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domingo, 6 de setembro de 2015

É PRECISO CONTINUAR A ACREDITAR!




Alto, abdómen protuberante, voz bem timbrada, olhos esverdeados atrás de lentes divergentes, com ténis, calções e um saco de plástico na mão, apresenta-se:
- É a D. Teresa? Sou o R. e venho por indicação da D. A, para limpar as janelas. Daquela sua amiga ali da Praceta de baixo.
- Ah! Sim, sei. Entre, então.
- Traz alguns productos, algum auxiliar de limpeza?
- Trago os meus braços. Se a Senhora não tiver detergentes posso ir comprar. Depois só preciso de uns trapos, jornais e um escadote.
- Tenho, tenho.
(E abri um armário para ele tirar os que achasse mais adequados)
- Por onde devo começar? 
- Pode ser ali pelos quartos porque aqui deste lado o sol dá em cheio…
- Eu tiro as vidraças e as persianas (quando é possível) meto-as na banheira, lavo-as com água quente e sabão…
(E etc. Um etc. muito pouco ortodoxo, mas razoavelmente eficaz)
Em cima da escada:
- Quando comecei a fazer estes trabalhos, estava desempregado. A empresa onde estava fechou há um ano e, entretanto, a da minha mulher também. Como tenho dois filhos, não podia baixar os braços; resolvi " fazer-me à estrada”.
Agora, felizmente já arranjei emprego. Mas enquanto puder, vou continuar a trabalhar nisto aos sábados. Nisto e noutras coisas. Se a Senhora quiser que a leve a qualquer lugar que precise, também cá estou; ao cabeleireiro, por ex.
E por falar em cabeleireiro, a minha mulher ajeita-se muito bem e já vai a casa de muitas senhoras. Tem é que ser nos fins de semana ou depois do meu trabalho, claro
- Gosto de saber isso, sim.
- Sabe, há muita gente a passar mal. Tenho um amigo que também ficou sem emprego. Esse entregou a casa que andava a pagar há 25 anos. Faltavam-lhe 10. Agora lá foi de novo bater à porta dos Pais que, coitados, até nem são de muitas posses e a casa é pequena. Já lhe tenho emprestado dinheiro algumas vezes. A gente olha prás crianças - têm dois filhos pequenos - e não é capaz de dizer não...
Tá a gostar do meu trabalho? Oxalá que sim.
- Sim, estão a ficar bem brilhantes.
- Então daqui a uma hora cá estou de volta. Agora vou almoçar. Hoje às cinco vou preparar as cadeiras ali no estádio do Benfica. Pagam mal, mas sempre é mais algum. Vamos meter 3-0.
Eu dei uma gargalhada e disse:
- Depois conversamos...
E depois:
- Só me enganei no resultado do outro lado! - disse ele de chofre.
É preciso continuar a acreditar!
- Desde que haja argumentos convincentes Sr. R, segundo o meu ponto de vista!

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

"VAMOS A TOMAR UM HELADO?"





As esplanadas na Plaza Mayor, em Ciudad Rodrigo - comunidade autónoma de Castilla y León, situada no extremo ocidental da província de Salamanca, a 25 km da fronteira com Portugal  (Vilar Formoso) - são um dos meus locais preferidos para uma bebida ou um sorvete no verão, quando vou à Beira Alta. 

Há umas décadas, Fuentes de Oñoro era o limite - uma espécie de Continente onde a Mãe se ia abastecer de bacalhau e outros produtos. Lembro-me da loja da amiga Carmen que nunca lhe falhava na rota de mercadorias porque trazia sempre uma caneca cheia de rebuçados juntamente com os trocos.

Muralhada, Ciudad Rodrigo foi declarada área histórica e artística em 1944. 
Mantém o traço original num ambiente de ruas estreitas e praças medievais. Residência de nobres nos séculos XV e XVI, está repleta de casas senhoriais cheias de pormenores, de monumentos, de palácios e de igrejas quase em sucessivo contínuo.
É possível passear a pé e admirar, sem espaços, a fantástica arquitectura que pode dar para vários programas ao longo de anos.

O meu acesso à Plaza Mayor - Centro histórico da cidade, onde convergem todas as ruas principais - faz-se pela Porta de Amayuelas , aberta num lanço da muralha, também conhecida como "New Gate” 


Bastará enumerar apenas alguns dos edifícios históricos que se encontram na curta distância entre a Porta acima referida e a Plaza Mayor, para o comprovar.

