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domingo, 7 de setembro de 2014

ALDEIAS - 1




Não englobando as já diferenciadas 12 “aldeias históricas” (Almeida, Castelo Mendo, Belmonte, Castelo Novo, Castelo Rodrigo, Idanha-a-Velha, Monsanto, Piódão, Marialva, Linhares da Beira, Sortelha e Trancoso), onde a defesa do património é o denominador comum e a singularidade e história individual, são valorizadas em cada pormenor, as aldeias portuguesas conservam, duma maneira geral, as velhas tradições de Portugal e o seu próprio património histórico com realidades diversas, tanto do ponto de vista geográfico como dos povos que as habitaram. 

A mudança nos modos de vida só começou a surgir, muito lentamente, com uma industrialização tardia e consequente fuga para as cidades e com a influência da emigração /regresso e retornados das ex-colónias.
Ocorreu um enorme impacto no consumo, surgiram muitas casas de linhas arquitectónicas diferentes mais confortáveis e perdeu-se tradicionalismo ao nível das relações e comportamentos sociais.

Continua a haver as típicas aldeias alentejanas caiadas de branco puro, perdidas no meio da despreocupada planície, como São Gregório (Borba) e os seus vinhedos, Évoramonte (Estremoz) com o seu imponente castelo medieval e pacatas ruas, Brotas (Mora) e o seu templo quinhentista dedicado a Nossa Senhora das Brotas ou Santa Susana (Alcácer do Sal) com a sua igrejinha e povoado de pequenas casas térreas.



Évoramonte                                              Santa susana

Na praia da Tocha (Cantanhede), ainda se mantem o essencial da técnica de arrasto (arte de xávega) que termina com o puxar das redes até ao areal, ajudada pelos barcos típicos e veraneantes e os antigos palheiros de pescadores que foram recuperados para casas de férias
Na Carrasqueira, aldeia ribeirinha em plena Reserva Natural do Estuário do Tejo, também se conservam os típicos palheiros da beira-Sado - casas de madeira cobertas de caniço (o cais palafítico), que se estendem pelos esteiros lamacentos do rio.


Praia da Tocha                                              Carrasqueira

No Algarve,
aldeias piscatórias que conservam as características tradicionais da arquitectura popular e a gastronomia típica, como Cacela-a-Velha, no cimo de um morro, entre as dunas, situada no sítio onde acaba a ria, no extremo Este do Parque Natural da Ria Formosa, a caminho da praia de Manta Rota.

Cacela Velha mantém toda a sua traça, incluindo a velha nora do poço, diante da fortaleza, com um magnífico miradouro sobre a Ria Formosa e o mar. 

Cacela-a-Velha

No centro do País, entre montes e serras, existem as aldeias-do-xisto que agora fazem parte duma rede turística como Gondramaz (Miranda do Corvo), com as suas figuras trabalhadas pelos escultores locais, Talasnal, escondida no meio da Serra da Lousã e Aldeia da Pena - Penedos de Góis.

Talasnal

Nelas se encontra o mel com origem protegida e o medronho aproveitado para fazer compotas e aguardente, o pão caseiro e o famoso cabrito assado.


Chanfana                                                     Aldeia da Pena

Olho Marinho e Vila Nova de Poiares produzem a olaria (caçoilos de barro) que leva a chanfana, prato típico da região, ao forno a lenha.

No Minho e em Trás-os-Montes subsistem aldeias comunitárias onde os seus habitantes partilham as tarefas, as terras e os espaços, como Rio de Onor e Pitões das Júnias.

 Rio de Onor
 Pitões das Júnias

Também na região de Lisboa existem aldeias saloias típicas como Caneças onde foi rodado o filme “A Aldeia da Roupa Branca” que destaca a vivência das suas gentes ou a Aldeia-miniatura do Sobreiro, construída a partir do nada por José Fonte Franco, um ceramista local.

       Caneças                                                         Aldeia miniatura do Sobreiro


E os exemplos, felizmente, são muitos.

