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quarta-feira, 12 de setembro de 2012

ONTEM




Ontem já foi.
E como foi ele, ói?

Assim, num abrir e fechar de olhos!
Ontem ignorava o que é ser velho
E acreditava até no evangelho.
Ontem colhia flores aos molhos
E brincava nas ruas com neve
Tão branca, tão fria e tão leve!
Ontem pulava corda no quintal
Fazia monas de trapinhos
Dançava à chuva nos caminhos.
Ontem cantava no arraial
Acreditava na chaminé
E até sabia fazer filé.
Ontem respirava saúde
Sem questões existenciais
Tinha Avós e tinha Pais.
Ontem esbanjei juventude
Sem saber que era tão boa
E do barco esqueci a proa.
Ontem ignorei aliados
Construí na areia mutante
Pois tudo era abundante!
Ontem sem cordões atados
Era jovem, sonhava mais
Subia árvores como pardais.
Ontem atentava no Globo
Recusava a estupidez humana
E a fragilidade mundana.
Ontem a vida era um jogo
Não fruí os sonhos reais
Alterei verbos e adverbiais.
Ontem corri tanto que não dei
Por anelos esperando por mim
Algures num belo jardim.
Ontem obstáculos saltei       
Mas aprendi muito mais
Do que a ler os jornais.
Ontem foi há mui tempo
O palco estava bem cheio
De actores vários sem freio.
Ontem ia com o vento
Como quem só flutua
Esvoaçando até à lua!
Ontem era anterior a hoje
Ontem foi, hoje é o agora
E o amanhã, será longe?

Agora, é o Presente,
A duração do instante que vira
A poesia com cordas de lira
O momento que ainda está
O Viver sem amanhã
Com agradável sabor a romã

Um porto sempre sem cais...





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