- O nome da Porta está relacionado com o Palácio de Amayuelas, actual Posto de Turismo.



- A Porta leva directamente à Catedral de Santa Maria, construída a partir do séc. XII, durante o reinado de Fernando II de León (estilo românico em transição para gótico) que, apesar de na sua parte externa conservar a construção original - à excepção de uma das fachadas - tem sofrido diversas reformas e ampliações ao longo dos séculos.




- O Palácio Episcopal, com o escudo da diocese da cidade no centro da fachada, fica situado ao lado da catedral. E logo a seguir, está o Palácio da Marquesa de Cartago


Fachada da casa de Cartago, estilo gótico. 
Brasão episcopal

- O Museo del Orinal, com um total de 1322 penicos de 27 países diferentes e sobre o qual já aqui tive oportunidade de falar, também se encontra neste curto percurso
É um dos atractivos turísticos mais visitados de Ciudad Rodrigo

José Maria del Arco Ortiz, o coleccionador, mais conhecido como “Pesetos”.

 E descobri o Museo del Urinol...


- A Casa do I Marquês de Cerralbo, Rodrigo Pacheco Osório (início de construção em 1533), numa das laterais da praça, apresenta um friso talhado com motivos da primeira renascença espanhola e o escudo do proprietário na fachada.


- A Capilla de Cerralbo, panteão da família Pacheco, é um templo de culto católico, a Igreja Paroquial de "El Sagrario da Catedral" desde os finais do século XIX, aquando da doação pela família à diocese. 


- A Casa de los Vazquez é um solar do século XVI, estilo gótico, com a fachada na esquina. Restaurado em 1923 com elementos do convento de San Francisco, foi vendido ao governo central em 1944 que o transformou nas instalações dos Correios da cidade



E, além destes históricos edifícios, não incluindo exactamente a Plaza Mayor, haverá muitos outros pelos quais passamos tantas vezes sem sequer nos interrogarmos sobre um possível passado relevante.

domingo, 23 de agosto de 2015

E ASSIM TEM SIDO O AGOSTO DE 2015...


Bailaricos, quermesse, churrascos, cortejos etnográficos, bandas de música, festivais internacionais, festivais nacionais de folclore com trajos coloridos, encontro de concertinas e bombos, Zés-Pereiras, gaiteiros e cabeçudos, fados de Coimbra, procissões solenes, romarias, feiras de artesanato, fogo-de-artifício, touradas e muito mais, são programas de todas as festas das aldeias de Portugal, por excelência no mês de Agosto.
Revivem-se tradições e costumes, há provas de gastronomia local e dá-se a conhecer o artesanato típico da região.

É um mês alegre e cheio de movimento devido, essencialmente, aos muitos emigrantes que ainda sentem a nostalgia do País em que nasceram.

E os pescadores saem, também, em procissão para o mar transportando andores com os seus santos em barcos enfeitados.


  Procissão do Mar - Ericeira. As traineiras iluminam a procissão. 

  
Na praça de touros de Aldeia da Ponte, concelho do Sabugal, uma edição do festival em que participam nove das aldeias com maior tradição na Capeia Arraiana.

Festejos em Arcozelo da Torre

"VII Feira de Tradições de Alvite",

Aldeia de Coja

Também eu, mais uma vez, viajei de Lisboa até à minha aldeia (na Beira Alta - região de que, particularmente, estou a falar) para a festa da Senhora do Monte.
E digo Festa porque não houve festas. 
Até nisso a minha terra é diferente. 
A gente nova, para ter um cheirinho delas teve que se deslocar à vizinha aldeia Miuzela.

Do programa fez parte:
- Dia 14 à noite, procissão das velas
- Dia 15 logo pela manhã, o “peditório” ao som de uma banda de música seguido da Santa Missa na Ermida de Nossa do Monte e música brejeira-a-metro desde a meia-noite até às duas da madrugada para brindar os ouvidos de todos os habitantes

 A Banda (músicos com idades entre os 20 e os 9 anos)

 O monte da Senhora do Monte - um miradoiro deslumbrante

Ao contrário de outros anos recentes, não deparei com nenhum panorama de incêndio, quer durante a viagem Lisboa-Cerdeira, quer durante os percursos que fui fazendo ao longo dos poucos dias que por lá estive.
Admirada, cheguei a comentar:
- Tudo tão verde do Sabugal à Cerdeira. Lindo!
- E a Covilhã (onde almocei) parece mesmo um presépio…

Jamais me passaria pela ideia que, um dia depois de ter regressado, assistiria a um autêntico filme de terror que, de tão assustador, assombra o pesadelo das pessoas muito depois de ter terminado.



