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terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

AINDA A DÉCADA DE 60



Quando a sensação de incompletude e os valores inversos à vida são demasiado sufocantes, dou uma escapadela no tempo à década de sessenta, a década da revolta que mudou o mundo de modo a que nada voltasse a ser como dantes.
Porem, neste caso concreto, refiro-me, especialmente, à primeira etapa, caracterizada por uma certa sensação de lirismo, evidente idealismo e uma mudança cultural nos mais variados grupos sociais desde a música, as transmissões televisivas a cores, as personalidades-líderes e artistas, Neil Alden Armstrong, o cinema de grandes musicais, a influência pelas ideias de liberdade...




Filho de pai irlandês e mãe mexicana, 13 filhos, com "cara de índio", um autêntico monstro-sagrado, grande figura mítica do palco e do cinema, '' maior do que a vida'', inesquecível (como tantos desta época), exemplo de alguém que soube vencer apesar dos obstáculos, carismático,  senhor de uma energia empolgante, é a minha estrela preferida para o post de hoje no filme  “Zorba, o Grego, 1964”Anthony Quinn. 

Uma interpretação magistral no papel de Alexis Zorba, um simples camponês grego com um enorme amor pela terra e pela vida"
A famosa cena onde o personagem interpretado por Quinn dança o Sirtaki, rodada na praia do vilarejo de Stavros.


"Zorba the Greek", é um inesquecível e absorvente filme (Hollywood Reporter) greco-americano de 1964 , baseado no romance e filmado na ilha de Creta que mostra o lado bom da vida.
O tema principal é a amizade construída entre um tímido e reservado escritor inglês, Basil (Alan Bates), que chega a Creta para trabalhar numa mina herdada do pai, grego e Alexis Zorba (Anthony Quinn), um camponês extrovertido e exuberante, cheio de amor pela vida. Zorba concorda em trabalhar na mina abandonada de Basil originando-se, durante o contacto entre ambos, uma  gradual passagem de observador do mundo (por Basil) a participante. Ele descobre que a vida é mais rica do que a mina herdada do pai, que é mais misteriosa e imprevisível do que ele imaginava, que "não deixa romper as horas sem saborear os minutos". 
Temos e havemos de aprender a passar pelo mundo"Gdantas, em recanto das letras - resenhas de filmes). 
Para ter esse olhar mais amplo sobre a existência, o amor e a amizade, Basil e Zorba dançam junto ao  mar imenso, "símbolo do inconsciente, de profundezas que só aprendemos ousando, indo ao encontro do desconhecido, da arte de saber viver". Obvious magazine
Zorba,  transcende a mediocridade e a burocracia do sistema. É um ser livre, espontâneo e responsável pelas suas opções.


No início dos anos sessenta os adolescentes/jovens agrupavam-se em pequenos grupos para fazer as festas em garagens, casa de amigos, Clubes, Casas de Recreio, Sociedade de Belas Artes, etc.
“A Lareira” era uma "boite" em Lisboa, situada na Praça das Águas Livres, que se apresentava como uma casa de chá onde se podia dançar à hora do “lanche”, ao som dos discos da época de The Animals, The Beach Boys, Freddie & the Dreamers, The Rolling Stones, The Beatles, The Crickets, The Swinging Blue Jeans e outros.


Mas o Zorba acabava de chegar, era a dança do momento. Todos unidos em circulo, treinando, treinando até acertar o ritmo. 
Porem, confesso, nunca cheguei a acertar lá muito bem os meus passos com os do grupo...


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quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

A MISSA



A Missa ou Celebração Eucarística foi instituída por Cristo na noite de Quinta-feira Santa, antes da Sua morte.

Lê-se nas Escrituras:
E, enquanto ceavam, tomou Jesus um pão e, tendo dado graças, o partiu, e o serviu aos seus discípulos, dizendo: “Tomai, isto é o meu corpo”…(Marcos, 22-24).
E, havendo pegado um cálice, Ele deu graças e ordenou: Tomai do cálice e partilhai entre vós (Lucas, 22-17)
Da mesma maneira, depois de cear, pegou o cálice, explicando: “Este cálice significa a nova aliança no meu sangue, derramado em vosso benefício (Lucas, 22-25)
No fim, pediu-lhes que repetissem esse gesto em Sua memória.
Entretanto, outros barcos chegaram de Tiberíades, próximo do lugar onde o povo havia comido o pão, após o Senhor haver dado graças. (João, 6-23)

Assim fizeram os discípulos de Jesus, os primeiros cristãos e sempre,  até aos nossos dias, praticamente com a mesma estrutura - a liturgia da palavra (textos bíblicos) e a liturgia eucarística (consagração do pão e do vinho e comunhão).


