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sábado, 14 de setembro de 2019

A BODA/ BODAS



Era Setembro, dia vinte
Quando os Pais rumaram 
Prá Igreja Paroquial.
A noiva, de vestido à medida
Com jóias que lhe juntaram 
O noivo, de fato e gravata
Dizem os que brindaram

Dois ilustres irmãos
Apadrinharam o casamento
Aos santos, a Avó Zéfinha 
Pelo bem parecido genro
Fez um agradecimento
Felizes, os Avós paternos
A boda doaram pró evento

Inventadas na Idade Média
Por um alemão burguês
Pró dia da união lembrar 
As bodas foram alastrando
Com razoável rapidez
Mais simbologia própria
Pra um ano de validez

E assim sendo, os meus Pais 
As Bodas de Café evocariam
Porque 79 anos seriam
Os que neste dia fariam

 


Cada  vez mais distantes e diferentes, ainda estamos todos por cá! 
Geralmente, planeava as minhas férias de modo a incluir esta data pois era, para eles,  a de maior significado.


quinta-feira, 12 de setembro de 2019

ROSA MOTA - CAMPEÃ AOS 61 ANOS



ROSA Maria Correia dos Santos MOTA


Rosa Mota voltou a conquistar uma medalha de ouro aos 61 anos... 

"A atleta, campeã da Maratona em 1988, venceu no passado domingo a prova de corta-mato para mais de 60 anos no Europeu Masters de Atletismo, que está a decorrer em Veneza, Itália".

Não é fantástico?


E ainda há quem defina como idosa a pessoa com idade igual a 60 anos (ou 65, mais comum)!

A idade e o processo de envelhecimento possuem outras dimensões que ultrapassam a idade cronológica, embora haja uma categorização para as pessoas mais velhas - os idosos jovens (dos 65 aos 74 anos) activos e vigorosos e os idosos velhos (dos 75 aos 84 anos) que, tal como os idosos mais velhos (dos 85 anos em diante) já  têm maior propensão para doenças e mais dificuldade em desempenhar algumas actividades da vida diária (Papalia, Olds & Feldman, 2006).
As pesquisas  revelam, cada vez mais, que o processo de envelhecimento é uma experiência individual vivida, o resultado das experiências passadas, a forma como se administra a própria vida no presente e as expectativas futuras, com envolvimento biológico, cronológico, psicológico e social.

O significado do envelhecimento populacional, tão relevante no século XX, empurrou a velhice para idades mais avançadas. A terceira idade é uma criação recente no mundo ocidental. Prado (2002)

A simpatia de Rosa Mota e o sucessivo acumular de tantas vitórias pelo Mundo, proporcionou-lhe, depois de se ter retirado da sua actividade competitiva, o acesso a um convívio com gente das várias facções partidárias, bem visível na recente homenagem que lhe foi feita quando da passagem dos 20 anos sobre a vitória da primeira maratona feminina, realizada em 1982 no âmbito do Campeonato da Europa de Atletismo, em Atenas (campeã da Europa da Maratona). Havia políticos de vários governos, gente da música, das artes, da poesia e amigos

Hoje é a verdadeira embaixadora do desporto português, disponível para estar em qualquer lugar e acção, sem pagamento de portagens ou dinheiro para o combustível. 
E tanto a atleta como o médico José Pedrosa já não estão no activo... Mas sabe-se que vivem dos investimentos feitos no tempo em que ganharam muito bons prémios. 
A invejável condição física  de Rosa é adquirida no treino de bicicleta e na natação em piscina de água aquecida, na sua residência
Chamam-lhe a campeã da solidariedade porque usa a sua influência em contactos de ajuda (raramente recusada) para atletas doentes ou acidentados.

Rosa Mota é, então, a campeã das maratonas, a alegria, o sentimentalismo, a solidariedade, embaixatriz do desporto e bem lusa.

Mas que “velha” esta, hein? 


