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segunda-feira, 28 de julho de 2014

A MOSCA / MOSCAS



Não era "A Mosca Azul" de Machado de Assis, símbolo das ilusões e das fantasias, que podem ser contempladas e vividas mas não analisadas e dissecadas.
Não, não era...
“...uma mosca azul, asas de ouro e granada,
Filha da China ou do Indostão.
Que entre as folhas brotou de uma rosa encarnada.
Em certa noite de verão.
E zumbia, e voava, e voava, e zumbia,
Refulgindo ao clarão do sol
E da lua, - melhor do que refulgiria
Um brilhante do Grão-Mogol…”

Era uma mosca incómoda, teimosa, chata, que insistia em pousar no vistoso cacho de uvas brancas, frescas e doces, ali posto para me deliciar.

Uma mosca doméstica, muito certamente...



Mas como sou rica em anos, vou atribuir-lhe o tradicional significado de “sinal de longevidade” que esta “dança” dizem querer transmitir.  


As moscas (e os mosquitos) integram a ordem Díptera ("duas asas”) e estão divididas em cerca de 150 mil espécies, como a mosca-varejeira, a mosca-das-frutas, a mosca-caçadora, mosca Tsé-tsé, mosquinhas ou mosca da banana,  mosca do chifre, mutuca de cavalo, mosca do figo, mosca-branca, mosca negra dos Citrus, etc. 





A mosca-doméstica, uma das mais comuns no mundo, está activa durante o dia e dorme à noite, em frestas e pequenos buraquinhos.

Pertence à classe o picadora, de tromba mole, do tipo lambedor.
Os ovos, brancos e alongados, medem menos de 1 mm. São colocados pelas fêmeas em locais húmidos e sombrios, em qualquer matéria orgânica fermentável como lixo, esgotos, aterros sanitários, etc.
As moscas, antes de ganharem asas e voar, passam por uma grande metamorfose de três fases - ovo, larva e pupa. Em 5 a 8 dias ficam adultas, com 5 a 8 milímetros de tamanho e 30 gramas de peso.
Têm um período de vida de cerca de 30 dias.Outras não chegam a viver mais do que 24 horas - geralmente elas nascem de madrugada e durante o dia aproveitam para se reproduzir acabando por morrer na noite seguinte.
Alimentam-se constantemente, digerindo uma grande variedade de substâncias animais e vegetais, sobretudo açucaradas. Sem dentes para mastigar, elas têm truques; antes de ingerir o alimento, depositam nele uma gota de saliva para o dissolver, sugando-o em seguida; ou então vomitam-no e voltam a ingeri-lo mais amolecido.
Como vivem na imundície, são transmissores de doenças ao ser humano.

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Limpeza


Por incrível que pareça, as moscas têm cuidado com a higiene. Esfregam as patas constantemente para manter limpos os pêlos receptores dos aromas e sabores com que farejam os alimentos preferidos. Utilizam as patas centrais e traseiras para limpar o corpo. Depois, usam as duas patas da frente para o que falta. Por fim, esfregam os membros anteriores um no outro e podem ainda utilizar a boca.


Parece haver provas de que as moscas surgiram no Oriente Médio, no tempo dos dinossauros, há cerca de 65 milhões de anos e que foram seguindo os homens nas suas viagens pelo mundo.
Têm os olhos grandes e multifacetados, formados por milhares de lentes, que lhes permitem ver praticamente em 360 graus, motivo pelo qual se torna difícil capturá-las.
Atingem a maturidade sexual assim que viram adultas. Normalmente, as fêmeas só acasalam uma vez, mas armazenam espermatozoides para pôr ovos várias vezes. Ao longo da vida, uma única mosca pode colocar até 900 ovos.
Durante o voo, batem as asas 330 vezes por segundo - quatro vezes mais do que o beija-flor, o pássaro campeão nesse requisito. Possuem ainda um segundo par de asas, menos desenvolvido, para as manobras aéreas e para estabilizar o voo.

O aparelho bucal de algumas moscas como as mutucas, as moscas-de-estábulo ou as moscas-de-chifre, possui modificações pontiagudas que picam e perfuram a pele dos seres humanos ou de animais para lhes sugar o sangue.

E as "moscas da política e não só" muito mais incomodativas - no governo, na Assembleia da República, nas Empresas Públicas, nos Comentadores, nos Sindicatos, na Saúde, na Justiça, em qualquer programa musical de TV, no Desporto, na área Militar, na Arquitectura, na Pintura - que, pelas suas características, poderão ser incluidas nestas últimas
Sempre as mesmas caras …apenas com espaço para uma "renovação" plagiada no prolongamento dos tentáculos da corrupção.



