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terça-feira, 27 de março de 2012

PELOS AÇORES


Era Verão e andávamos pelo Açores, Ilha de S. MIGUEL, em férias.
As estufas de ananases, pela sua abundância e tipicidade, fazem parte do roteiro de qualquer turista mesmo que não seja a primeira vez.
A Herdade de Augusto Arruda foi a preferida; ali ficamos a conhecer todas as fases do cultivo de ananás em estufas de vidro que é uma técnica única no mundo e típica da Ilha de S. Miguel. Podem ser visitadas livremente, dentro do horário de funcionamento, o que é muito útil.
A variante introduzida nos Açores foi originária da América Central e do Sul, na 1.ª década do séc. XIX. E é exactamente devido ao seu clima de origem que carece de ser cultivada em estufas. A exportação para o exterior foi rápida com declínio apenas durante a 2.ª guerra mundial, porque dois anos depois estava a fazer-se novamente. Na Primavera as estufas são caiadas de branco de modo a não permitir a entrada directa do sol - só precisam de calor. Para que as plantas floresçam todas ao mesmo tempo, faz-se uma fogueira com matéria orgânica que se introduz numa lata com buracos, a fim de sair o fumo que origina o fenómeno e deixa-se assim, com as portas fechadas durante toda a noite. Isto repete-se durante 18 meses, até os ananases estarem maduros.
Passear pela Herdade, entrar na loja de produtos típicos e provar o licor de ananás oferecido, completam a visita.
O ananás de S. Miguel atingiu já o estatuto de “recordação da Ilha”, para quem a visita.

E quem não se lembra do Kitt,o carro que sabia falar, andava sozinho e ajudava Michael Knight, “O Justiceiro”? Talvez muita gente o tenha esquecido, pois o valor do preço oferecido ao vendedor tem sido mais baixo do que seria de esperar. Era um Pontiac Trans Am de 1982 com imenso sucesso nos anos 80 que fez as delícias de muitos jovens e menos jovens através de habilidades feitas não pelos protagonistas mas pelo guião com a ajuda de efeitos especiais.

A dupla Michael Knight e o indestrutível e inteligente carro, juntos contra o mal, saltando edifícios e saindo ilesos de tiroteios e explosões…
Mas que espécie de lógica tem um assunto com o outro, perguntar-se-á com razão.
Toda!
Enquanto nós pais, andávamos entretidos com a história do ananás e a deliciar-nos com o respectivo licor, o Luís, de 6 anos, fazia de Kitt, saltando vários degraus de pedra que havia na Herdade junto à entrada da estufa.
Só não houve uma tragédia por acaso.



terça-feira, 20 de março de 2012

O JARDIM DA FANTASIA



Como disse aqui noutra ocasião, gosto de jardins. De jardins pequenos, personalizados, no prolongamento da casa de habitação.
Sem ele, jardim, olhando para ela, casa, parece que está faltando qualquer coisa - ao abrir a janela imagino-o com diferentes cenários de beleza, refrigerando a vida quotidiana.
Há já algum tempo e durante vários anos, tive a obsessiva ideia de querer adquirir uma concreta casa em Cascais, localizada numa zona alta, com um deslumbrante panorama de mar-baía-casario mais abaixo e que a insultuosa intromissão de um absurdo Shopping Centre não prejudicou para, no terreno circundante e em declive, arquitetar o meu jardim. Depois de ter feito investigações a nível de vizinhança e imobiliárias, soube que estava para ser vendida em leilão (pois tinha-se tornado propriedade do Estado).
 E fui sempre esperando, indagando…

 Mas passou mais de uma década e até hoje nada se alterou, a não ser a quase completa degradação do edifício.

Continuamos, então, a ter o lindo apartamento que por ela trocaria, também com um belíssimo panorama mas sem o “meu” jardim.

Porem, como a fantasia me diverte, imagino-o muitas vezes.
Adoro espaços em desníveis, com pedras naturais de vários tamanhos e plantas diversas intercaladas. A possibilidade de um canteiro à volta de um pequeno lago seria uma ideia. Tapetes de relva, fáceis de instalar e de manutenção reduzida a encontrarem-se com maciços florais, em vez da relva propriamente dita. Trepadeiras na entrada, que dão sempre dignidade à casa. Várias zonas floridas de divisões pequenas para dar mais amplitude, vasos com flores (poucos, pois precisam de maior atenção) e um toque campestre marcado por uma cadeira e um escadote para dar mais mobilidade às plantas dos cantos. Uma pequena horta ou canteiro com ervas aromáticas como cebolinho, funcho, hortelã, salsa, estragão, tomilho, coentros, segurelha, manjericão, orégãos, serpão, etc.
Não deixaria de ter também uma churrasqueira em pedra e mesa com bancos debaixo de um arco de rosas trepadeiras assim como uma casota para um grande cão de guarda.



