Gosto da facilidade com que domina as palavras. E partilho.
Viva hoje!
Arrisque hoje!
Faça hoje!
Não se deixe morrer lentamente
Por Martha Medeiros*
Uma mulher entre parênteses. Tinha
algo a dizer, mas jamais aos gritos, jamais com ênfase, jamais invocando uma
reação. Era como ela catalogava as pessoas: através dos sinais de pontuação.
Irritava-se com as amigas que terminavam as frases com reticências... Eram
mulheres que nunca definiam suas opiniões, que davam a entender que poderiam
mudar de ideia dali a dois segundos e que abusavam da melancolia. Por outro
lado, tampouco se sentia à vontade com as mulheres em estado constante de
exclamação. Extra, extra! Tudo nelas causava impacto! Consideravam-se mais
importantes do que as outras! Ela, não. Ela era mais discreta. A mais discreta
de todas. Também não era do tipo mulher dois pontos: aquela que está sempre
prestes a dizer uma verdade inquestionável, que merece destaque. Também não era
daquelas perguntadeiras xaropes que não acreditam no que ouvem, não acreditam
no que veem e estão sempre querendo conferir se os outros possuem as mesmas
dúvidas: será, será, será?Ela
possuía suas interrogações, claro, mas não as expunha . Era uma mulher entre parênteses. Fazia parte do universo, mas vivia
isolada em seus próprios pensamentos e emoções. Era como se ela fosse um
sussurro, um segredo. Como uma amante que não pode ser exibida à luz do dia. Às
vezes, sentia um certo incômodo com a situação, parecia que estava sendo
discriminada, que não deveria interagir com o restante das pessoas por possuir
algum vírus contagioso. Outras vezes, avaliava sua situação com olhos mais
românticos e concluía que tudo não passava de proteção. Ela era tão especial
que seria uma temeridade misturar-se com mulheres óbvias e transparentes em
excesso. A mulher entre parênteses tinha algo a dizer, mas jamais aos gritos,
jamais com ênfase, jamais invocando uma reação. Ela havia sido adestrada para
falar para dentro, apenas consigo mesma. Tudo muito elegante. Aos poucos, no
entanto, ela passou a perceber que viver entre parênteses começava a sufocá-la.
Ela mantinha suas verdades (e suas fantasias) numa redoma, e isso a livrava de
uma existência vulgar, mas que graça tinha? Resolveu um dia comentar sobre o
assunto com o marido, que achou muito estranho ela reivindicar mais liberdade
de expressão. Ora, manter-se entre parênteses era um charmoso confinamento.
Minha linda, você é uma mulher que guarda a sua alma. Um dia ela acordou e
descobriu que não queria mais guardar a sua alma. Não queria mais ser um
esclarecimento oculto. Ela queria fazer parte da confusão. Mas, minha linda...
E não quis mais, também, aquele homem entre aspas.
*Jornalista, escritora, aforista e poetisa brasileira
Género literário - Crónicas e Romance
*E estilista!
Martha Medeiros insere o trabalho handmade com
extrema sofisticação no mercado de moda internacional e resgata o valor da
renda brasileira com uma linguagem contemporânea, criando vários tipos de personalidade:
- Romântica
- Sensual
- Profissional
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