Solução à vista: desenhada por Rafael Bordalo Pinheiro, numa página d’O António Maria de 1892. 



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quarta-feira, 23 de julho de 2014

ENTRE / FORA DE PARÊNTESES


Gosto da facilidade com que domina as palavras. E partilho.
Viva hoje! 
Arrisque hoje!
Faça hoje!
Não se deixe morrer lentamente


Por Martha Medeiros*

Uma mulher entre parênteses. Tinha algo a dizer, mas jamais aos gritos, jamais com ênfase, jamais invocando uma reação. Era como ela catalogava as pessoas: através dos sinais de pontuação. Irritava-se com as amigas que terminavam as frases com reticências... Eram mulheres que nunca definiam suas opiniões, que davam a entender que poderiam mudar de ideia dali a dois segundos e que abusavam da melancolia. Por outro lado, tampouco se sentia à vontade com as mulheres em estado constante de exclamação. Extra, extra! Tudo nelas causava impacto! Consideravam-se mais importantes do que as outras! Ela, não. Ela era mais discreta. A mais discreta de todas. Também não era do tipo mulher dois pontos: aquela que está sempre prestes a dizer uma verdade inquestionável, que merece destaque. Também não era daquelas perguntadeiras xaropes que não acreditam no que ouvem, não acreditam no que veem e estão sempre querendo conferir se os outros possuem as mesmas dúvidas: será, será, será?Ela possuía suas interrogações, claro, mas não as expunha . Era uma mulher entre parênteses. Fazia parte do universo, mas vivia isolada em seus próprios pensamentos e emoções. Era como se ela fosse um sussurro, um segredo. Como uma amante que não pode ser exibida à luz do dia. Às vezes, sentia um certo incômodo com a situação, parecia que estava sendo discriminada, que não deveria interagir com o restante das pessoas por possuir algum vírus contagioso. Outras vezes, avaliava sua situação com olhos mais românticos e concluía que tudo não passava de proteção. Ela era tão especial que seria uma temeridade misturar-se com mulheres óbvias e transparentes em excesso. A mulher entre parênteses tinha algo a dizer, mas jamais aos gritos, jamais com ênfase, jamais invocando uma reação. Ela havia sido adestrada para falar para dentro, apenas consigo mesma. Tudo muito elegante. Aos poucos, no entanto, ela passou a perceber que viver entre parênteses começava a sufocá-la. Ela mantinha suas verdades (e suas fantasias) numa redoma, e isso a livrava de uma existência vulgar, mas que graça tinha? Resolveu um dia comentar sobre o assunto com o marido, que achou muito estranho ela reivindicar mais liberdade de expressão. Ora, manter-se entre parênteses era um charmoso confinamento. Minha linda, você é uma mulher que guarda a sua alma. Um dia ela acordou e descobriu que não queria mais guardar a sua alma. Não queria mais ser um esclarecimento oculto. Ela queria fazer parte da confusão. Mas, minha linda... E não quis mais, também, aquele homem entre aspas.

*Jornalista, escritora, aforista e poetisa brasileira 
Género literário - Crónicas e Romance


*E estilista!
Martha Medeiros insere o trabalho handmade com extrema sofisticação no mercado de moda internacional e resgata o valor da renda brasileira com uma linguagem contemporânea, criando vários tipos de personalidade:
- Romântica
- Sensual
- Profissional

segunda-feira, 21 de julho de 2014

AS PRIMEIRAS-DAMAS DE PORTUGAL - 6




Maria dos Prazeres Martins Bessa Pais
4ª Primeira-Dama de Portugal


Nasceu em Amarante a 29 de Dezembro de 1867.
Era a mais nova de quatro filhos do negociante Vitorino Ferreira Bessa, antigo depositário dos tabacos (detinha o exclusivo do Depósito da Companhia dos Tabacos de Portugal), natural de Penafiel e de Bernardina Joaquina Pinto Martins, natural de Valença do Minho.

Em 1893, na sua terra natal, conhece Sidónio Bernardino Cardoso da Silva Pais, 5 anos mais novo, quando ali foi colocado no 2.º Grupo do Regimento de Artilharia nº 4. O reencontro com Aníbal Martins Bessa, licenciado em direito, condiscípulos em Coimbra, facilitou o contacto.


Sidónio deixou-se ”enlaçar” pela fama de S. Gonçalo ser promotor do casamento de mulheres menos jovens e a “donzela discreta, amável, generosa, recatada, de feições misteriosas”, que tocava piano e conhecia bem os lavores domésticos, acabou por seduzi-lo.