As fórmulas usadas para a consagração na Eucaristia eram apresentadas na Didaqué  (Doutrina dos Doze Apóstolos),  um antigo catecismo redigido entre os anos 90 e 100 na Síria, na Palestina ou talvez na própria Antioquia,  antes mesmo de alguns livros da Bíblia Cristã e da definição do cânon bíblico.

Segundo a doutrina católica, "cada missa é um sacrifício verdadeiro, na qual o Cristo ressuscitado está presente corporalmente no altar como uma vítima que é oferecida outra vez pela Igreja a Deus Pai, como expiação pelos pecados da humanidade."

Desde muito pequena, até por volta dos vinte e tal anos, fui católica praticante ou, melhor dizendo, cristã católica não praticante  (dificilmente alguém é um católico praticante perfeito), fruto de uma herança cultural antiga transmitida pelos meus avós, pais, família e pelo ambiente que me rodeava. Recebi o Baptismo, fiz a Primeira Comunhão depois da Catequese e fui ungida com os óleos do Crisma. Ia à Missa ao Domingo como todos os paroquianos da freguesia e, diariamente, durante o período de aulas pois era uma mais valia para a Disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica…


O véu rendilhado sobre os cabelos era um adorno feminino (branco ou preto) em que geralmente se investia para uma exibição envaidecida ...


O latim, “língua universal da fé”, era o idioma utilizado. Os fiéis ajoelhavam-se imensas vezes, incluindo o momento de receber a Sagrada Comunhão. O padre colocava a hóstia na boca com a patena sob o queixo para que nenhuma partícula fosse profanada. Havia intervalos para meditar em silêncio total. O sacerdote permanecia de frente para a cruz do altar durante quase toda a cerimónia, seguindo uma liturgia extremamente codificada. Como música oficial da Igreja cantava-se o Canto Gregoriano e o Missal,  livro de orações que continha as passagens bíblicas usadas no ritual da Missa (Saudação, Acto penitencial, Glória, Ofertório, Comunhão, etc.), era indispensável. 
A minha prenda de Primeira Comunhão foi exactamente um pequeno Missal como o que se mostra abaixo e que preservo ainda.


Participava, assim, numa Missa cujo ritual se mantinha há quase 1400 anos (de 600 d.C. até 1970 d.C.) partilhada  praticamente por todos os Papas, Santos e cristãos do Ocidente. 
Porem, as minhas estruturas cristãs ritualizaram, “adormeceram” e não se orientaram para uma procura do acreditar e do ter fé.

Todavia, o ritual da Missa passou por algumas alterações até estar como hoje o conhecemos.

Durante os primeiros séculos, a celebração da Missa era simples para evitar tudo o que desviasse a atenção do mistério central. 

A partir do segundo milénio, com a introdução do sacrário ou Tabernáculo, o pão e o vinho tornaram-se os elementos centrais de toda a celebração e a leitura da Palavra passou para segundo plano. 

Sacrários/ Tabernáculos

Mais tarde a Igreja considerou que a Missa deveria ter um ritual uniformizado e passou a ser celebrada em latim com o sacerdote virado para o altar, junto à parede. Os fiéis limitavam-se a esperar pelo momento da comunhão ou pela Adoração do Santíssimo Sacramento sem participar na liturgia da palavra.
No período barroco as grandes inovações ornamentais, o uso excessivo de incenso, de coros e organistas afastaram mais os fiéis da verdadeira celebração.
Pelos finais do século XIX e inícios do século XX, já com o ritual bastante distanciado do original dos primeiros séculos, a Igreja sentiu necessidade de voltar ao padrão do inicio através de uma reflexão profunda sobre o seu papel no mundo.
O Papa João XXIII , cuja simpatia e simplicidade lhe valeram o apelido de o Papa Bom ( Arquivo / 03/12/1962)
 e o Concílio Vaticano II, evento que  marcou fortemente a vida da Igreja e de toda a sociedade.