As seis medalhas de Rosa Mota

Ouro no Europeu de Atenas’1982
Foi a primeira maratona feminina de grandes competições e a estreia de Rosa Mota

Bronze  nos Jogos Olímpicos de Los Angeles’1984
Com 37 segundos de vantagem sobre a quarta, a norueguesa Ingrid Kristiansen, recordista europeia

Ouro no Europeu de Estugarda’1986
Aos 15 km já estava isolada e terminou com mais de quatro minutos de vantagem sobre Laura Fogli, segunda em Atenas’82.

Ouro no Mundial de Roma’1987
Nunca um campeão mundial ou olímpico tinha terminado com tanta vantagem: 7m e 21s! Enquanto esperou pela segunda, deu a volta de honra com a bandeira, tirou as fotos e teve os beijinhos habituais

Ouro nos Jogos Olímpicos de Seoul’ 1988
Foi a vitória mais difícil mas também a mais saborosa da carreira, com a australiana Lisa Martin e a alemã Katrin Dörre coladas

Ouro no Europeu de Split’ 1990
Foi a medalha mais sofrida. À meia-maratona  estava com 1m e 42s de vantagem. Mas a soviética Valentina Yegorova, dois anos depois campeã olímpica em Barcelona, recuperou e colou-se. Rosa teve que reagir para  manter a ligeira vantagem de cinco segundos até à meta.

Rosa Mota participou em 21 maratonas entre 1982 e 1992, numa média de duas maratonas por ano e ganhou 14.

No inicio da carreira vivia-se um ambiente de tal maneira sadio no atletismo que Rosa Mota disse: "se pudesse, dividia a medalha por todos os atletas". Teve também a sorte de encontrar José Pedrosa, o companheiro que conjugou todos os esforços para o seu sucesso

Imagens e pesquisa Google

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

SAIR DE NÓS E "VOAR"...


Devia não ser importante continuar a fazer o que não interessa (ou interessa  pouco) e poder mudar quantas vezes se quisesse, sem quaisquer pressões, até se encontrar aquilo de que apenas se gosta, fazendo-nos sentir únicos. 

Fantasiar é, de certo modo, uma actividade produtiva em que a imaginação ganha um possível `embalo´ para a mobilização do tempo `congelado´.

Quem não gostaria de romper com o quotidiano e de se perder por algum tempo no sonho de um mundo de fantasias?

Gosto muito da minha Beira Alta, como tenho aqui sublinhado tantas vezes , das suas características históricas e paisagísticas únicas. 
Gosto do meu pequeno e tranquilo refúgio ambiental na aldeia, onde o silêncio rapidamente faz uma reconciliação com a paz, interrompido/completado apenas pelo cantar do galo, pelo toque dos sinos (da Igreja ou da Torre), pelo rodar dos veículos na estrada ao lado, pelo apito do comboio em frente, pelo latido dos cães ou pela voz menos melodiosa de algum transeunte.


Gosto, mas não por muito tempo. As pessoas de agora não têm nada a ver com as da minha geração. A empatia é escassa. E o relacionamento local tem que fazer parte do modo de vida diário...

Então, rompendo também com esta já ausência de fantasia, optaria por locais não identificados em rotas turísticas da costa alentejana/vicentina, magistral, quase surrealista, pura na forma de ser e de estar, onde tudo faz sentido e o belo ultrapassa a imaginação nos seus limites (até a pureza das gentes é diferente na sua simplicidade)

Com passaporte sem visto, desligando a mente e deixando para trás todo o mundo digital, iria exactamente para uma das mais secretas praias do mundo, a Praia dos Canudos, Sines, local em que ainda se encontram algumas aves a nidificar e seres vivos em vias de extinção.
De acordo com uma pesquisa feita por Guida Brito , as gigantescas formações esburacadas da misteriosa, silenciosa e deserta praia, tem origem na existência de uma floresta da última glaciação na terra que foi coberta por areias.

“As areias calcárias consolidaram-se, transformaram-se em pedra; muitos dos troncos apodreceram deixando os seus moldes impressos nas rochas – dando o nome à Praia dos Canudos. Com a erosão das dunas e da falésia, árvores, antigos riachos e outras formações curiosas estão, hoje, a céu aberto.” Guida Brito

Fotos de Guida Brito


É uma praia muito extensa que fica quase toda imersa durante a maré alta e a  falésia, encimada por um vasto sistema de dunas, acompanha toda esta praia selvagem.