Outras, quase deixaram (ou deixaram mesmo) de ter qualquer identidade - as aldeias menos povoadas de Portugal (eleitas pelo blogue Toprural) - e custa imaginar como o interior do País, com o espirito familiar que o envolve, se aproxima vorazmente da extinção

São exemplos:

Aldeia da Pena - A 20 Km de S. Pedro do Sul, possui 6 habitantes e 10 casas de xisto, para habitação.

Aldeia de Cubas - Localizada em Vila Pouca de Aguiar, tem apenas dois casais de idosos que estão desavindos por causa da limpesa dos terrenos e um ” lindíssimo percurso pedestre de 12 km por entre magnificas paisagens”.




Aldeia Nova - Situada no concelho de Almeida, com sede em Mido, tem actualmente 33 habitantes. Mas possui internet wireless desde 2009…




Goujoim - Com apenas 58 habitantes, fica localizada no município de Armamar. É considerada uma “aldeia museu” por ser uma das mais antigas






Asnela - Há 50 anos atrás contava uma população de 250 pessoas; hoje não existem mais do que 10. As casas de granito são o seu maior atractivo. Não tem nem nos arredores, qualquer café ou padaria





Montes Altos - A aldeia, em 1993 tinha apenas 11 habitantes porem, apesar de continuar pequena (70 habitantes), cresceu devido ao centro social de Montes Altos, que também oferece apoio domiciliário às freguesias vizinhas.


Cortecega - Com apenas 11 habitantes, a Aldeia “possui uma dinâmica activa do mundo rural”. Mantem as tradições de muitos outros locais do norte de Portugal e surpreende o espirito familiar que a envolve.





Adagoi (nome de origem germânica que significa “veiga ou pequeno vale") - está desabitada, porque o seu único habitante foi viver para uma aldeia vizinha. Sem vida  humana mas com  muitos alojamentos rurais nas redondezas.


A esta lista, acrescento dois lugares abandonados em meados do século XX, anexos da minha freguesia, Cerdeira

Azilheira - Em 1890 tinha, pelo menos, 3 fogos.  
Santo Amaro do Cortelho - Aqui, depois de ter estado sem habitantes, fixou-se um casal estrangeiro durante algum tempo. Agora, penso, voltou ao silêncio interrompido, apenas, pela festa do padroeiro no dia 15 de Janeiro, com missa e procissão.
santuário de Santo Amaro, situado  no limite da  freguesia e paróquia da Cerdeira, junto ao Porto Mourisco e Ribeira das Cabras, foi muito visitado nos séculos XVII, XVIII e XIX. Gente devota do santo protector dos doentes dos ossos, ainda alí acorre para lhe oferecer, em madeira, a parte do corpo curada.


O forno comunitário existente, testemunha o modo de vida de outrora.

Santo Amaro do Cortelho
Fiz esta pequena resenha sobre as tradições e património de carácter único, que vale a pena descobrir, sem pressas, para me referir também, nesse aspecto, à minha Aldeia (sempre ela).


CERDEIRA

É uma povoação muito antiga, com carta de foral dada por Afonso III em 1253.

«O vigario era da apresentação do abbade dos Bernardos de Sancta Maria d’Aguiar…»
«Fora da povoação existe um pequeno reduto, semelhante aos que existiam noutras freguesias, como Ruivós e Casteleiro e que, apesar de singelo e de simples construção, tem merecido o respeito de todos, sendo o mais completo de quantos tínhamos visto até 1889. Era nestes redutos que se recolhiam todos os moradores em tempos de guerra. Onde não havia redutos recolhiam-se nas igrejas paroquiais.
Afirma-se que a pequena distância da povoação existia também uma atalaia donde vigiavam o inimigo e davam sinais a outros povos.
A igreja paroquial está fora da povoação e é regularmente ornada. O orago da freguesia é Nossa Senhora da Visitação.
Pertencem à Cerdeira as Quintas da Redondinha que tem 13 fogos, a da Azilheira que tem 3 e o Cortelho que tem igualmente 3 fogos.»
Augusto de Pinho Leal (1816-1884), militar, escritor, historiador