Então, o Papa João XXIII logo se mostrou disponível para lhe dar novo rumo e convidou a Igreja a acolher os novos “sinais dos tempos”.
Convocou os bispos de todo o mundo para reformar, entre outros aspectos, a celebração da Eucaristia. E no dia 11 de Outubro de 1962 começou oficialmente a preparação de um dos mais importantes concílios da história da Igreja, o Concílio Vaticano II. Quebrando rotinas, dele saíram reformas significativas como o regresso à presença real de Cristo no pão e no vinho, nova importância para a liturgia da palavra, relação com líderes de outras grandes religiões e abolição obrigatória do latim nas práticas que fazem parte do culto religioso.

Assim, o altar foi deslocado para um lugar central frente a todas as pessoas, a Missa passou a ser celebrada na própria língua e o púlpito das leituras foi disposto de modo a que toda a assembleia participasse na celebração. Tornou-se mais abrangente - os fiéis participam como convidados da Ceia do Senhor e desempenham diferentes ministérios - leitores, cantores, acólitos, outros - uma "revolução no estilo, na linguagem e na mentalidade". 

“As grandes conquistas da humanidade, nos últimos séculos, deram-se fora da Igreja, contra a Igreja, mas fundadas em valores evangélicos”Walter Kasperteólogo e cardeal

Porem, de acordo com Agenor Brighentio, o Concílio Vaticano II deveria ter acontecido ainda no Concílio de Trento (1545-1563), uma vez que se vinha achando necessária, desde longa data, uma profunda reforma na Igreja. Por outro lado,  em vez de uma contra-Reforma, a Igreja deveria ter aproveitado por ex., algumas das reformas exigidas por Lutero e outros

Os resultados  do Concílio não foram proporcionais às expectativas,  sublinha o Prof. Roberto de Mattei,  no encontro de 17 de Março de 2012

E justifica-se citando-se a ele próprio: “o colapso da segurança dogmática; o relativismo da nova moral permissiva; a anarquia no âmbito disciplinar, o abandono do sacerdócio e da vida religiosa por parte dos sacerdotes e dos religiosos e o distanciamento da prática religiosa de milhões de fiéis, a infiltração da heresia através dos novos catecismos e novos ritos, as contínuas profanações da Eucaristia, o massacre das almas enquanto as igrejas se livravam do altar, mesas da comunhão, crucifixos, imagem de santos, mobiliários sacros, quadros que acabaram em catálogos de antiquários.  A ‘primavera da fé’, que deveria seguir ao Concílio Vaticano II, aparecia mais como um rígido inverno, documentado sobretudo pelo colapso nas vocações e do abandono da vida religiosa”.

  
"O balanço global dos quarenta anos pós-conciliares 1965-2005, com respeito às perdas totais e percentuais dos principais institutos religiosos, será ainda mais dramático".  Angelo Pardilla

Concílio de Trento
"Actualmente celebra-se a Missa de acordo com as reformas instituídas pelo Concílio Vaticano II. No entanto, recentemente, o Papa Bento XVI permitiu que fossem celebradas também Missas tridentinas  (Relativo a Trento, Itália) - Missas em latim, de acordo com o missal publicado no século XVI por São Pio V, renovado em 1962 pelo Papa João XXIII.)" Wikipédia
O Concílio de Trento (1545 a 1563), um dos três concílios fundamentais na Igreja Católica, também conhecido como o Concílio da Contra-reforma” (Manuel Augusto Rodrigues), foi convocado pelo Papa Paulo III para garantir “a unidade da fé e a disciplina eclesiástica". 

Num mundo crise como o de hoje, cada vez mais pessoas (especialmente jovens) procuram alternativa ao “mundo moderno” e isso inclui um retorno à "Missa de Sempre", àquela que, para preservar durante a Reforma Protestante, os mártires católicos deram a vida e que  uniu Cristãos através de continentes e de séculos. 

Segundo o padre Bruce Júdice há uma sede de espiritualidade entre os jovens. Uns procuram ioga, meditação, natureza; outros preferem a missa tridentina à missa contemporânea do Concílio Vaticano II. 