Num quase torpor, acomodada na toalha estendida sobre a areia quente e ouvindo o som rítmico das ondas a quebrar, esperaria que elas se encarregassem de esvaziar a memória e a ligassem à energia do universo...
Nos períodos em que a água do mar recua, a praia fica mais “larga” e, quando avança sobre a faixa de areia, fica mais “estreita”.
A praia deserta transmite energia, boa disposição, menos peso sobre os ombros,  sensações harmoniosas. 


As marés divertem-se com a atracção gravitacional exercida pela Lua e pelo Sol sobre o mar: ora sobem, ora  baixam ...                                                                                                  
 Por O Incrível Pontinho Azul Publicado a 08/08/2018

E não perderia um fim de tarde na baía de Sines para ver as deslumbrantes cores do Sol desaparecendo, engolidas pelo mar. 

Imagem Google

Desta vez o refúgio ficaria por aqui - 2/3 dias, como habitualmente.

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

"NÃO ME JULGUE, LEIA-ME VAGAROSAMENTE"



Uma sociedade é uma relação entre pessoas.
A relação /relacionamento, significa “ligação afectiva, profissional ou de amizade entre pessoas que se unem com os mesmos objectivos e interesses”. Implica uma boa convivência, comunicação e atitudes que deverão ser recíprocas. E é essencial haver confiança, empatia, harmonia e respeito entre as pessoas que fazem parte dessa sociedade para que o relacionamento seja bom.

As pessoas distinguem-se por características próprias, relacionadas com a sua personalidade que é o elemento estável da vida psíquica ou maneira habitual de ser e o seu comportamento, que é a exteriorização da personalidade ou maneira de se comportar (conjunto de reacções e atitudes perante uma situação).

A herança hereditária, o meio em que se vive, as experiências pessoais e a maneira como a pessoa se conhece, moldam os diferentes tipos de personalidade que existem.
A variedade de personalidades individuais é a maior riqueza do mundo. Julian Huxley

Enquanto que a personalidade diz respeito às características próprias de cada um e possui uma dinâmica que só ele é capaz de entender, o comportamento pode sofrer influência interna ou externa levando o ser humano, em determinadas situações,  a comportar-se de modo a colocar a sua personalidade e os seus valores em conflito.

Em todos os círculos de sociedade há vários perfis comportamentais que nem sempre viabilizam o relacionamento interpessoal:

Há os que escondem ou anulam a sua verdadeira forma de ser tentando parecer a pessoa que esperam que ela seja. É uma forma de vida terrivelmente cansativa porque, mais cedo ou mais tarde, o verdadeiro ser por trás da máscara acabará por vir à tona. 
“... a beleza da vida é que temos até ao último segundo para treinar. Nunca é tarde para aprender a dizer “não”. Joaquim Quintino Dias

Há os que transformam a insegurança em ciume, desenvolvendo o hábito de fazer críticas constantes às relações de amizades e à qualidade dos amigos e familiares.
"O ciúme não é, o ciúme são. O ciúme é a união da insegurança, egocentrismo, fraqueza e possessividade". Charles Canela

Há o perfeito, impecável e excelente, sem falhas e sem lacunas. 
“O perfeito é desumano, porque o humano é imperfeito”. Fernando Pessoa

Há o convencido que demonstra excesso de confiança acerca de si próprio e  superioridade em relação aos outros. 
A habilidade do tolo é estar sempre convictoJoel Fraga

Há o cobarde que,  perante uma circunstância ou situação específica com a qual é  confrontado, inventa sempre uma desculpa e nunca assume a responsabilidade por nada que tenha feito. 
“O ódio é a vingança do covarde”. George Bernard Shaw

Há o que gosta de  dar sentido às coisas, costuma agir por princípios nobres e procura não deixar nada pela metade - se começa, vai até o fim.
"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada. Lispector

  os mentirosos e manipuladores que conseguem facilmente enganar com as suas “lágrimas de crocodilo”,  sem levar em consideração os sentimentos das outras pessoas.
E “uma mentira dá uma volta inteira ao mundo antes mesmo de a verdade ter oportunidade de se vestir”. Winston Churchill

