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sábado, 11 de maio de 2013

A PARÓQUIA CATÓLICA EM PORTUGAL


Quando o reino de Portugal foi fundado, o Papa, chefe supremo da Igreja Católica, congregava muitos poderes (desde o século V, como autoridade religiosa/política) e os réis cristãos deviam-lhe total obediência e fidelidade. Para a independência de um reino ser respeitada pelos outros reinos cristãos tinha de ser declarada legal por ele.
Apesar de o rei Afonso VII ter legitimado Dom Afonso Henriques como rei de Portugal em 1143, o mesmo não aconteceu com o Papa.

Papa Alexandre III e Dom Afonso Henriques

Para o conseguir, Dom Afonso Henriques edificou diversos conventos, mandou construir sés, igrejas e deu privilégios e regalias aos mosteiros.
E em 1179, através de uma bula (decreto pontifício), o papa Alexandre III reconhece Portugal como País independente e soberano protegido pela Igreja Católica
O monarca português considerou-se vassalo da Santa Sé, obrigando-se por si e pelos seus descendentes, ao pagamento anual de uma determinada quantia de ouro, o censo.

O tratado de Zamora em 1143                  A bula papal 

O reino manteve, ao longo dos séculos, estreitas relações com a Igreja Católica Apostólica Romana.
Também a Constituição de 1822, estabelece, no artigo 126, que “O Rei antes de ser aclamado prestará perante as Cortes nas mãos do Presidente delas o seguinte juramento: Juro manter a Religião Católica Apostólica Romana; (…) “ ou ainda no artigo 135, que “ (…) Em completando catorze anos de idade, prestará em Cortes nas mãos do Presidente juramento de manter a Religião Católica Apostólica Romana(…).


Até ao Liberalismo, “freguesia” e “paróquia” são sinónimos.

Caricatura representando Dom Pedro IV e Dom Miguel, a disputar a coroa portuguesa

Com a reforma administrativa de 18 de Julho de 1835, surge a estrutura civil da Junta de Paróquia, embora os seus limites territoriais coincidissem, geralmente, com os das paróquias eclesiásticas que vinham desde a Idade Média. Em 1916 é estabelecida a diferença entre a estrutura civil (freguesia) e a estrutura eclesiástica (paróquia).

A Constituição actual consagra a liberdade de consciência, de religião e de culto (art.º 41); o enquadramento legal dessa liberdade encontra-se definido em dois documentos -  a Concordata assinada pelo Estado Português e a Santa Sé (em 2004) e a Lei da Liberdade Religiosa (de 2001). Por se tratar de um tratado internacional, o conteúdo da Concordata tem valor legal superior à Lei da Liberdade Religiosa, que é apenas uma lei da República.

O primeiro-ministro português, Durão Barroso e o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Angelo Sodano, assinaram a nova Concordata que passa a regular as relações do Estado português com a Igreja Católica


Mas a população portuguesa, devido à tradição e às circunstâncias históricas que o País teve e viveu no passado, é maioritariamente católica.

A Igreja Católica, talvez como nenhuma outra instituição em Portugal, tem séculos de história ininterrupta na formação e evolução da sociedade e da cultura portuguesas.
Por esse motivo, a maioria das localidades foi construída em volta de uma igreja tal como a grande parte dos feriados era dedicada a santos.


A história da igreja de S. Tiago dos Velhos está intimamente ligada à história da própria povoação. Segundo a tradição oral o pequeno templo terá sido mandado construir neste local, a pedido de Dona Teresa, mãe de Dom Afonso Henriques, como ponto de encontro e oração para os cavaleiros da Ordem dos Templários.


E, embora hoje uma freguesia seja uma instituição de carácter político e administrativo, exclusivamente subordinada aos poderes civis, a sua origem é, na maior parte dos casos, a paróquia católica. 


Paróquia, dentro da Igreja Católica Romana, significa a menor subdivisão geográfica da organização territorial da Igreja, onde território e população estão subordinados, do ponto de vista eclesiástico, a um pároco (ministro religioso).

Retábulo da Paróquia de S. Francisco de Assis, em Alfornelos 

Na minha Aldeia, que é freguesia, existem cinco construções de culto religioso.


A Igreja Matriz, situada no Largo da Igreja, dedicada a Nossa Senhora da Visitação, onde se celebra a missa dominical.
No interior, destacam-se os altares com retábulos de talha nacional e um arco triunfal de volta perfeito.



