O cacto, para mim, era apenas uma das muitas variedades
de “cardo espinhoso”, vegetal selvagem verde e perene, de caule suculento e
folhas em forma de espinhos, com ou sem floração e brotos laterais, encontrado em
ambientes áridos como bermas de estradas ou escarpas rochosas, em vasos e
jardins como plantas ornamentais ou em cercas e muros artificiais.
Mas há, afinal, espécies de cactos que produzem frutos
comestíveis e onde quase tudo se aproveita, como a figueira-da-índia, em
transição avançada para uso agrícola e comercial.
A figueira-da-índia (ou piteira, tabaibeira, palma e mais) é um cacto de grandes dimensões (1,5-5 m de altura) lenhoso, vivaz,
originário da América Central mas naturalizado em muitas regiões semitropicais
como Portugal.
A planta é suculenta, ramificada, com ramos (30-50 cm) achatados
de cor verde-acinzentada e espinhos variáveis em densidade e tamanho ou nulos.
As folhas muito pequenas e finas são caducas precoces e as flores (7-8 cm de
diâmetro) são brilhantes, de cor viva amarela ou laranja.
Os frutos (cerca de 8
cm de comprimento) semelhantes a figos, de tonalidade verde, laranja, púrpura
ou matizados, são doces e sumarentos e podem ser comidos frescos.
Por ser suculenta, ramificar frequentemente e enraizar
os segmentos que se desprendem, é considerada invasora em solos favoráveis.
Se na Europa não é ainda cultura sistemática, no México,
por exemplo, até conservam a planta e o respectivo fruto em salmoura ou
escabeche para exportarem para o Japão e Estados Unidos.
O consumo remonta há pelo menos 9.000 anos; em Israel e
na Palestina é comum e habitual.
Segundo o engenheiro agrónomo José Martino em entrevista
à agência Lusa, os frutos já existem em Portugal há 20 anos mas, como são uma
atividade que precisa de muita mão-de-obra, antes da crise não era muito apetecível porque não havia pessoas desempregadas com necessidade de trabalhar na
colheita.
Agora está na moda!
José Alves, vice-presidente da APROFIP (Associação Profissionais
de Figo da India Portugueses) com sede em Alcoutim e consultor agrónomo para o cultivo da
planta, diz que, com o apoio do programa PRODER (Programa de Desenvolvimento
Rural) cuja aplicação foi "negligenciada durante muitos anos", 15 associados
já optaram pelo cultivo profissional, com uma média de 5 a 10 hectares por
exploração.
“Cada euro do PRODER mobiliza cinco do setor privado, o
que significa que põe a economia a funcionar".
A plantação de 1 Hectare pode começar a produzir fruto a partir do 2º ano de vida e
ao 7º / 8º ano produz entre 30 a 40 toneladas de figos; custa cerca de
1.000 euros e a sua manutenção é muito pouca - uma lavoura anual e uma
aplicação de matéria orgânica junto ao caule. Não necessita de rega ou produtos
químicos o que a torna um produto biológico.
Plantada ordenadamente e explorada a nível agroindustrial, pode ser um importante e
sustentável rendimento socioeconómico.
Devido às propriedades da planta e dos figos - fibra
alimentar, cálcio, magnésio, potássio, sódio, fósforo, ácido tânico, sacarose, vitaminas
C, A e B 3 - são de utilidade quase ilimitada: doces, compotas, geleias, sumos,
gelados, iogurtes, bolos, xaropes, vinagre, saladas, tortilhas, licores,
bolachas, aguardente, óleos cosméticos, chás medicinais, dietas de
emagrecimento, indústria farmacêutica e fabrico de rações biológicas para
animais, fertilizante do solo.
Em 2011, num concurso de Aromas e Sabores com Figo da índia, ficou demonstrado que "é possível fazer-se todo o tipo de receitas quer como ingrediente principal quer como aroma, espessante ou corante."
Nalguns países também já se produz bio combustível e como hospedeiras
de cochonilhas (pulgões) usam-se na indústria tintureira, na pintura de quadros,
decoração de paredes, artesanato.
É ideal para reflorestar zonas em processo de
desertificação e para fixar de terras ameaçadas de erosão.
Apesar da redução do orçamento comunitário para a
Política Agrícola Comum (PAC) que pode
significar "perdas importantes" para Portugal, porque não
apostar nos mercados europeus e não comunitários?
É uma dica sinérgica que pode contribuir para aumentar o emprego, a exportação e a percentagem de riqueza nacional...
Imagens google
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