Sobre “Porque mentimos a nós próprios e aos outros”, Ana Cristina Marques escreve um artigo muito interessante em :
E o arrogante, que” não erra, não se desculpa, não ouve, não faz uma reflexão...pisa em quem é idiota o bastante para lhe dar atenção”. Dalia Hewia

Quase no campo oposto, situam-se os que, muitas vezes, são vítimas de quase todos os acima referenciados, até encontrarem ou serem ajudados a encontrar a sua habilidade social com assertividade:

São os que não entendem quando alguém está sendo sarcástico/ irónico, se a frase tem duplo sentido, se falam a sério ou a brincar, em que a maneira de receber e processar os dados é diferente e apresentam dificuldade em esperar pela sua vez para realizar uma actividade ou para manter uma conversa assim como para aceitar outros pontos de vista. Está-se perante um "Desenvolvimento atípico de personalidade" que pode revelar génios, (ou não) mas também a classificação, pela sociedade, de mau comportamento (culpando os pais com relativa frequência). 
Eles não conseguem aguentar a frustração de estar dias a fio a fazer a mesma coisa se não for do seu total agrado, pelo que  precisam de motivação para experimentar várias actividades. E são acusados injustamente de não encaixarem na sociedade ou de serem extravagantes demais, egoístas, teimosos, insensatos, genuinamente confiantes, além de outros adjectivos. 
Duma maneira geral  possuem uma inteligência superior à média mas a desatenção, a inquietude e a impulsividade irreflectida, acabam por estragar muito a sua vida social  e  profissional, dando origem a  isolamento, agressividade ou comportamento desviante.  O comportamento compulsivo surge como resposta inconsciente a determinados desejos, por diversas razões, seguidos de alguma gratificação emocional e como alívio da angústia e da ansiedade. As sucessivas rejeições e incompreensões empurram estas pessoas para uma exclusão social progressiva (suicida, por vezes).
São exemplos deste tipo de perfil comportamental nomes conhecidos (% ?):



Conhecer o outro é sempre um mistério.
O problema não é o problema - o problema é a atitude com relação ao problema. Kelly Young
Nem sempre as coisas são o que parecem ser. Uma atitude pode esconder diversos motivos que precisam ser explorados e compreendidos.
Não me julgue, leia-me vagarosamente! Abigail Aquino
Não olhe e julgue; conheça e compreenda. Gritos Suaves

Todas as pessoas possuem talentos, habilidades e competências que as distinguem umas das outras. A diferença é que para se destacarem não é necessário desvalorizar ninguém.

Os "Melhores amigos, na verdade, são irmãos que por algum erro não caíram na nossa família"Chorão


Imagens Google
Busca de conteúdo essencialmente baseado em:
A Mente é Maravilhosa - Revista digital de psicologia, neuro-ciência, desenvolvimento pessoal, cultura e bem-estar.

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

OBITUÁRIO



Era uma manhã como tantas outras, em que eu e as minhas alunas, juntamente com a equipa de clínicos da Especialidade,  nos “ arrumávamos” para ouvir as diversas apresentações de “casos” e as sábias explicações do Director do Serviço, ao levantar a cabeça ligeiramente para começar a pequena/longa peregrinação, dei , surpreendentemente (não esperava nada de novo no habitual conjunto de pessoas), com um rasgado sorriso, quase mágico, a olhar para mim, num rosto trigueiro muito bronzeado.

😊💬

Se apaixonar é "sentir correr o sangue nas veias", expressar no olhar o que as palavras não seriam capazes de traduzir e deixar transparecer o melhor que em nós existe, então foi isso que aconteceu. 
Reciprocamente.
E assim foi, há muito, muito tempo, durante quatro anos. Apenas. Porque assim teve que ser, sem que o sonho se transformasse em realidade. Com muitas histórias que ficaram por contar.

Mas porquê a relevância deste acontecimento, agora?

Há uns dias, uma amiga perguntou-me se eu conhecia um bom especialista num determinado âmbito de doenças.
Não sei de nenhum, não - respondi. Para mim (e para muitas outras pessoas, pois fazia parte da lista dos 20 melhores do País), o que estava acima do bom já não deve trabalhar…

E, por curiosidade, fui investigar na Internet.