Sendo uma povoação tão antiga teve, com certeza, muitas pedras com história para contar.
É certo que foi vandalizada várias vezes - invasões castelhanas quando entraram em Portugal por Almeida, invasões francesas (Marmont), guerra dos sete anos (?)
Mas lembro-me - e vou referir-me apenas à igreja paroquial - de ver ícones de santos espalhados pelo chão do sótão (os que estavam antes dos actuais e que, entretanto, desapareceram - as crianças são tão curiosas!) muito semelhantes aos que abaixo apresento (século XVII / XVIII?).



Uns tantos anos mais tarde, reparei que a linda via-sacra, talvez da mesma época, estava bastante deteriorada e tomei a iniciativa de doar uma determinada quantia para a restaurar.
Mas, no ano seguinte, em vez da preciosidade restaurada estava outra mais moderna. Tinha sido vendida.




E assim, ao contrário do património conservado pelas aldeias acima citadas, a minha, desde há algumas décadas que se tem preocupado mais em descaracterizà-lo (ultimamente com boas intenções, penso) - a lindíssima talha dourada dos altares, que passou a prateada (basta fazer uma simples comparação com a do altar de Santo Amaro, em cima), murais atrás do altar-mor (?) e substituição do sino da torre sineira de timbre grave, por um mecanizado, de timbre estridente e agudo.
Para o crítico Fernando Gabrielli, a destruição dos sinos icónicos é um crime. “Eles são a música do mundo”.
Eu e a minha aldeia estamos, em muitos aspectos, cada vez mais separadas, razão porque não consigo envolver-me mais na dinâmica dum espírito construtivo diferente, como muito gostaria.


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sábado, 30 de agosto de 2014

ALFARRÁBIO "PERSONIFICADO"



Tem as folhas desbotadas
E as letras descoradas
De história carregadas
Aqui, além, encontradas
Na velha árvore brotadas
Pelo outono amarrotadas
Folhas soltas ajuntadas
Nunca antes defrontadas

Arcaicas, difíceis de ler
Prá razão as perceber
O coração as reviver
Alguém as descrever
Em conversa as tecer
Ou mensagem sem ser
Com palavras a reter
No limite do querer

Mas que areal singular
E ruas a desvendar
Bons pratos pra degustar
Neutros dias a alongar
E que mais… a ecoar
Desafios por revelar
A orbe imensa, poetizar
Tantas letras prá apagar!

De tecnologia inferior
Pró moderno operador
O alfarrábio sabedor
Consolo/coleccionador
Virou já computador
Sem bloqueio reptador 
- Há que ignorar tal leitor
Pois tempo fatiado é bolor


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quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O PAVÃO



O pavão é lindo!




De plumagem exuberante, multicolorida de cores naturais intensas - verde, dourado e azul - a sua elegância passeia-se pelos quintais, relvados de mansões, bosques ou grandes parques.

Presentemente já existem, por seleção artificial, outras variedades que apresentam plumagem de cor branca, negra, púrpura e mais.
cauda abre em imponente e majestoso leque que, no caso do macho, tem como função mais importante, participar no ritual de acasalamento.


Dança do acasalamento... Pavão cortejando a fêmea  


A pavoa, também de grande beleza, como acontece com as fêmeas de quase todas as aves, é bem mais discreta. As cores são menos vivas para servirem de camuflagem na proteção do ninho ou das crias, contra os predadores.
Quando o processo é bem-sucedido a pavoa põe entre 4 a 7 ovos, que abrem ao fim de 28 dias.

Originário da Ásia (Paquistão, Sri Lanka e Índia), foi a ave favorita de Salomão, de Alexandre (o Grande) da Grécia e dos Imperadores Romanos.
Suporte de mitos e crenças em todo o mundo, é tema em alquimia, astronomia, islamismo, cristianismo e culturas como a chinesa, egípcia ou indiana. 
Na Índia onde já foi animal sagrado, é hoje um dos símbolos nacionais.