Casaram em 1895,  com regime de separação de bens.
O casal fixou residência em Coimbra,  num edifício de 3 pisos, situado perto da Sé Velha e do “palacete” da Portela, onde vivia o tio materno da noiva, um dos promotores da carreira universitária de Sidónio.

Do casamento nasceram 5 filhos:
1896 - Sidónio Bessa da Silva Pais.
Casou com Isabel Maria da Costa de Sousa de Macedo de Freitas Branco. 
1897 - António Bessa da Silva Pais
1899 - Maria Sidónia Bessa da Silva Pais
Casou com Mário Augusto Gomes Cardoso, médico
1901 - Afonso Bessa da Silva Pais.
1902 - Pedro Bessa da Silva Pais

1907 - Sidónio Pais foi ainda pai de Maria Olga, filha de Ema Manso Preto, cuja paternidade assumiu mas não perfilhou por a mãe ser casada com Álvaro Augusto Pinto Ribeiro, residente na cidade do Funchal. Quando ficou viúva, a filha poderia deixar de permanecer com registo de filiação incógnita mas a relação com Sidónio já tinha terminado por incompatibilidade de feitios.



Pela leitura dos traços grafológicos, Sidónio revelava energia vital, forte impulso sexual, sensualidade, sinceridade, capacidade de decisão, iniciativa, organização, sentido de observação, autoritarismo contraditório, relativa introversão, timidez aparente e um grande elenco de sentimentos tambem contraditórios (alegria, tristeza, ansiedade, orgulho, satisfação, arrependimento, culpabilidade).

Em Fevereiro de 1904 houve um sumptuoso baile promovido pelo Grémio Literário Recreativo que reuniu as pessoas elegantes de Coimbra. Entre elas encontrava-se também Sidónio e Maria dos Prazeres. Mas nunca mais, em todas as outras realizações efectuadas pela Agremiação ao longo do ano, se fez qualquer referência ao casal.

- "Estou separado da minha mulher", que continua a viver em Coimbra, mas nunca me faltam companhias femininas. A condessa de Ficalho é, sem dúvida, a mais frequente.

Maria dos Prazeres, sobretudo a partir de 1905, passou a evitar a presença em festas e eventos sociais devido aos “arrebatamentos públicos" que o marido ostentava com Ema Manso Preto durante a época balnear, quer junto ao rio Mondego quer junto ao mar, na Figueira da Foz ou Buarcos.
Foi nesta altura que, contra tudo e contra todos, assumiu o envolvimento com Ema e saiu de casa para ir viver com ela até 1907, ano em que ficou grávida de Maria Olga.


Quando Sidónio Pais (militar e matemático) assume a Presidência da República, na sequência do golpe militar de Dezembro de 1917, Maria dos Prazeres permanece em Coimbra, cidade onde o casal se fixara pouco depois do casamento.
Não participa em qualquer acto público nesse período.




A 14 de Dezembro de 1918, Sidónio é assassinado em Lisboa.


No dia seguinte ao assassinato de Sidónio Pais, desloca-se pela primeira e última vez ao Palácio de Belém, onde o corpo do marido está em câmara ardente. 
Nenhum presidente da 1 ª República foi tão amado e odiado como Sidónio Pais. 

José Júlio da Costa, natural de Garvão, foi quem matou o Presidente da República, Sidónio Pais.
Nasceu em 1893 no seio de uma família de proprietários considerada abastada para a época. 
Era o segundo filho de sete irmãos. Assentou praça no exército, como voluntário, aos 16 anos em Maio de 1910. Combateu na Rotunda, pela implantação da República, nos dias 4 e 5 de Outubro. Ofereceu-se como voluntário para Timor, Moçambique e Angola, onde recebeu um louvor em 27 de Dezembro de 1914. Deixou o exército a 11 de Abril de 1916 com o posto de Segundo Sargento.
Depois de ter morto Sidónio Pais, foi preso e brutalmente agredido, logo no local. Posteriormente foi levado para a Escola de Guerra onde sofreu novos suplícios. 
Preso, José Júlio da Costa sofreu todo o tipo de agressões, incluindo disparos a meio da noite, para dentro da cela. 
Morreu em Março de 1946, no Hospital psiquiátrico Miguel Bombarda, em Lisboa, com 52 anos de idade, após 28 anos de prisão e sem nunca ter sido julgado.

É impossível falar-se da cultura musical portuguesa no século XX sem falar da família Freitas Branco, que ao longo de três gerações tem marcado de forma decisiva o panorama musical e cultural do país. 