Não constava. No lugar da habitual foto apareceu o Logótipo da empresa. Sem mais!
Percorridos os ainda sites existentes, lá estava no do Obituário: falecido em 2018 (no mês em que tinha nascido).

Fiquei perplexa. Não só pela surpresa mas, sobretudo, porque sempre pensei que seria “imortal”.


terça-feira, 20 de agosto de 2019

CONVERGÊNCIA



 
Os desenhos referidos na página "VAGABUNDO POR OPÇÃO"  de 22/06/19, Gago Coutinho e Sacadura Cabral, neste Blog

A viagem (travessia aérea do Atlântico sul desde Portugal, Lisboa, em 30 de Maço de 1922, ao Brasil, Rio de Janeiro, em 17 de Junho) 

Documentário: 
A rota completa Lisboa-Las Palmas - Gando - São Vicente - São Tiago - Penedos - Fernando de Noronha - Recife-Baía (Salvador) - Porto Seguro - Vitória - Rio de Janeiro.

Gago Coutinho era um cartógrafo ao serviço da Marinha com muitos conhecimentos obtidos através da prática em várias missões de cartografia nas colónias portuguesas do continente africano e Sacadura Cabral era um piloto com larga experiência de voo. 
Conheceram-se em África e ambos se preocupavam com problemas de localização e orientação da navegação portuguesa em alto-mar.

Gago Coutinho e Sacadura Cabral

Com apenas um sextante aperfeiçoado de modo a permitir a orientação do avião em pleno voo sem necessidade de visualizar directamente o horizonte e um corretor de rumos inventado para rectificar os desvios causados pelo vento, após terem feito vários testes, aproveitaram a celebração da independência do Brasil e rumaram até lá no hidroavião "Fairay3", baptizado de Santa Cruz (e mais dois aparelhos perdidos ao longo do percurso, por razões técnicas e climatéricas).


Hidroavião Fairey F III-D nº 17 "Santa Cruz" (Museu de Marinha de Lisboa).

Apesar  das muitas dificuldades vencidas e das mais de 4 500 milhas marítimas percorridas, a viagem foi um sucesso não só por ter sido a primeira travessia do Atlântico Sul, mas também porque era a primeira vez que, na História da Aviação, se tinha viajado sobre o Oceano Atlântico apenas com o auxílio da navegação astronómica  a partir do aeroplano.

Gago Coutinho e o seu sextante

Com o novo tipo de sextante inventado por  Gago Coutinho (adaptação de um horizonte artificial para medir a altura dos astros), provou-se que era possível realizar voos de grande distância com precisão.

Este aparelho revolucionou a navegação aérea da época e passou a  ser utilizado na indústria aeronáutica, nas décadas seguintes, em todo o mundo.

Dois anos depois da viagem, Sacadura Cabral desapareceu no Mar do Norte quando transportava um avião Fokker para Lisboa. O corpo nunca foi encontrado e do aparelho apenas foi recolhido um flutuador.

Gago Coutinho morreu em 1957, com 90 anos. Teve uma carreira longa dedicada ao serviço da Marinha e da Aviação como historiador e investigador de história náutica. 

E julgo não errar se disser que o autor dos desenhos em cima, B., poderá ser um dos seus descendentes



Imagens Google

sábado, 10 de agosto de 2019

POMBAIS TRADICIONAIS PORTUGUESES





Há mais ou menos três anos, por volta do mês de Agosto e a caminho de Peso da Régua, reparei que, em plena encosta / terreno de subida acentuada a partir de terras planas  (onde se situa a grande zona urbana da cidade da Régua),  se avistavam minúsculas casas brancas e dispersas entre vinhas e oliveiras.

O tamanho, a localização e a multiplicidade despertaram-me  o interesse da pesquisa .