"O rito contemporâneo não é para mim; no antigo, a meditação, o silêncio e a beleza encantam"; "Fiquei tão encantada com as primeiras celebrações que não parei mais de frequentar as missas. Adoro a vestimenta" e "Ele mostra a dignidade da mulher, exalta seu carácter sagrado", são alguns dos comentários de um público crescente de jovens e de pessoas curiosas sobre o ritual tridentino.

As Cores Litúrgicas –  Verde, branco, vermelho, roxo, rosa e preto

Rito tridentino


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segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

SEM REGRESSO


Foi no dia 5 de Julho.
 “…a I.M. estava diferente – cansada, com edemas, parca nas palavras, apática, "desligada"...
- “Só me apetece estar deitada. A Teresa desculpe”, disse.

Talvez o destino lhe tenha traçado o fim da caminhada. Talvez não lhe ouça mais pronunciar o meu nome.
Ou talvez sim. Oxalá.

Sim, ouvi-a pronunciá-lo até ao dia 14 de Janeiro de 2019

- Teresa, sou o J., o filho da I. Sei que eram amigas há anos. Estive a rever as fotos  daquele cruzeiro pelos Fiordes em 2004…e achei que devia dizer-lhe.
A Mãe, ontem, partiu para um “cruzeiro” sem regresso. 
-...
- Estava muito serena. 
- Devia "sentir-se" aliviada da quase imobilidade em que vivia devido àquela cegueira nunca bem explicada (ou sim?) e à dificuldade em respirar.

A I., Senhora, discreta, culta, resignada, autêntica, Amiga, de postura impecável, levou tudo isto com ela. Sobra a memória desse tudo e fica-se mais triste, mais vazia.
As fotos ou as conversas tidas serão formas de nos lembrarmos das pessoas que não voltam mais.

- Tresinha, aquela nossa viagem foi muito boa, não foi? Lembra-se da Maglô? É uma personalidade difícil de esquecer. Tão exótica!
Mas nós éramos as mais jeitosas, não acha? (ela achava…)
-...

E lá vinham as gargalhadas, etc., que não voltaram mais







quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

ONTEM/ HOJE/ ONTEM




Ontem e hoje

A partitura (conhecida) mais antiga do mundo, com mais de 3400 anos



Hoje e ontem




Fonte: Google

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

CHRIST THE SAVIOUR IS BORN!



Silent night, holy night!
All is calm, all is bright
Serenamente, sentada na cadeira
Observo as tochas da minha lareira
E as brasas que elas modelam
Quando, tórridas, se desmantelam

Na silenciosa e quieta melancolia
Heavenly hosts sing Al-le-lu-ia!
A festa de calor e luz em extinção
Incandescente, se torna então
Trazendo-me de longe, à memória
Colegas de escola e…tanta história!

Christ the Saviour is born!
Christ the Saviour is born!





A magia da “Noite Silenciosa”, melodia suave da esperança, permanece ininterrupta 200 anos.  Foi cantada pela primeira vez por Joseph Mohr, padre de Salzburgo e Franz Xaver Gruber, professor da Alta Áustria, na Igreja St. Nikola, em Oberndorf, perto de Salzburgo. Alguns anos depois, a música foi levada da Áustria para a Europa e para o mundo, por famílias de cantores do vale de Zillertal. Hoje é executada em mais de 300 idiomas e dialectos.


sábado, 15 de dezembro de 2018

LUZES DE NATAL



As primeiras luzes eléctricas de Natal foram uma invenção de Thomas Edison, em 1880. Para fazer propaganda ao seu laboratório, pendurou várias lâmpadas incandescentes à volta. Assim, os passageiros do caminho-de-ferro que passava perto podiam “ver o milagre de Natal”…

Thomas Edison (1847 - 1931) "foi um inventor e empresário americano que desenvolveu e disponibilizou comercialmente muitas das principais invenções da vida moderna"

E Edward Johnson, colega de Edison, foi quem apresentou a primeira árvore de Natal com luzinhas na sua casa, em Manhattan.