Do casamento de Sidónio Bessa da Silva Pais com Isabel Maria da Costa de Sousa de Macedo de Freitas Branco, nasceu  Sidónio de Freitas Branco Pais, intelectual e melómano, crítico musical ligado à Ópera de São Carlos.


Isabel Maria da Costa de Sousa de Macedo de Freitas Branco era irmã do célebre maestro e compositor Luís Maria da Costa de Freitas Branco (1890- 1955), professor do Conservatório e do maestro internacional  Pedro   António da Costa de Freitas Branco (1896 - 1963), fundador da Orquestra Sinfónica Nacional.




João de Freitas Branco (1922- 1969) foi  também um dos intelectuais (musicólogo, matemático e compositor) que marcaram o séc. XX em Portugal. Filho de Luís de Freitas Branco e sobrinho de Pedro de Freitas Branco, frequentou e concluiu o curso do Conservatório Nacional de Música, participando em vários recitais. Apesar de ser um bom instrumentista, começou a carreira de crítico e divulgador da música sinfónica, onde desenvolveu uma actividade paradigmática, ainda hoje não superada.


João Maria de Freitas Branco, filho de João de Freitas Branco e neto do compositor Luís de Freitas Branco e do ensaísta e crítico literário Pedro do Nascimento, é filósofo, autor, professor e investigador universitário
Dirige há anos o ciclo “Ópera Vídeo”. É crítico de ópera e autor de vários livros e ensaios.

Bernardo da Costa Sassetti Pais,(1970 - 2012), filho mais novo de Sidónio de Freitas Branco Pais e de Maria de Lourdes da Costa de Sousa de Macedo Sassetti, era bisneto de Sidónio Pais 
Com formação em piano clássico desde os nove anos e experiência em jazz, a sua obra está reproduzida em gravações discográficas como pianista e compositor destacando-se, nomeadamente, em bandas sonoras para cinema
Era também enófilo.
Segundo a família, Bernardo Sassetti estava a fotografar numa falésia, no Guincho, e caiu.

Maria dos Prazeres Martins Bessa Pais morreu no Porto, em 1945, com 77 anos

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sexta-feira, 18 de julho de 2014

"JUDAS ISCARIOTES"... SEM REMORSO

Quando os nossos banqueiros ou o governador do BdP, têm necessidade de assegurar que os bancos portugueses estão de boa saúde, temos boas razões para nos preocuparmos porque, se precisam de dizê-lo, é um mau sinal.
        
A História do Banco do Meu Avô
Por Carlos Paz*

Vamos IMAGINAR coisas…
Vamos imaginar que o meu avô tinha criado um Banco num País retrógrado, a viver debaixo de um regime ditatorial.
Depois, ocorreu uma revolução.
Foi nomeado um Primeiro-Ministro que, apesar de ser comunista, era filho do dono de uma casa de câmbios. Por esta razão, o dito Primeiro-Ministro demorou muito tempo a decidir a nacionalização da Banca (e, como tal, do Banco do meu avô).
Durante esse período, que mediou entre a revolução e a nacionalização, a minha família, tal como outras semelhantes, conseguiu retirar uma grande fortuna para a América do Sul (e saímos todos livremente do País, apesar do envolvimento direto no regime ditatorial).

Continuemos a IMAGINAR coisas…
Após um período de normal conturbação revolucionária, o País entrou num regime democrático estável. Para acalmar os instintos revolucionários do povo, os políticos, em vez de tentarem explicar a realidade às pessoas, preferiram ser eleitoralistas e “torrar dinheiro”.
Assim, endividaram o País até entrar em banca-rota, por duas vezes (na década de 80).
Nessa altura, perante uma enorme dívida pública, os políticos resolveram privatizar uma parte significativa do património que tinha sido nacionalizado.
Entre este, estava o Banco do meu avô.