Imagens Google

quarta-feira, 14 de março de 2012

HOMENAGEM A UM AMIGO

                                                                                                                                             
Um dia deu-me o sono como a qualquer criança. Fechei os olhos e dormi- Alberto Caeiro

O A. tinha vindo do Ultramar com tudo o que tinha de armas e bagagens - a mulher, duas filhas e um filho ainda crianças - e a possibilidade de trabalhar na profissão que exercia.  Conseguiu arranjar refúgio numa casa de 2 pequenas divisões.
Foi entretanto destacado para trabalhar como executivo único, na equipa de que eu fazia parte. E penso que, de acordo com a sua filosofia de vida, até não lhe deve ter desagradado a tarefa atribuída - gostava de ter o controlo de tudo o que acontecia em seu redor, de viver sem se preocupar muito com grandes enigmas, de não mostrar facilmente o que lhe ia na alma, de se dar bem com todo o género de pessoas, um pouco manipulador, sem dar espaço á monotonia, respeitador, apaixonado mas essencialmente virado para o companheirismo e relacionamentos.
O tipo de trabalho tinha um plano e objectivos bem definidos mas podia organizá-lo de acordo com as tarefas e a disponibilidade de cada dos grupos em que participava, de modo a apresentar os resultados só na data prevista. Adaptou-se sem dificuldade às várias entidades e pessoas envolvidas, assim como às normas pré-estabelecidas.  
Ia, portanto, tudo bem profissionalmente.
- Sabe que A. está internado no Hospital dos Capuchos?
  Foi-lhe diagnosticado um “neo” cerebral e vai ser operado.
- Mas assim, tão inesperado!

Passado um tempo, porque a operação pareceu não ter corrido mal, teve alta
A casa passou a ser mais pequena, quer pelo aparecimento da doença, quer porque os filhos iam crescendo e, de sexos diferentes, seria bom que existisse outra pequena divisão.
Como havia uma varandinha, lembrei-me de contactar a Cáritas para ajudar a fechá-la. Mas, arrastando-se no tempo,  não se interessou de todo…
Resolvi então expor o assunto a todas as pessoas com quem trabalhava e as que puderam e quiseram, contribuíram com um donativo. A varanda, depois de ter sido fechada, passou a ser o quarto do rapaz.

Eternamente grato com a solidariedade, tornou-se o melhor amigo em dedicação, afeição, estima - amizade feita de pedacinhos. Porque também eu, mais tarde, viria a experimentar desânimo e abatimento perante dois “neos” e ele nunca deixou de estar presente, puxando pela minha auto-estima e esperança.

Após muitos anos e depois de vários internamentos ao longo deles, deixou-nos.

Sei que no dia anterior quis dizer-me adeus para que eu nunca esquecesse:   "resistir sempre até deixar de ter força”
Mas já não era o tempo.


Ele e o meu filho “Luisinho”, como ele lhe chamava, eram também grandes amigos. Ainda pequeno, quando o jardim infantil fechava nas férias, ia algumas vezes comigo para o local de trabalho.
A., para compensar os efeitos das doenças, precisou sempre de caminhar bastante e aproveitava as grandes áreas que havia ali à volta para o fazer.
Um dia, fui encontrar os dois sentados num banco de pedra e o Luís, de 5 anos, a querer ficar descalço. Ao indagar o que se passava, verifiquei que os calcanhares estavam cheios de flictenas. 
Caminhou com ele o tempo todo “para A. não andar sempre sozinho”.

Alguns meses antes, houve também uns dias em que pintava os desenhos todos com cores muito escuras - preto, roxo, violeta, magenta, castanho, azul, verde - e ouvi alguém perguntar-lhe:

- Porque é que o Luizinho faz os desenhos tão escuros? Antes eram tão coloridos!
- Porque o Pai de A. morreu e ele está triste.

Dizia muitas vezes que eu devia ir ver a sua terra natal. 
E fui. Num cruzeiro, a caminho do Brasil. As fotos são de Cabo Verde.