 “Um incêndio de que não há memória no concelho do Sabugal está a consumir oliveiras, castanheiros, carvalheiras e mato nas localidades da Moita, Casteleiro, Sortelha, Santo Estêvão, Urgueira, Aldeia de Santo António, Espinhal e Quintas de São Bartolomeu. A Protecção Civil, os bombeiros e os meios aéreos têm sido impotentes para travar o avanço das chamas. Algumas das estradas de acesso ao Sabugal estão neste momento (18:30 horas) cortadas ao trânsito”




“Desde a madrugada de quinta-feira que a Covilhã está a ser assolada por fortes incêndios. Um que deflagrou já de tarde, pelas 14:45 mobilizava ainda esta madrugada quase 400 bombeiros. O fogo continua a lavrar em Verdelhos, esta manhã de sexta-feira. Os moradores estavam aflitos com o cenário que encontravam diante das suas casas e perderam muito do cultivo feito ao longo do ano.
Os bombeiros estavam acompanhados por 127 veículos. O repórter da TVI no local deu conta que foram mais de 14 aviões e helicópteros que estiveram na frente do fogo.” 



Cruel, insano, depravado, psicopata, o Imperador Nero gostava de se exibir para se tornar popular
E ficou tocando lira enquanto a cidade de Roma ardia em chamas...






E assim tem sido o mês de Agosto de 2015... repleto de espectaculares fogos de artificio e de fogos florestais "espectaculares" .



Imagens Google e outras

terça-feira, 11 de agosto de 2015

2015 - ANO INTERNACIONAL DOS SOLOS




O solo é "um meio vivo e dinâmico que sustenta a vida terrestre e as atividades humanas. Não é um recurso renovável, pois são precisos séculos para se formar 1 cm de camada de solo. Mas um mau uso pode fazê-lo desaparecer em poucos anos. E o solo está a diminuir e mesmo a desaparecer em muitos pontos do globo"
Sustentabilidade é acção



09 Agosto 2015


As chamas deflagraram pelas 16 horas e pouco em povoamento florestal, perto de Vale de Colmeias, na freguesia de Semide, concelho de Miranda do Corvo e continuaram a alastrar com intensidade atingindo arrecadações, anexos e armazéns agrícolas dispersos.
Sempre a avançar em direção a Miranda do Corvo e Lousã devoraram alfaias agrícolas e viveiros de plantas, actividade desenvolvida pelos seus habitantes.
Apesar de estar a ser combatido por 252 operacionais auxiliados por 67 veículos e cinco meios aéreos, o fogo, pelas 19 horas, continuava incontrolável e eram aguardados mais reforços
Lusa



O fogo, com início às 14,30 horas, na Serra da Estrela levou à evacuação do Parque de Campismo do Pião, no concelho da Covilhã, por uma questão de precaução (segundo o oficial da GNR, major Luís Patrício).
E cerca das 15, 45 horas, continuava a ser combatido por 165 operacionais auxiliados por 46 meios terrestres e cinco meios aéreos.
Lusa


Assim, num ápice, 2 incêndios em simultânio.
E quem se importa, além dos lesados?

Segundo o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a "aérea ardida este ano, mais do que duplicou em relação ao mesmo período de 2014, tendo os incêndios florestais consumido 14.971 hectares".




Portugal arde por quase todos os lados.
Mas nem todo o território arde igualmente. Falando de fogos florestais, são imensas as áreas onde o fogo pouco ou nada entra - áreas de interesse económico, claro, associadas à exploração florestal da Portucel-Soporcel (eucalipto)do Grupo Amorim (cortiça) e Grupo Sonae (pinho)...


16 Junho 2015
A Quercus - Associação Nacional para a Conservação da Natureza - avisou que o ICNF (Instituto para a Conservação da Natureza e das Florestas) está a autorizar cada vez mais a plantação de eucaliptos no país, dando como exemplo o caso em Meia Via, no concelho de Torres Novas, onde o ICNF autorizou a plantação de 13,41 hectares de eucaliptal, num terreno com sobreiros, localizado parcialmente em Reserva Ecológica Nacional. 
Além do derrube de sobreiros, está a processar-se «uma mobilização profunda de solos debaixo da copa dos sobreiros, afetando assim a regeneração natural das árvores».