E, continuando a IMAGINAR coisas…
A minha família tinha investido o dinheiro que tinha tirado de Portugal em propriedades na América do Sul. Como não acreditávamos nada em Portugal, nenhum de nós quis vender qualquer das propriedades ou empatar qualquer das poupanças da família. 
Mas, queríamos recomprar o Banco do meu avô.
Então, viemos a Portugal e prometemos aos políticos que estavam no poder e na oposição, que os iríamos recompensar (dinheiro, ofertas, empregos, etc…) por muitos anos, se eles nos vendessem o Banco do meu avô muito barato.
Assim, conseguimos que eles fizessem um preço de (vamos imaginar uma quantia fácil para fazer contas) 100 milhões, para um Banco que valia 150.
Como não queríamos empatar o “nosso” dinheiro, pedimos (vamos imaginar uma quantia) 100 milhões emprestados aos nossos amigos franceses que já tinham ganho muito dinheiro com o meu avô. Com os 100 milhões emprestados comprámos o Banco (o nosso dinheiro, que tínhamos retirado de Portugal, esse ficou sempre guardado).
E assim ficámos donos do Banco do meu avô. 
Mas tínhamos uma dívida enorme: os tais 100 milhões. Como os franceses sabiam que o Banco valia 150, compraram 25% do Banco por 30 milhões (que valiam 37,5 milhões) e nós ficámos só a dever 70 milhões (100-30=70). Mesmo assim era uma enorme dívida.

Continuemos a IMAGINAR coisas…

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Não será a narração cronológica e subtil dos factos de um verdadeiro enredo…tão antigo quanto actual?


Se os amigos franceses fizeram, ou não, muito dinheiro com o “meu Avô”, não sei, mas foi graças à intervenção de Mário Soares junto de François Mitterrand que o clã Espírito Santo se aliou ao Crédit Agricole para ir a jogo na privatização do BES. E o apoio financeiro do grupo francês foi decisivo para a recuperação do banco, perdido nas nacionalizações de 1975.


Também ninguém pode deixar de constatar que a família cultiva o poder instalado em cada momento. Foi assim com Salazar, Sócrates, Passos Coelho e todos os outros Executivos.
Mas é por Mário Soares que Ricardo Salgado tem uma consideração muito especial…

Um “génio de finança”… com o dinheiro dos outros.

Pelos vistos o génio não chegou para fazer face à quebra da economia em 2008, à crise das dívidas soberanas, à queda da capitalização bolsista, ao crédito delinquente

Mas sobrou o suficiente para extorquir as empresas e aproveitar os negócios oportunos que os governos lhe iam proporcionando, desde os fundos europeus até à chegada do crédito barato, durante 30 anos, sempre a lucrar.
E também para “arranjar uma solução!” para o “Banco do meu avô” que agora está “completamente arruinado”...
Porque, como em todos os outros casos, enquanto a Grande Família ES vai vivendo dos rendimentos escondidos, nós, os contribuintes, reforçaremos o BES porque não acredito que o governo tenha coragem para o deixar cair.

O grande “génio da finança” irá conseguir, uma vez mais, libertar-se do “Banco do meu Avô”, da “Rio do meu Avô”, do “Grupo do meu Avô”, com o dinheiro dos outros.

A capacidade incrível que algumas pessoas têm para praticar delitos!

Os bancos tornaram-se demasiado poderosos na medida em que  influenciam a política, a economia e a cultura; mas porque os políticos são fracos e deixam, perante a inquietante indiferença dos cidadãos!

A ambição comete, em relação ao poder, o mesmo erro que a ganância em relação à riqueza: começa a acumulá-la como meio de felicidade, e acaba a acumulá-la como objetivo.- Charles Colton
Alves Reis  (1898 - 1955), o maior burlão da história portuguesa, deve estar a ser ultrapassado pela enorme máfia de banqueiros/políticos - Caso BPN, BPP, BANIF, BES…

"A geração de banqueiros que dominou Portugal nos últimos 30 anos está a cair. Um a um, por causa de irregularidades, más práticas ou mesmo casos de polícia que alguns admitiam existir mas que nunca se pensou que tivessem tal dimensão. Bancos foram extintos, os prejuízos têm-se acumulado, houve que recorrer à linha de crédito da troika para cumprir rácios e encerraram-se centenas de balcões. 
A pergunta é inevitável: os banqueiros ainda são confiáveis? Ainda lhes podemos entregar o nosso dinheiro e dormir descansados? "- Nicolau Santos


JUDAS ISCARIOTES “era um ladrão, e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava”. João 12.6

Mas arrependeu-se e devolveu o dinheiro...

“E ele, atirando para o templo as moedas de prata, retirou-se e foi-se enforcar.” Mt 27:5


À pergunta deixada no fim, pelo autor do texto: 
- Se esta história em vez de ser IMAGINADA, fosse verdadeira, que fariam ao neto?
Respondo plagiando ainda Nicolau Santos quandoem 11 de Julho de 2014 se refere a Ricardo Espírito Santo, como “O homem que recebeu um presente de 14 milhões”:
- Há cerca de um ano que Ricardo Salgado não devia ser presidente do Banco Espírito Santo
Em meados de 2013, quando se soube que tinha recebido uma comissão de 8,5 milhões de euros de um construtor civil por causa de um qualquer serviço que lhe terá prestado em Angola, nesse mesmo dia o Banco de Portugal deveria tê-lo declarado pessoa não idónea para se manter à frente do banco verde. Era o mínimo. Nos Estados Unidos, uma situação idêntica dá também direito a prisão, com punhos algemados e as televisões a filmarem em directo.


