que penso sobre o que me apetecer, muito especialmente sobre detalhes do meu perfil que, embora discreto, penso não conseguir melhor do que o borrão de um simples esboço, apesar da longevidade.
Mas, nem que seja para me ler a mim própria ou clarificar as minhas ideias ou para merentretenimento, aqui estou.
Nesta minha iniciativa quero também destacar a particular influência que teve o acompanhamento do blog “O DOLICOCÉFALO”, desde o seu início.
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