Na região do Douro, a plantação da vinha em patamares transforma a paisagem num cenário digno de pintura, resultado do esforço simultâneo dos grandes mestres da Natureza e do Homem, sempre com possibilidade de novas perspectivas de exploração. E as pequenas construções dão-lhe um bucolismo singular

Como se caracterizam, então, essas  casas invulgares avistadas durante o percurso na A222 (classificada, como a mais bela estrada do mundo), entre o Pocinho e  o Peso  da Régua, que se estendem desde a  faixa norte da Beira mais interior até às serranias transmontanas?

Pois são ou foram pombais, construídos de diversas formas e dimensões por quase toda a Península Ibérica, para criação de pombos da variedade doméstica, o Pombo-das-rochas.
A instalação deste tipo de pombal processou-se de forma generalizada nas décadas 50/60  acompanhando, nuns casos, a campanha do trigo e noutros,  a plantação de vinhas e olivais a fim de abrigar pombas e, consequentemente, aproveitar o fertilizante agrícola denominado localmente “pombinho”, de elevada qualidade (segundo os vinhateiros) para os terrenos.
Quando jovens, os “borrachos” são também um prato muito apreciado sobretudo em Espanha. 
Alguns pombos eram ainda vendidos para provas desportivas de tiro.

Pombo-das-rochas num jardim

A partir da década de 60, os pombais foram progressivamente votados ao abandono, deixando de ter importância na economia rural, quer devido à emigração de grande parte da população, quer devido à mecanização e utilização de adubos químicos na agricultura
As pombas domésticas, por sua vez, tal como as pessoas, fugiram para as cidades em procura de alimento.
E assim, as "caixas fortes" de pombos passaram, deterioradas, a abrigar espécies que se encontram em perigo de extinção como a Coruja-das-torres, o Falcão peregrino, a Águia-de-bonelli que se alimenta de pombos e os estorninhos, mochos e poupas, para a nidação.

Coruja-das-torres                             Mocho
Falcão peregrino                                    Águia-de-bonelli

No entanto, ainda há Pombais Tradicionais bem conservados que são usados para os fins originais, em espaços mais dispersos. Outros estão ou vão ser recuperados para promover o ecossistema do nordeste. 
O seu aproveitamento e valorização pode contribuir para um desenvolvimento sustentável de aldeias que correm o risco de desaparecer, como a aldeia de Uva, Vimioso.


Quanto à arquitectura, apresentam uma planta circular ou semicircular ancestral única, do tempo da Época Feudal, em que ter um pombal era um privilégio.
Têm corta-ventos para proteger as aves da nortada, pináculos de pedra trabalhada ou outro material e pequenos buracos como porta de entrada /saída dos pombos de modo a que não caibam as aves de rapina. 
Do lado de dentro, existem ninhos em saliências para produção. Obstruindo o caminho a possíveis predadores de pombas, há placas metalizadas nas paredes exteriores. 
A entrada humana é mínima e feita a mais ou menos meio metro acima do nível do chão para impedir a entrada de roedores e evitar que a porta fique presa no estrume que se acumula por trás.
As paredes são caiadas, de xisto ou de granito e o telhado é tapado com telha de barro ou de ardósia.


                                                                                                                           Pináculo
                                                                                                 
Tratando-se de arquitectura popular, poderá haver relação com as históricas casas próprias da Cultura Castreja, bem visível no norte português. Talvez sejam ainda romanos ou pré-romanos.



Na minha Aldeia havia um criador de pombos sem pombal tradicional, penso, porque nunca o vi. Imagino que seria do género dos exemplares inseridos em baixo. 
Diria que aqueles  pombos eram uma praga de invasores voadores que iam conquistando e conspurcando terreno nos telhados das casas, fontanários, torres, imóveis abandonados. 
E como os pombos acasalam umas cinco vezes por ano, não paravam de aumentar transmitindo, muito possivelmente, a doença do pombo (criptococose) através da inalação dos esporos de fungos presentes nas fezes. Ao atingirem o sistema respiratório e o sistema nervoso central, a pessoa fica infectada e predisposta a ter uma meningite, pneumonia ou disfunções cerebrais.


Mas houve um dia em que todos desapareceram...




Autores consultados:

Almeida ( 1993).
Amaro ( 2010).
Fernandes, E., & Monteiro, A. (2004).
Flores (1973)
Martins (2012)
Teixeira (2013)