Agora há Vitor Bento e outros “bem relacionados”, como João Moreira Rato...


"(...)
Vítor Bento foi um dos mais implacáveis defensores da austeridade sem limites, tentando no fundo dar dignidade e profundidade intelectuais ao Ai aguenta, aguenta de Ulrich, a mais desgraçada e realista avaliação política feita até agora.
(...)
É uma espécie de lei da rolha aplicada ao BES: está tudo bem e não se fala mais nisso.
A família Espírito Santo pode ir brincar para a Comporta descansada e tudo fica entregue a “tecnocratas”, expressão que é só mais uma fraude de Passos Coelho."

E numa entrevista ao Diário de Notícias em junho de 2005, era já então presidente da SIBS, foi talvez o primeiro a usar a expressão hoje celebrizada e usada quase à exaustão: "os portugueses estão a viver muito acima das suas possibilidades"- Ladroes de bicicletas, blog





João Moreira Rato, Presidente do Instituto de Gestão do Crédito Público (IGCP) passa a ser, aos 42 anos, administrador financeiro do BES.
geriu o fundo de investimento Nau Capital juntamente com o fundador e gestor João Salgado Poppe que é sobrinho de Ricardo Salgado e um ex-quadro do BES, onde trabalhou durante 12 anos.
Este fundo era participado pelo BES e acabou por ser adquirido pela Eurofin, um grupo suíço especializado em serviços financeiros que, segundo o Expresso do início de abril, se encontra sob investigação pelo Banco de Portugal
Do currículo faz parte a passagem pelo Goldman Sachs… 
Sim," esse que está em todo o lado - a falência do banco Lehman Brothers, a crise grega, a queda do euro, a resistência da finança a toda a regulação, o financiamento dos défices, a crise das dívidas soberanas na Europa e do sub prime nos EUA até a maré negra do golfo do México!" - Marc Roche


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terça-feira, 15 de julho de 2014

A "PAPOULA" E AS OUTRAS


A Linguagem das flores, também chamada floriografia, foi um meio de comunicação da era vitoriana em que se usava o envio de flores e arranjos florais para transmitir mensagens.
A flor, cor e aroma eram considerados factores importantes. As pessoas respondiam "sim" oferecendo uma flor com a mão direita e "não" com a esquerda. 
Presentear com flores e aromas era uma prática realizada tanto por homens como por mulheres.


Quando a Rainha Victoria e o Príncipe Albert se casaram, em 1840, a noiva usou um vestido branco considerado invulgar para a época (excepto entre as mulheres ricas) pelo menos até à Primeira Guerra Mundial. 
Apesar da inovação, a jovem Victoria repetiu uma simbologia tradicional ao usar uma tiara de botões de flor-de-laranjeira, costume supostamente oriental e trazido para a Europa pelos Cruzados durante a Idade Média.

E agora poderia divagar sobre esta florigrafia ou muitas outras linguagens de flores mas prefiro distrair-me com uma das minhas formas de expressão.

Para ser linda basta ser flor
Seja simples ou elaborada
Para arranjos ou isolada
Em mensagens codificada
Que jamais perde o fulgor

Flor com listras ou outra flor
Com passarinhos, borboletas
Serão em estilo, vedetas
Pra todos os gostos dilectas
E pousadas do beija-flor


Sentar num banco e respirar
O cheiro das flores do campo
À luz tosca dum pirilampo
Em noites de verão com lampo
É só natureza a exalar

Em apogeu ou declínio
Qualquer flor é marcante
Nas cores, deslumbrante
No perfume, fragrante
Na existência, um desígnio


Gosto do alecrim litorâneo
De gérbera variada
Da camélia avermelhada
Da violeta perfumada
Do rosmaninho espontâneo


As flores não logram enganos
Têm personalidade
Revelam potencialidade
Desafios e sinceridade
Dos sentimentos humanos

                                  

No final da I Guerra Mundial, van Dongen foi descoberto pela classe alta. Pintou então muitos retratos, tornando-se um cronista de 1920 a 1930. Os seus retratos expressivos, semelhanças e paisagens receberam muito apreço e alcançaram o sucesso através da sua coloração única.