Visita de Cavaco Silva aos viveiros da Herdade de Espirra e à unidade da Corticeira Amorim 

Os viveiros, os parques de hibridação e o laboratório de biotecnologia encontram-se na Herdade de Espirra, em Pegões.

Nem o projecto do Alqueva consegue livrar-se da obsessiva leviandade da plantação do eucalipto pela EDIA, que pretende promover a produção de matéria-prima para a indústria da pasta de papel "ignorando" produções "essenciais e estratégicas" que "podem ser produzidas nos perímetros de rega".

E tudo legalmente, com o Decreto-Lei nº 96/2013 de 19 de Julho que simplifica plantações de eucaliptos, mas complica a plantação de espécies florestais autóctones como o sobreiro, o castanheiro, o carvalho ou a azinheira.

Com uma área de eucaliptal desordenado em expansão, uma das maiores do mundo, as consequências são claras, e por isso a "Lei do Eucalipto Livre" é também a "Lei do Incêndio Livre".

Exportamos em valor bruto e depreciamos os nossos recursos naturais, para usufruto de investimento holandês (país de sede das principais empresas da indústria de base florestal a operar em Portugal).
O Governo está assim, irresponsavemente, a facilitar a desertificação das zonas rurais, a destruição do que sobra da nossa agricultura e a propagação crescente de incêndios - quer "pela natureza do tipo de plantação, quer pelo prémio ao crime".

Infelizmente, Portugal vai continuar a arder exactamente nos locais onde houve grandes incêndios há 8, 9 anos (aconteceu, no passado, em terrenos dos meus Pais), porque a vegetação, depois de regenerada, fica pronta para arder de novo!


Este ano a PJ já deteve 47 incendiários (só duas mulheres), quase todos menores.
Há os desempregados, os que têm historial clínico com défice cognitivo, problemas alcoólicos ou depressões, os que agem por retaliação e os que procuram obter algum benefício.



07 Agosto 2015
A Quercus está apreensiva com «os atrasos» na concretização das medidas do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR 2020) destinadas à floresta, realçando que ficam comprometidas ações preventivas contra incêndios, «ameaçando a sustentabilidade» da área florestal.

Mas "Todos os anos são devolvidos milhões de euros a Bruxelas, de fundos que não investimos na prevenção”. 
Xavier Viegas, coordenador do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais. 

Nã há uma política florestal e ambiental adequada a um país que é de clima moderado mas que tem picos de muito calor.




Apesar de ser do conhecimento de todos, nunca será demais sublinhar os benefícios da conservação das árvores. Elas reduzem o impacto causado pelas chuvas, evitando, com as raízes, a erosão do solo e o conseqüente assoreamento dos recursos hídricos; e que, a água, quando absorvida pelas plantas, através da transpiração das folhas, volta à atmosfera em forma de vapor; bloqueiam os ventos frios no inverno; resfriam o ambiente no verão; servem de refúgio e apriviosonamento de alimentos para consumidores primários - aves e insetos;  actuam como colectoras de gás carbónico; são responsáveis por manter mais de 50% da biodiversidade; reduzem a poluição sonora; fornecem base para medicamentos e chás; dão frutos, flores, sementes, fibras, madeira, látex, resinas e pigmentos; promovem a saúde dos solos. 

“O Governo gasta quase quatro vezes mais no combate aos incêndios do que na prevenção... "
Maria do Loreto Monteiro, presidente da Sociedade Portuguesa de Ciências Florestal


Uma equipa de investigação da Universidade de Aveiro (UA) está a estudar uma técnica experimentada pela primeira vez em Portugal - o mulching.

O mulching propõe substituir as “ineficazes” barreiras de madeira cravadas nos solos ardidos a fim de reterem águas e sedimentos. 
Sérgio Alegre diz que "em comparação com o mulch, essas barreiras, não cumprem a função de reter as águas e de mitigar a perca de sedimentos dos terrenos expostos à erosão"
O método inovador, que em tradução livre se pode designar por ‘acolchoado’, consiste na distribuição de uma camada de restos florestais triturados, pelos solos consumidos pelo fogo.

Oxalá que, com o mulching, "os terrenos que chegam a perder várias dezenas de toneladas de solo por hectare durante o primeiro ano depois de um incêndio" como o investigador relata, deixem de ser uma realidade.

Imagens Google e Mozilla Firefox