A árvore iluminada de Edward Johnson

Porem, a tradição começou, não por uma jogada de marketing mas porque Dezembro é o mês mais escuro do ano no hemisfério Norte e as luzes eram uma promessa do retorno do Sol.

Ao longo dos anos as luzes de Natal sofreram grandes mudanças - hoje encontra-se uma grande variedade de formatos, tamanhos e cores.
A essência da festa de Natal é a mesma em todo o mundo e em todos Países os Natais são "feitos de luz".

Luzes de Natal pelo mundo

  Palácio Avenida - Brasil
 Copenhaga - waffle on a stick!
Medelin - Colombia
                                                                         Luzes de Barcelona
Natal na África do Sul
                                                                    O Natal na República Dominicana
Parque Nabana, Sato – Japão
Gubbio, Itália
Lyon - França
Uma pilha de brinquedos e presentes forma a Torre do Terror em homenagem a Toy Story, durante o Natal Castelo da Cinderela no Magic Kingdom

Algumas das mais bonitas árvores do mundo

Quando as luzes se acendem, mais nada importa. «É isso que nos alimenta o ego, aquele momento mágico em que se liga a luz e se ouve as pessoas a bater palmas. Em alguns momentos, criamos magia», diz Jorge Castro, um dos actuais proprietários da Castros Iluminações Festivas, S.A., a quarta geração de um negócio de família que já leva 96 anos de história a iluminar "sonhos-de-Natal " em todo o mundo.

Jorge Castro



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sexta-feira, 23 de novembro de 2018

RÍTMOS - TAMBÉM COM RAVEL


Abro o computador. Leio as notícias em diagonal. Vejo o correio electrónico.
O windows dispõe uma página em branco. Resolvo preenche-la. Sem esquemas nem ideias. As palavras vão surgindo ao ritmo da perscrutação de hábitos, rotinas e comportamentos. Sem espaço para fantasias.


O pequeno assento estofado ganhou um inquilino. Vive ali povoado de pensamentos negativos. Sem fome e sem vontade. "Não aguenta mais". Deixou de ter planos e compromissos. Sem energia, não lhe apetece fazer nada.
Tomara que tudo isso fosse apenas uma máscara. Mais cedo ou mais tarde as máscaras caem. Mas não é. Porque amanhã será igual. E depois de amanhã.


Ouve-se um cão a latir (parece que “chora”). Dia após dia.  À noite ladra. E aos fins de semana também (parece sentir-se "protegido").
Os cães ladram quando brincam, cumprimentam, têm medo, querem atacar ou receber atenção; quando estão sozinhos, frustrados, excitados ou ouvem outros cães. Diz-se que ladram por tudo ou por nada.
Comunicam através do latido para informar sobre o seu estado emocional. As características acústicas do latido são consistentes consoante a situação ou o tamanho do animal – agudos, graves, mais ou menos longos.
Geralmente, os que são emitidos em isolamento são agudos  para chamar a atenção do dono.
Julgo ser o caso do cão a que me estou referindo. Só que, quem o ouve não é o dono… e ouvir um cão a latir continuamente pode deixar os vizinhos em stress. 




Ah! O bolero de Ravel… Alegre, inspirado pelo ritmo da dança espanhola. Alguém aqui bem perto está a deliciar - se com a riquíssima exploração dos timbres de todos os instrumentos da orquestra.
Um por um, vão entrando em volume baixo. Num ritmo sem variação, vão-se repetindo, ganhado massa e corpo, criando forma e volume.
Final de música apoteótico, hipnotizante!
Obrigada, Maurice Ravel!
Obrigada, vizinho (a) por me ter deliciado com esta melodia linda!

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

PICTOGRAMAS/ EMOJIS



A evolução da comunicação escrita

A evolução dos meios digitais, a influência da Internet e a abundância de informações na rede têm contribuído para a mudança de comportamento da sociedade e do processo de comunicação. A necessidade de maior rapidez na transmissão de informação ou a brevidade de uma leitura, tem acelerado o retorno à utilização de elementos simbólicos. 

Segundo Peirce, o  símbolo  é  a representação de um objecto gerado a partir de uma associação de ideias e “Todas as palavras, frases, livros e outros signos convencionais são símbolos”. 
Os símbolos não guardam qualquer relação de semelhança ou de contiguidade com a coisa representada. A relação é puramente convencional e para compreender um símbolo, é necessário aprender o que ele significa.
Porem, hoje vou usar a palavra símbolo associada à comunicação dos seres humanos. 