 A Papoula - The Poppy, 1919, de Van Dongen

E foi só hoje, ao procurar papoilas, flores de que gosto em primeiro lugar, que descobri o autor desta obra que me acompanha (reprodução) desde os meus 20 anos.
Era frequente perguntarem-me porque não usava mais aquele turbante...(o turbante que nunca tive!)



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sábado, 12 de julho de 2014

QUEM É ANÍBAL CAVACO SILVA? - 4



Alexandra Lucas Coelho foi, em 07 Abril 2014, a vencedora do Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores (APE) com o romance “e a noite roda”.

O Grande Prémio é patrocinado pela Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, pela Câmara Municipal de Grândola, a Fundação Calouste Gulbenkian, a Imprensa Nacional-Casa da Moeda, o Instituto Camões, a Sociedade Portuguesa de Autores.

"A palavra a Alexandra Lucas Coelho, a mulher sem papas na língua. Aliás, agora que falo nisto, acho que está mas é na hora de eu formar um partido, o partido das pessoas sem papas na língua. PPSPM. A Alexandra seria das primeiras pessoas que eu convidaria. Ah mulher valente que não as poupa!"
"Um discurso que levanta muitas pedras e as atira para cima da mesa. Perigosa, perigosa, ela. Alexandra Lucas Coelho, que recebeu o prémio APE pelo romance E a Noite Roda, é bem o exemplo de como são perigosas as mulheres que escrevem"
in Um jeito manso - blog

"Para além de um belo texto sobre a escrita literária, é também uma vigorosa e indignada denúncia das políticas e dos medíocres personagens políticos que hoje mais directamente protagonizam o encaminhamento do país para o desastre" - in triplov blog Informação



Por ALEXANDRA LUCAS COELHO*




Discurso de  Alexandra Lucas Coelho na cerimónia de entrega do prémio APE pelo seu romance "E a Noite Roda".

«Quero agradecer em primeiro lugar à equipa da Tinta-da-china, minha casa, Bárbara Bulhosa, Inês Hugon, Vera Tavares, Madalena Alfaia, Rute Dias, Pedro Serpa.
Agradeço em seguida…
(…)
Este prémio é tradicionalmente entregue pelo Presidente da República, cargo agora ocupado por um político, Cavaco Silva, que há 30 anos representa tudo o que associo mais ao salazarismo do que ao 25 de Abril, a começar por essa vil tristeza dos obedientes que dentro de si recalcam um império perdido.
E fogem ao cara-cara, mantêm-se pela calada. Nada estranho, pois, que este presidente se faça representar na entrega de um prémio literário. Este mundo não é do seu reino. Estamos no mesmo país, mas o meu país não é o seu país. No país que tenho na cabeça não se anda com a cabeça entre as orelhas, “e cá vamos indo, se deus quiser”.
Não sou crente, portanto acho que depende de nós mais do que irmos indo, sempre acima das nossas possibilidades para o tecto ficar mais alto em vez de mais baixo. Para claustrofobia já nos basta estarmos vivos, sermos seres para a morte, que somos.
Partimos então do zero, sabendo que chegaremos a zero, e pelo meio tudo é ganho porque só a perda é certa.
O meu país não é do orgulhosamente só. Não sei o que seja amar a pátria. Sei que amar Portugal é voltar do mundo e descer ao Alentejo, com o prazer de poder estar ali porque se quer. Amar Portugal é estar em Portugal porque se quer. Poder estar em Portugal apesar de o governo nos mandar embora. Contrariar quem nos manda embora como se fosse senhor da casa.
Eu gostava de dizer ao actual Presidente da República, aqui representado hoje, que este país não é seu, nem do governo do seu partido.
É do arquitecto Álvaro Siza, do cientista Sobrinho Simões, do ensaísta Eugénio Lisboa, de todas as vozes que me foram chegando, ao longo destes anos no Brasil, dando conta do pesadelo que o governo de Portugal se tornou: Siza dizendo que há a sensação de viver de novo em ditadura, Sobrinho Simões dizendo que este governo rebentou com tudo o que fora construído na investigação, Eugénio Lisboa, aos 82 anos, falando da “total anestesia das antenas sociais ou simplesmente humanas, que caracterizam aqueles grandes políticos e estadistas que a História não confina a míseras notas de pé de página”.
Este país é dos bolseiros da FCT que viram tudo interrompido; dos milhões de desempregados ou trabalhadores precários; dos novos emigrantes que vi chegarem ao Brasil, a mais bem formada geração de sempre, para darem tudo a outro país; dos muitos leitores que me foram escrevendo nestes três anos e meio de Brasil a perguntar que conselho podia eu dar ao filho, à filha, ao amigo, que pensavam emigrar.
Eu estava no Brasil, para onde ninguém me tinha mandado, quando um membro do seu governo disse aquela coisa escandalosa, pois que os professores emigrassem. Ir para o mundo por nossa vontade é tão essencial como não ir para o mundo porque não temos alternativa.
Este país é de todos esses, os que partem porque querem, os que partem porque aqui se sentem a morrer, e levam um país melhor com eles, forte, bonito, inventivo. 
(...)
Este país é do Changuito, que em 2008 fundou uma livraria de poesia em Lisboa, e depois a levou para o Rio de Janeiro sem qualquer ajuda pública, e acartou 7000 livros, uma tonelada, para um 11º andar, que era o que dava para pagar de aluguer, e depois os acartou de volta para casa, por tudo ter ficado demasiado caro. Este país é dele, que nunca se sentaria na mesma sala que o actual presidente da República.
E é de quem faz arte apesar do mercado, de quem luta para que haja cinema, de quem não cruzou os braços quando o governo no poder estava a acabar com o cinema em Portugal. Eu ouvi realizadores e produtores portugueses numa conferência de imprensa no Festival do Rio de Janeiro contarem aos jornalistas presentes como 2012 ia ser o ano sem cinema em Portugal. Eu fui vendo, à distância, autores, escritores, artistas sem dinheiro para pagarem dívidas à segurança social, luz, água, renda de casa. E tanta gente esquecida. E ainda assim, de cada vez que eu chegava, Lisboa parecia-me pujante, as pessoas juntavam-se, inventavam, aos altos e baixos.
Não devo nada ao governo português no poder. Mas devo muito aos poetas, aos agricultores, ao Rui Horta que levou o mundo para Montemor-o-Novo, à Bárbara Bulhosa que fez a editora em que todos nós, seus autores, queremos estar, em cumplicidade e entrega, num mercado cada vez mais hostil, com margens canibais.
Os actuais governantes podem achar que o trabalho deles não é ouvir isto, mas o trabalho deles não é outro se não ouvir isto. Foi para ouvir isto, o que as pessoas têm a dizer, que foram eleitos, embora não por mim. Cargo público não é prémio, é compromisso.
Portugal talvez não viva 100 anos, talvez o planeta não viva 100 anos, tudo corre para acabar, sabemos. Mas enquanto isso estamos vivos, não somos sobreviventes.»