Capela do Senhor dos Aflitos (muito pequena), junto à entrada norte da ponte sobre o rio Noémi. Desconheço se tem dia ou dias para abrir.


Capela da Senhora do Desterro, na povoação anexa da Redondinha



Capela de Santo Amaro, no lugar abandonado de Santo Amaro do Cortêlho, muito visitada nos séculos XVII, XVIII e XIX.
A festa do padroeiro das doenças dos ossos celebra-se a 15 de Janeiro  com missa e procissão. 
Junto à capela encontram-se muitos ex-votos em madeira ou cera, deixados pelos veneradores para pagar promessas, agradecer uma graça alcançada ou milagres do quotidiano.



Capela (Ermida) da Senhora do Monte, a 2 km da Aldeia, no topo do monte mais alto, local de grande devoção para as populações circundantes.
Todos os anos no dia 15 de Agosto se festeja a mais importante Festa da Freguesia em honra de Nossa Senhora do Monte.

Inserindo a paróquia neste contexto, pela “idade” da povoação e de acordo com as circunstâncias históricas, sempre achei que a construção da igreja principal ou de alguma das capelas deveria evidenciar características próprias da época em que o foral foi dado aos seus habitantes. 
Todavia, a Ermida da Nossa Senhora do Monte, comparada, por ex.,  com a Igreja românica de S. Miguel do Castelo, mandada construir pelo Conde Dom Henrique, onde foi baptizado Dom Afonso Henriques em 1111, parece semelhante.

Igreja de S. Miguel

O primeiro povoamento da aldeia é muito remoto. Quando fizeram escavações no lugar das Termas do Cró, foram encontradas algumas moedas romanas da época de 200 d. C., que confirmam a antiguidade.

A mais antiga referência escrita ao topónimo Cerdeira (Cerzeira) na região é de 1229, data do primeiro foral de Castelo Mendo concedido por D. Sancho II. Na descrição dos limites do novo concelho, em terras conquistadas aos árabes em meados do século anterior, aparece designado o Cabeço da Cerdeira, entre Porto Mourisco e o Cabeço do Homem. 
As igrejas do novo concelho dependiam da diocese de Viseu.


Antigo claustro do Convento(séc. XII, estilo gótico primitivo)  
Vista geral da Igreja e do Convento restaurados

Em 1253, após o ordenamento e repovoamento da margem esquerda do rio Coa, na primeira metade do século XIII, Dom Afonso III concedeu foral à Cerdeira. 
Em 1264, o mesmo rei ordenou ao concelho de Castelo Mendo o respeito pela propriedade e pelas prerrogativas que o mosteiro de Santa Maria de Aguiar detinha na Cerdeira. Em 1279, ao contrário das restantes paróquias do concelho de Castelo Mendo, dependia desse mosteiro, em terras leonesas de Ribacôa até ao Tratado de Alcanices, e da diocese de Ciudad Rodrigo até 1403.
Seria portanto provável que, na segunda metade do século XIII, tal como a ponte românica de seis arcos redondos a atravessar o rio Noémi e o desaparecido reduto com atalaia ou torre de vigia que se situava na pequena colina sobranceira à aldeia e ao rio, na margem norte, tivesse havido também qualquer templo (a supra citada Ermida da Nossa Senhora do Monte ?).


 A ponte era, então, o único ponto permanente e seguro de passagem norte-sul, entre a Guarda e a fronteira e serviria também o caminho medieval que ligava Pinhel a Castelo Branco. 
A fortificação foi destruída durante as invasões francesas, no início do século XIX e as pedras, segundo a tradição oral local, foram utilizadas na construção das casas do outeiro, da torre do relógio, da antiga (minha) Escola Primária e da actual Igreja Matriz.


As atrocidades da 4.a invasão francesa em 1812 (sortida de Marmont)

Em 1770, a Cerdeira integrou a nova diocese de Pinhel que viria a fundir-se com a da Guarda, em 1882.

No âmbito e conteúdo do Arquivo (Arquivo Nacional da Torre do Tombo e outros) a documentação menciona bens situados nos lugares e termos de Castelo Mendo, de Castelo Rodrigo, da vila da Cerdeira e mais. Refere ainda a invasão francesa de 1814, o vigário geral de Viseu, a devastação da comunidade e do edifício do Mosteiro de Santa Maria de Aguiar, etc. e a igreja da Cerdeira, donde se conclui que houve mesmo outra igreja anterior à actual.

Algumas imagens Google

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