Ave de grande porte - pode ter mais de 2 metros de comprimento, 80 cm de altura e cerca de 4 kg de peso - voa muito desajeitada e ruidosamente, após ter corrido uma determinada distância.

O voo do pavão

Passam a noite no topo das árvores. 
Na natureza, são territoralistas, sobretudo se forem machos da mesma espécie. Lutam pelo lugar. O derrotado é obrigado a procurar outro território destruindo, durante o percurso, arbustos e flores
Alimentam-se de insetos, pequenos invertebrados, sementes, folhas, pétalas, alguns vegetais e frutos.



As penas renovam-se todos os anos, razão porque é considerado um símbolo de renovação. Há culturas que associam pavões e pombas como pontos focais da Árvore-da-Vida-Projetos.  


Porque são leais e fiéis aos seus parceiros, para muitos, simboliza o amor eterno. E porque se alimentam, também, de plantas venenosas, representam a imortalidade.

O trono do Xá da Pérsia, actual Irão, tinha a forma de um pavão armado, o famoso  "trono do pavão", que lhes conferiria a imortalidade.

Para outros, são ainda símbolos de beleza, prosperidade, realeza, compaixão, da alma e da paz.


Penas do pavão observadas ao microscópio

Para os gregos o Pavão estava relacionado com a deusa Hera, a esposa de Zeus. As formas circulares e brilhantes nas penas eram, para eles, os "olhos" que ajudavam este animal e a sua deusa a ver tudo o que se passava na terra.


As pessoas exibicionistas, vaidosas ou enfatuadas são apelidadas de "pavões" quando se comportam como ele na fase de acasalamento.
Gostam de "pavonear-se"...



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domingo, 24 de agosto de 2014

A GALINHA DOS OVOS DE OURO


O BES foi a instituição bancária onde depositei as minhas primeiras poupanças. 
Quem diria que não era uma empresa idónea?


A Ganância é inimiga da sensatez....

Carlos Costa diz que a medida de resolução não terá qualquer “custo para o erário público nem para os contribuintes”.

Paul De Grauweprofessor de Economia e ex-conselheiro da Comissão Europeia, adverte que não será bem assim. Em declarações ao Dinheiro Vivo afirma mesmo queo Governo está a enganar os portugueses”.
“Se o Governo está a recapitalizar a parte boa do BES num montante de 4,9 mil milhões de euros, significa que está a contrair uma dívida”. 
"Ao fazer isto, o Governo põe os contribuintes em risco, como acontece sempre que emite mais dívida”.
À medida que os “buracos” vão sendo descobertos no BES torna-se cada vez mais claro que os accionistas privados não serão chamados a pagar a utilização excessiva do poder, e que – mais uma vez – será o Estado e todos os contribuintes a salvar uma instituição financeira em quebra. 
O BES emprestou a ele próprio e à família, até falir. E o Governo faz o mesmo - empresta sabendo que nem vendendo o próprio banco, se poderá saldar a divida!’’

A Autoridade Tributária não tem registo de qualquer bem colectável em nome de Ricardo Salgado ... 
O "Dono Disto Tudo" é "Um Sem Abrigo?"...
                                                  Será Ricardo Salgado?                                        E a Comporta?

«Julgar o antigo banqueiro não é apenas injusto, é perigoso: se pusermos Ricardo Salgado no banco dos réus, o mais provável é que o banco dos réus comece a dever dinheiro a toda a gente.» Ricardo  Artur de Araújo Pereira, Humorista



Junto da que foi (é?) a mesa de trabalho

Texto composto por 5 partes sobre a crise em que se encontra o Grupo Espírito Santo, o mais poderoso grupo privado financeiro português - Desde o seu enquadramento na crise internacional, passando pelo papel da Troika, pela função do Governo de Passos Coelho, pela influência das relações pessoais e terminando com as possíveis consequências para a economia, política e o quotidiano da sociedade portuguesa”.