Perante as criticas de Alexandra Lucas Coelho a Cavaco Silva e ao governo PSD/CDS-PP, que acusou de mandar embora os portugueses como se fosse “senhor da casa”, Jorge Barreto Xavier hostilizou a escritora, afirmando que a mesma deveria “estar grata por estarmos em democracia” e por" poder dizer o que disse e que deveria agradecer ao governo pelo prémio que estava a receber".

"Barreto Xavier, um sujeitinho pequenino e infantilmente primariozinho, na entrega do Prémio à Escritora e Jornalista Alexandra Lucas Coelho", in Um jeito manso - blog






Na foto (arquivo): O Presidente da Republica, Cavaco Silva, entrega o Grande Premio Gazeta as jornalistas Cândida Pinto (c) e Alexandra Lucas Coelho, na cerimonia realizada nas ruinas do Convento do Carmo, Quarta-feira, 13 de Setembro de 2006, em Lisboa.
João Relvas/ lusa



*Alexandra Lucas Coelho nasceu em Dezembro de 1967, estudou teatro e trabalhou na rádio durante 10 anos. É jornalista do Público desde 1998. Recebeu prémios de reportagem pelo Clube Português de Imprensa, Casa da Imprensa e o Grande Premio Gazeta em 2005.
Publicou quatro livros de reportagem/viagem: Oriente PróximoCaderno AfegãoViva México eTahrir  – os três últimos publicados no Brasil pelas editoras Tinta Negra, Tinta da China Brasil e Língua Geral, respectivamente.
É a autora do blogue Atlântico Sul onde vai colocando as suas crónicas, escritas originalmente para o jornal Público 
Estava onde o mundo parecia mudar: Moscovo, Afeganistão, México, Israel, Palestina, Egito, Brasil. 
Mora no Alentejo.

E muito possivelmente será filha de um dos irmãos (Eduardo, Ernesto António, Carlos Maria ou João Manuel) de Maria E de M Lucas Coelho D da F., minha colega de turma na Escola Regional do Colégio da Cerdeira. 
Porém, não encontro qualquer referência aos ascendentes...

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