 

Escrevo estas linhas para, muito singelamente, continuar a dar eco à enorme vontade de viver com que enfrentou os obstáculos.

domingo, 11 de março de 2012

RAÍZES

  Capela de Nossa Senhora dos Remédios

A Capela de Nossa Senhora dos Remédios, com imagens do Senhor Jesus Cristo, encontra-se situada na Igreja de São Domingos, Igreja Matriz da Parada, de construção barroca e campanário de período anterior.
Foi mandada construir pelo ABADE de Nossa Senhora do Castelo em 1860, Pe. José António Pereira Monteiro e hoje pertence ao ramo da Família Fernandes daquela localidade. (precisa ser fundamentado)
Nessa altura a Parada era um Curato da Apresentação do Abade de Santa Maria da Vila de Castelo Mendo, um Concelho criado na Idade Média.
O Concelho teve foral desde 1229, por iniciativa do Rei Dom Sancho II e foi extinto em 1855. Presentemente, ambos pertencem ao Concelho de Almeida.
A antiga Igreja de Santa Maria do Castelo, Actualmente em ruínas, é uma Igreja românica construída em 1229, ano em que o foral lhe foi atribuído. Em 1758 estava dependente da Abadia de Moreira mas foi extinta em 1834.
Muitas das suas peças passaram para a Igreja Matriz de São Pedro; agora está a ser recuperada para a criação de um núcleo museológico de componente sacra.


quinta-feira, 8 de março de 2012

DIA INTERNACIONAL DA MULHER





Porque sou mulher, quero solidarizar-me com todas as que, ao longo da História, reivindicaram, lutaram e morreram para que eu e muitas mais possamos hoje desfrutar da igualdade entre homens e mulheres, do respeito mútuo e da soma de forças a fim de, em conjunto, podermos continuar a lutar por uma vida mais digna.
Foram elas que forçaram as transformações sociais e económicas de modo a entrarem no mercado do trabalho, usufruindo da consequente possibilidade do seu desenvolvimento cultural e  independência.



Ainda há que lutar muito contra a violência e maus tratos em todas as classes socioeconómicas, culturais e religiosas - violência doméstica, violação, escravatura sexual, mutilação genital, importância das crianças do sexo feminino, casamento de crianças, homicídio por questões de ” honra”, etc.
A igualdade de direitos entre os sexos é um benefício importante para o desenvolvimento harmonioso de todos.



Nomes de mulheres que merecem um dia especial e que, apesar de fazerem sempre parte da nossa memória, devemos recordar:
Helena de Troia, Cleópatra, Catarina de Siena, Joana D’Arc, Catarina- A Grande, Ana Pimentel, Golda Meir, Madame Curie, Helen Keller, Eleanor Roosevelt, Anne Frank, Florence Nightingale, Oprah Winfrey, Meryl  Streep, Angelina Jolie, Susan Brownell, Emily Wilding, Carolina Beatriz Ângelo
Yoani Sanchez, e um sem fim de mulheres inteligentes, corajosas e voluntariosas, merecedoras do nosso aplauso.
Sem elas, eu nunca teria tido a possibilidade de festejar qualquer data com as minhas colegas pois, muito certamente, nem teria existido uma classe com as mesmas companheiras de estudo.


                                                  Cheers!

terça-feira, 6 de março de 2012

EXÉQUIAS






A minha Aldeia tem um Colégio
Que data dos anos trinta.
É tão grande o privilégio
Que a terra torna distinta.

Escola de instrução, particular,
Primeiro pra internos/masculino
Depois com feminino no lugar
Aguardando melhor destino

Sem parâmetros traçados
Esteve até 53
Com música, pintura e bordados
Religião e Moral, Francês.

Com currículos oficiais
O ensino tornou-se real.
Grupos de “costura” normais
E o tal de “estudantes”, legal.

Alunas internas e externas
A turma faziam pequena
Dava pra coesões fraternas
Um pouco mais que a dezena.

Estudava-se Geografia
Num grande Globo terrestre
Que passava a sabedoria
Em cerâmica de mestre.

Abancadas sobre a carteira,
Eu e a porcelana fina,
Nela apontava ligeira,
Os rios da disciplina.

Pum! E no chão desaguam
Os rios em cacos,  enquanto
Os cabelos delas flutuam
Sob os meus olhos em pranto.

E agora? Perguntam em coro.
Os meus Pais não vão saber!
Além de ser desaforo,
Dinheiro não irá haver.

Tenho qu' arranjar solução,
Pois é mesmo necessário.
Porque a lógica conclusão
Leva a acto involuntário.

Vamos com requinte guardar
Esta relíquia doutrora.
Que melhor destino lhe dar
Do que não deitá-la fora?

Iremos o morto enterrar
Em funerário cortejo.
Prà sua memória honrar
É presente de sobejo.

Eu, qu’estou já chorando
Vou fazer de carpideira
E pra padre rezando
Convidamos a irmã Pereira

Lá no jardim, ao fundo
Ficará o ossuário
E um suspiro profundo
Fará parte do cenário

E foi assim, factual.
Com “padre”, enterro, carpideira,
Acompanhamento, ensaio teatral,
Perdão, corolário e brincadeira.