Publicado por:
Movimento Alternativa Socialista 
(Legalizado em Agosto de 2013 pelo Tribunal Constitucional)  
http://www.mas.org.pt/


BES, o Buraco dos Espírito Santo (Parte 1/5)


A 4 de Agosto de 2014, o Banco Espírito Santo (BES) deixou de o ser. O segundo semestre do ano termina com um prejuízo de 3,6 mil milhões €, valor nunca antes registado em Portugal.
Mas vamos por partes... Ler Mais


BES, o Buraco dos Espírito Santo (2/5) - Prisão e confisco para quem roubou o BES!


O financiamento concedido pelo BES aos negócios do GES foi considerado o maior dos problemas para o banco, pois como já foi referido emprestou cerca de 1,5 mil milhões €, tornando-se mesmo o maior credor do seu próprio grupo. Ler Mais


BES, o Buraco dos Espírito Santo (3/5) - Impunidade para banqueiros, custo para a população!


A solução desenhada pelos de cima é, para já, “habilidosa”. Para os de baixo, cedo se transformará em desastrosa. Os activos do Banco foram divididos entre “activos bons” e “activos maus”, sendo estes considerados os de difícil recuperação. Ler Mais


BES, o Buraco dos Espírito Santo (4/5) - A face política

Existe uma pergunta que subsiste: como é que uma instituição como a família Espírito Santo, uma das mais importantes, se não a mais importante do presente Regime, que sobreviveu com uma importância semelhante a todos os regimes dos últimos 140 anos, presente em 4 continentes, apelidada de “dona disto tudo”, perde o seu poder abruptamente, em apenas 3 meses? 
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BES, o Buraco dos Espírito Santo (5/5) - A face política do buraco BES/GES


Como terceiro factor que contribuiu para a fragilidade do BES, elencam-se as quezílias entre os pares de Salgado.
A mais destrutiva terá sido a guerra com Pedro Queiroz Pereira (PQP), industrial, accionista de controlo da Semapa e antigo aliado dos Espírito Santo. Este era igualmente administrador e accionista (com 7%) da ES Control, holding de topo do GES. Ler Mais


Será tudo ilibado porque não viram, não ouviram e não falaram?

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AS COSCUVILHEIRAS



-“São umas cucas!
Dizem as coscuvilheiras (aquelas que promovem a intriga, o mexerico, a fofoca - dicionário de Português online) de quem não faz conluio com elas, quando, pelas festas, aparece lá na aldeia.


Será o plural de cuca?
O mesmo dicionário define cuca como bolo feito com ovos, farinha de trigo, manteiga, fermento, e coberto com açúcar”.
Então são uns bolos, em princípio doces, de forma arredondada ou retangular, cozidos ou assados.
A comparação, se feita para depreciar, acaba por ser apreciativa… 
(cucas/cuca/bolo = doce. Logo, são umas doces!)


Mas, gramaticalmente, cuca é singular e feminino…

Será então o feminino de cuco
E cuco é:
- Ave trepadeira e insectívora dos bosques da Europa central, que tem dorso cinza e ventre branco raiado e atinge 35 cm de comprimento
- Relógio que, ao bater as horas, produz barulho semelhante ao canto do cuco.
- Nome de uma planta mais conhecida como campainha-amarela.



Talvez a explicação esteja, alegoricamente, na imagem do relógio e respectiva ave - o cuco

O chamado relógio de cuco, tradicionalmente regulado por um pêndulo, além de dar horas, como um relógio normal, solta um pequeno cuco que reproduz o som característico: ”cuc-cuu de forma sincronizada com os ponteiros do mostrador.



As coscuvilheiras são figuras-chave em qualquer aldeia, como terra pequena que é.
Parece que as pessoas se sentem melhor a comentar a vida daqueles que não se metem na vida de ninguém. Alimentam-se da vida alheia com avidez, esquecendo-se que elas próprias também têm motivos para ser alvo de chacota.
Lidam bem com tudo, excepto com a sua própria inutilidade.