Não está provado quando surgiu a comunicação mas parece não haver dúvidas de que existiu a partir da altura em que o homem sentiu necessidade de convívio social e de expressar os seus sentimentos ou seja... sempre. E que foi através dela, pelo registo do arquivo da nossa história que, diferentemente das outras espécies, conseguimos evoluir, alterar o modo de viver e de pensar.
A importância das representações visuais para a comunicação humana vem desde a Pré-história. 
A visão foi o sentido-chave para o desenvolvimento das primeiras técnicas de conservação da informação, os registos sobre pedras, ossos e parede de rochas". 
Baitello Júnior (2014)

A Era dos Símbolos e Sinais teve início há cerca de 90 mil anos.   O homem primitivo começou por comunicar através de uma linguagem muito rudimentar baseada em gestos e num limitado número de sons (guinchos e urros) que sabia produzir.
Com o passar do tempo, a linguagem e os processos de comunicação humana foram sofrendo várias influências resultantes da cultura e da evolução da sociedade.
No fim do Neolítico as figuras feitas em pedras e em paredes das cavernas já eram uma forma clara de comunicação.
desenvolvimento do desenho acontece por volta de 40.000 a 25.000 (Era da fala) a. C. A transmissão de uma ideia, um conceito ou um objecto passou a manifestar-se através de desenhos (símbolos) figurativos e estilizados  (pinturas rupestres) feitos com sangue de animais, saliva, fragmentos de rocha e argilas.  Dispostos nas paredes das cavernas onde viviam no Inverno,  em rochedos e outras superfícies lisas, os “caracteres eram as próprias imagens do homem e dos animais comuns na época: bisões/búfalos, ursos, veados lobos, javalis, etc.
1 - Pinturas rupestres em cavernas. Lascaux, França.
                                                                      2 - Pinturas rupestres do Vale do Coa

A criação de significados padronizados para os símbolos existentes e o início do uso de papiros, pedras e placas de argila para gravar as mensagens, deu lugar à Era da Escrita, no século IV a. C. 

Evolução dos símbolos com o passar do tempo até chegar ao alfabeto.
 Lemos (2016)

A escrita foi o primeiro meio de comunicação da história e a cultura passou a ser transmitida de forma oral e escrita, de acordo com a divisão de classes sociais e voltada para a tradição, com início nas chamadas tábulas[1] de Uruk sumérias.

Evolução dos sistemas da escrita:

“Pictográfica" - É a base da escrita cuneiforme e dos hieróglifos, origem de todas as formas de escrita. Consiste em transmitir uma ideia, um conceito ou um objecto através de um desenho (símbolo) figurativo e estilizado. Os meios de comunicação do homem primitivo eram totalmente independentes da fala. 
Tem a vantagem de poder ser lida independentemente da língua falada.
E continua a ser utilizada na sinalização do trânsito, de locais públicos, na infografia e em várias representações do design gráfico.


Ideográfica -  Manifesta-se através de desenhos especiais, os ideogramas, e cada actividade, objecto ou ideia é  representada por um único signo.  São necessários tantos símbolos quantos os objectos e ideias a exprimir.  
Para traduzir ideias abstractas, os chineses recorreram aos símbolos (ideogramas) de objectos concretos correspondentes na língua falada, a uma palavra com o mesmo som. Introduziram aqui, desta forma, elementos fonéticos. A nossa escrita também utiliza alguns símbolos ideográficos: [0] lê-se zero, [1] lê-se um, [2] lê-se dois etc. Um único símbolo representa uma palavra /ideia completa.  

Porem, as mais importantes são a egípcia  (hieroglífica), a mesopotâmica (suméria), as escritas da região do mar Egeu (cretense e outras) e a chinesa (donde provém a escrita japonesa).

