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sexta-feira, 4 de outubro de 2013

"ESTA É A DITOSA PÁTRIA MINHA AMADA"




Ler o magnífico poema épico de Camões pode ser a forma perfeita para ultrapassar o negro presente.  


"Eu canto o peito ilustre Lusitano..."

Os “lusíadas” são os portugueses todos, os passados, os presentes e futuros,  na medida em que assumam as virtudes que caracterizam, no entendimento do poeta, o povo português e que ele sintetiza, na dedicatória a Dom Sebastião:

"Vereis amor da pátria, não movido
de prémio vil,  mas alto e quase eterno
,"

Camões foi pioneiro da moderna consciência universalista, excedendo todas as ideologias.

Refere-se a si como um poeta admirador do povo e dos heróis portugueses, revelando espírito crítico ao que o envolvia na época.  

Canta:

"Aqueles sós direi, que aventuraram
Por seu Deus, por seu Rei, a amada vida,"



Dom Afonso Henriques - Vasco da Gama
Mas, por oposição:

"Nenhum ambicioso, que quisesse
Subir a grandes cargos, cantarei,
Só por poder com torpes exercícios
Usar mais largamente de seus vícios..." 

"Nenhum que use de seu poder bastante,
Para servir a seu desejo feio,
...
Quem, com hábito honesto e grave, veio,
Por contentar ao Rei no ofício novo,
A despir e roubar o pobre povo"
“ E não acha que é justo e bom respeito,
Que se pague o suor da servil gente;
Nem quem sempre, com pouco experto peito,
Razões aprende, e cuida que é prudente,
Para taxar, com mão rapace e escassa,
Os trabalhos alheios, que não passa”
        
"Quanto no rico, assi como no pobre,
Pode o vil interesse e sede immiga
Do dinheiro, que a tudo nos obriga. "

" A Polidoro mata o Rei Treício,
Só por ficar senhor do grão tesouro;
Entra, pelo fortissimo edifício,"
Faz tradores e falsos os amigos; (...)
E entrega capitães aos inimigos;"

"...este faz e desfaz leis;"

O Poeta afirma a sua posição independente de cantor do justo e do direito, acusando os hipócritas, os interesseiros, os opressores do povo.

Aponta para um dos males da sociedade sua contemporânea, orientada por valores materialistas e faz uma severa crítica ao poder corruptor do dinheiro e do «ouro».

Ao cantar a gesta heróica do passado, o poeta pretende mostrar aos seus contemporâneos a falta de grandeza do Portugal presente.





Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho

Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho

Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Düa austera, apagada e vil tristeza"


TÃO ACTUAL...

Há a crise de regime em que vivemos, com a crescente descrença nos políticos e nas instituições democráticas
Há a vergonhosa disputa de interesses nos aparelhos partidários
"A maioria dos políticos que consegue acumular autênticas fortunas ao fim de uma mera dezena de anos!"
Há uma imunda ignomínia e impunidade traduzidas também na imagem de corrupção transversal a todo o país.




Há uma Assembleia da República, Centro da Corrupção em Portugal
Há silêncios e “assobios para o ar" face às leis feitas por “eles próprios através de gabinetes de advogados privados” porque sabem que passam inocentados pelo sistema colaboracionista da justiça, ajudados pelos poderes centrais e autárquicos.


Há portugueses que, mesmo ilustrados, toleram bem a corrupção desde que "deixe obra" para si. "A corrupção incomoda-os. Mas o que os incomoda não é o roubo. É serem eles os roubados. Se o corrupto lhes deixa alguma coisa a corrupção deixa de ser um problema"
(Ao tomar conhecimento da vitória eleitoral…  Isaltino Morais lançou jornais a arder pela janela da sua cela na Carregueira, juntando-se assim às largas dezenas de carros dos apoiantes da lista Isaltino Oeiras Mais À Frente”)


 Armando Vara, o senhor Mexia, o senhor Dias Loureiro, o senhor Jorge Coelho, o senhor Rui Pedro Soares, os senhores Penedos pai e filho, Sócrates, Duarte Lima...milhentos que "procuram a fama para proveito próprio", "exploradores do povo".

      

No final d'Os Lusíadas num momento de desalento quanto ao estado da nação, dirige-se a Dom Sebastião… rogando-lne que nunca outros possam dizer que os Portugueses são uma nação servil, em vez de senhorial.


“Fazei, Senhor, que nunca os admirados
Alemães, Galos, Ítalos e Ingleses,
Possam dizer que são para mandados,
Mais que para mandar, os Portugueses.
Tomai conselho só d'experimentados,
Que viram largos anos, largos meses,
Que, posto que em cientes muito cabe,
Mais em particular o experto sabe”




Pois hoje,  Camões, "ESTA É A DITOSA PÁTRIA MINHA AMADA"... Uma Nação SERVIL exemplar!

(HAVERÁ POR AÍ ALGUÉM QUE CAMÕES POSSA CANTAR ?)


Imagens Google

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