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quinta-feira, 21 de agosto de 2014

DE CARTUCHEIRA CHEIA


Como aprovado em Assembleia Geral, este ano a caça de verão começou no dia 17 de Agosto; mas apenas para algumas espécies migratórias - rolas, codornizes e pombos bravos.
Só no Outono, em princípios de Outubro, é que abre a caça geral - perdizes, coelhos bravos, patos-reais, faisões, raposas, veados, corços ou outras espécies de caça maior e caça grossa.




O coelho bravo, mamífero herbívoro de cor cinzento-acastanhado (camuflagem), existe em todo o território português e a caça é proibida durante quase todo o ano. Os ninhos são subterrâneos. Apesar de roerem tudo que veem pela frente, não são roedores. Roem para gastar os dentes que não param de crescer durante toda a vida.
A raposa, mamífero carnívoro, pode ser caçada entre Outubro e Fevereiro
A lebre, mamífero herbívoro roedor, de cor castanho esverdeado (camuflagem) existe mais na planície alentejana. 
Abriga-se em tocas pouco profundas porque conta com a sua coloração mimética para se dissimular na paisagem. É um animal solitário.
Difere do coelho pelo tamanho das orelhas, das patas posteriores e da forma como corre
É muito procurada pelo caçador. Reproduz-se duas vezes por ano e pode atingir 6 kg
A perdiz vermelha, ave terrestre de aspecto arredondado, abundante em quase todo o território nacional, alimenta-se de sementes, ervas e insectos
No Outono podem ser vistas em grupos de 5/6.



Raposa                                               Perdiz vermelha
Coelho bravo                                       Lebre comum

Tanto a lebre como o coelho bravo têm a fuga facilitada pela posição dos olhos ao lado da cabeça que lhes permite olhar para trás sem se virarem.

Algumas espécies, como lobos e águias"graças à actividade cinegética estão a ser recuperadas, protegidas e devidamente preservadas". 
O javali também já chegou a estar ameaçado de extinção e a caça da raposa permite caçar outras espécies cinegéticas.
rola turca tornou-se uma praga - come a alimentação das outras espécies e como também se aproxima das capoeiras e dos quintais das redondezas, acaba por trazer para o campo as doenças das aves domésticas. Será necessário haver uma licença para as abater, assim como para as cegonhas.


Rola turca                                                 Cegonhas

Considerando as despesas directas associadas à compra da arma, cartuchos, licenças e pagamento de quotas no caso das associativas, os custos para manter e vacinar os cães, o combustível para as deslocações, estadias fora de casa, roupa específica e toda uma gama de acessórios de que um verdadeiro caçador não prescinde, presentemente, a caça é um desporto caro.
Talvez por isso (e não só), o número de caçadores/ano em Portugal tem diminuído, segundo Jacinto Amaro, presidente da Fencaça. E é preocupante porque, como também diz, a caça é um dos principais motores do desenvolvimento rural.

Ser caçador
Os caçadores têm que ter em consideração comportamentos e regras em relação às espécies que podem ser caçadas.

Outono e elogio da caça
Miguel Sousa Tavares 
   
 ver 

Quando se caça em grupo, é preciso que todos funcionem como uma verdadeira equipa - ir caminhando em 'U', para empurrar a caça.

Os cães são os grandes batedores de terreno; possuidores de um olfacto apuradíssimo terão que ser inteligentes na abordagem e no trabalho de busca em campo, ter capacidade de sacrifício para procurar incessantemente a perdiz, a codorniz, a lebre ou o coelho que se escondeu no mato, habilidade para rastear as perdizes que caiem feridas, garantindo a maior percentagem de êxito no cobro e docilidade para partilhar os dias e o descanso com o dono.