        1-  Caracteres chineses 2-Disco de Festo - Hieroglíficos minóicos 
3- Hieroglíficos antigo Egípto 4- Escrita cuneiforme dos sumérios 

Fonética: Caracteriza-se por signos que representam os sons das sílabas ou letras. Por volta de 1100 a. C., desenvolveu-se o alfabeto linear escrito dos Fenícios com apenas 22 caracteres de consoantes.
Os historiadores deste período desconhecem o motivo e a data exacta da transição linguística do cuneiforme para o alfabeto escrito. Terão sido factores como simplicidade, flexibilidade, portabilidade e outros que influenciaram a decisão da mudança.

A adopção do alfabeto fenício por parte dos Gregos durante o séc. VIII  com a posterior introdução dos sons vocálicos, foi de enorme importância para a nossa civilização. Acredita-se que o alfabeto grego de 24 letras, que se encontra em uso contínuo durante os últimos 2.750 anos, foi instituído por volta de 750 a. C.

Alfabeto grego

Cerca de 600 a. C., devido à rápida expansão do alfabeto grego, a maior parte dos cidadãos homens podia ler e escrever 


Depois desta tosca sinopse acerca do processo de comunicação, podemos concluir quanta relevância têm tido os símbolos na comunicabilidade desde os tempos primitivos.
Antes, eles davam uma ideia visual da mensagem e agora são adaptados a um novo contexto social; como o alfabeto escrito não transmite as expressões visuais que fazem parte de uma conversação, são utilizados para auxiliar na compreensão dos interlocutores. 
A tecnologia transformou a comunicação ao alargá-la no espaço, dissociada do ambiente físico. Essa transformação foi um grande marco para a comunicação e para a sociedade. Brito (2008)
Assim, a modernidade/ tecnologia marcaram um retorno ao uso da linguagem simbólica para transmitir mensagens de forma rápida, sem textos explicativos.


Emoticons e Emojis

Os emoticons surgiram na década de 80 para tentar simular a fisionomia e expressões faciais humanas, recorrendo a caracteres de pontuação já disponíveis no teclado. Actualmente são também utilizados pelos internautas com imagens inspiradas nos rostos criados a partir de sequências de caracteres do teclado padrão, tais como:-), :-( ou :'(.
O smiley é o primeiro tipo de imagem e foi criado em 1982, por Scott Fahlman, professor assistente de pesquisa de ciência da computação da Universidade Carnegie Mellon, nos Estados Unidos. O ícone: -) é para identificar mensagem de piada e: - (para as sérias).

 Mensagem que deu origem ao Smiley (Foto: Divulgação/Carnegie Mellon University)

Os emojis surgem no Japão no fim da década de 90 e são desenvolvidos na empresa japonesa de comunicações NTT DoCoMo.
Ao contrário dos emoticons, os emojis funcionam como forma de adicionar conteúdo às mensagens sem exceder os limites de caracteres.
Os 176 emojis originais foram criados de forma a contribuir para uma linguagem global e simples onde se incluem faces, objectos e símbolos. Expandiram-se mundialmente através da Apple, Google e Microsoft. São mais coloridos, diversificados e pessoais, com maior significado tecnológico e cultural.  

Os 176 emojis originais criados por Shigetaka Kurita, em 2016 adicionados à colecção do MOMA

Os emojis vêm complementar a falta de exactidão na oralidade que as palavras não transmitem - tom, emoção ou personalidade ao texto, chegando mesmo a substituí-lo como o ex. abaixo

Em 2015 o emoji ‘lágrimas de alegria’ foi considerado “palavra do ano” pelo dicionário Oxford

Na gestão das redes sociais, o uso de emojis  pode constituir ou reforçar uma campanha a um custo muito baixo porque encorajam os seguidores a tornarem - se participantes num relacionamento mais próximo entre marca e cliente.


[1] Placa de argila ou madeira, revestida de cera na qual os antigos (assírios, sumérios) faziam inscrições.

Algumas Fontes:
Brito, Audrey Danielle Beserra de. O discurso da afectividade e a linguagem dos emoticons. Revista Electrónica de Divulgação Científica em Língua Portuguesa, Linguística e Literatura. Ano 4. N. 9. 2008.
Lemos, Alan. 123 - História do alfabeto. Prof. Alan Francisco Lemos, 2016
Neves, João Vasco Matos. Pictografia
Pierce, Joseph. Symbols: a Universal Language. United Kingdom: Michael O'Mara Books, 2013
Smiley (org). The history of Smiley.