Ó que lindo chapéu preto”, cantarolava esta tarde um avô (talvez bisavô) para a neta (bisneta?), enquanto passeavam de mão na mão pelo jardim. Muito atenta, a criança inclinava ligeiramente a cabeça e, de vez em quando, aproximava-se um pouco mais como se estivesse a memorizar o refrão “É mentira, é mentira…”
Voltando atrás no
tempo, fez-me recordar uma outra pessoa também já idosa mas que nunca chegou a
ser avô, o Dr. Alberto Dinis da Fonseca.
Era na casa dele, na
Guarda, que ficavam as alunas do meu Colégio (dirigido pela irmã, Sra Dona
Cândida), quando tinham que se deslocar à cidade para exames.
Como pessoa interessante,
divertida, bem-disposta e extrovertida, quando regressava depois das suas variadíssimas
actividades, jantava connosco e, entre as muitas histórias que contava, também gostava de entoar diversas cantigas populares com destaque para “Ó que lindo chapéu preto”, a fim de ser acompanhado.
Melhor terapia para ajudar
a vencer o pavor dos exames, não encontraríamos com certeza.
Nasceu na freguesia do
Rochoso, muito próxima da minha aldeia, em 1884 e faleceu em 1962.
Licenciado em Direito pela
Universidade de Coimbra, foi deputado na primeira república, jornalista, poeta,
notário, pedagogo e Presidente de Câmara da Guarda.
Fundou o ainda Jornal
Amigo da Verdade e a Escola Regional Dr. José Dinis da Fonseca (em homenagem a um tio,
desembargador e professor universitário em Coimbra), na Cerdeira, onde também
ensinava.
Quando comprou a
Quinta da Pombeira a que deu o nome de Outeiro de S. Miguel, a Escola (de
rapazes) e Oficinas, passaram a funcionar lá.
Em meados do século XX
dinamizou as Termas do Cró através da Irmandade das Almas do Rochoso e da Liga
dos Servos de Jesus onde, com o bispo e amigo Dom João de Oliveira Matos, promovia retiros e encontros com as pessoas responsáveis na Obra.
Personagem de muitas
facetas, um pouco espectacular, amante da Guarda e da sua terra natal foi, sobretudo, um benfeitor, incluindo a minha região.
Para os que quiserem recordar,
ficam as quadras (também favoritas do meu Pai).
Naquela cabeça vai
Ó que lindo rapazinho
Para genro de meu pai
É mentira, é mentira
É mentira sim senhor
Eu nunca pedi um beijo
Tanta parra, tanta uva
Tanta silva, tanta
amora
Tanta menina bonita
E meu pai sem uma nora
Ó que lindos olhos tem
A filha da moleirinha
Tão mal empregada é
ela
Andar ao pó da farinha
A azeitona já está
preta
É tempo de armar aos
tordos
É tempo minha menina
De formarmos amores
novos
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