A caça é um tipo de desporto pelo qual não tenho qualquer interesse, de que sei pouco e que, apesar de apreciar as várias especialidades culinárias, mal as tenho saboreado.
Mas o tema, focado há dias, fez-me lembrar disso mesmo - do gostoso petisco de há várias décadas.


O meu tio M. caçava - isoladamente ou em grupo, não me lembro. 
Munido duma espingarda de calibre (?), cartucheira na cintura, polainas, casacão ou gabardina e farnel, punha-se a andar logo pela manhã, a caminho de certos locais pejados de giestas, restolho, tojos, pinheiros ou de alqueive. Acompanhavam-no um ou dois cães, podengos ou perdigueiros.


Podengo                                                   Perdigueiro

Os terrenos onde, naquela altura, não havia limitações, ficavam relativamente perto e a caça parecia ser abundante porque regressava pela tarde com os atilhos da cartucheira quase sempre cheios de coelhos, lebres, galinholas, perdizes vermelhas.




Penso que vendia a maior parte das peças mas, de vez em quando, oferecia-nos uma lebre ou algumas perdizes que, como família numerosa que éramos, quase só chegavam para provar… 
E é do cheiro, mais que do sabor, que me recordo.
Ainda estou a "ver" aqueles guisados de sonho que a Mãe fazia multiplicar... 


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quinta-feira, 14 de agosto de 2014

QUASE ETÉREO


A casa onde nasci, mandada construir pelos meus avós maternos há mais de cem anos, tecto dos meus pais durante sete décadas e palco dos respectivos e numerosos descendentes, é hoje uma mansarda onde o burburinho deu lugar a ausências e silêncios.

Ontem, às 2 horas da noite, semideitada sobre a cama do que foi meu quarto durante alguns anos, começei a escrever estas linhas. Sentia-me como se estivesse num espaço suspenso no vácuo, sem ruas nem vozes em redor, ideal para quem sofra de misofonia.

Lá fora via-se uma luz ténue, vigilante, a iluminar as janelas da varanda e os contornos - desenhados no céu estrelado - do telhado duma antiga e buliçosa oficina de ferreiros e da copa da frondosa nogueira cuja sombra refrescava o burro que, de olhos vendados, fazia gemer os alcatruzes de uma nora.
Cá dentro, uma pequena melga, motivada pela curiosidade, insistia, atrevida, em me fazer companhia.

Ah! Estava a esquecer-me dos condutores noctívagos que passam ali na estrada ao lado de vez em quando; e dos aviões marcando a passagem na abóboda acima das nossas cabeças a 9/11 mil metros de altitude, a qualquer hora...


Porem, durante o dia, apesar de os compartimentos terem ficado desabitados, a casa não denuncia o vazio. 

Há cortinas renovadas, camas sempre feitas, móveis limpos e objectos “no lugar”, plantas e flores frescas dentro e no pátio, e retratos, muitos retratos de todas as gerações, nas paredes e nas mesas.
Porque a minha irmã M. faz questão de a “viver” com frequência como se o tempo e os acontecimentos em nada a tivessem alterado. 
Até a existência de gatos contribui para manter aquela particularidade do ambiente “acolhedor" criado pelos meus Pais.

Afinal"ainda estamos todos cá”…




Passar uns dias na Casa da Minha Aldeia proporciona sempre uma sensação de bem-estar e de tranquilidade revigorantes. 
Tudo o que a rodeia faz evocar o silêncio como palavra de ordem - na sabedoria ancestral da escultura da natureza em pedras de arte não aprimorada ou na sonoridade musical dos montes que a resguardam.




Amanhã, dia 15 (e nalguns mais), a aldeia retoma a voz da alegria e do regozijo, do desassossego das festas. Os sinos repicarão sons mais agudos e metálicos, haverá procissões, fogo-de-artifício (ou já não), bailaricos, bandas filarmónicas, muitos emigrantes, automóveis, romaria à Senhora do Monte - a mais importante festa da Freguesia



Em rodapé, sou tentada a partilhar um pouco mais da bela, única e admirável paisagem da minha Beira Alta